Jorge Lucki em Brasília

Mais uma vez, o casal Deise Lima e Fernando Rodriues (proprietários da Grand Cru Brasília), proporcionou uma noite de gala, na loja da cidade. Trouxeram nada menos que Jorge Lucki, colunista da revista Prazeres da Mesa, Jornal Valor, palestrante e um dos maiores conhecedores de vinho do mundo. Sem exagero.
O evento foi uma degustação, em que vinhos italianos foram harmonizados com pratos, especialmente criados pela excelente chef da casa, Andrea Munhoz. A loja da Grand Cru, aqui de Brasília, é a mais bela e aconchegante das que conheço da rede. Possui uma decoração de muito bom gosto, poltronas de couro, sala vip e um bistrot acoplado. Lugar ideal para uma noite prezerosa, escoltada pela excelente palestra do Jorge Lucki, que mais uma vez deu um show de conhecimento e simplicidade. 

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O evento seguiu a seguinte ordem: 

1- Vino dei Poeti Prosecco Brut, do produtor Bottega, Veneto, de boas vindas.
2- Trio Mediterrâneo-camarão, mexilhão e polvo (nunca havia comido um polvo nessa textura, perfeito) ao pesto genovês. Harmonizado com Marquesi di Frescobaldi Attems Pinot Grigio 2007.
3- Gnocchi ao Ragu de Javali e Pancetta, escoltado por um Brunello di Montalcino Colombini 2003.
4- Filé de Cabrito ao molho de Funghi fresco e Porcini, e trufa acompanhado de polenta. O vinho escolhido foi um Allegrini La Poja 2004, do Veneto.
5- Pêssegos com Amaretto e chocolate com Tenuta Sant´Antonio Passito Colori d´Autunno 2001.

Com serviço competente e eficaz, comandado pelo Lázaro, todos da Grand Cru Brasília estão de parabéns por mais esse evento de qualidade. Ficamos na torcida, por novos eventos desse nível na cidade.

Fotos (da esq.p/dir.) foto 1, também da esq.p/dir.: André,Diniz,Jorge,Eugênio e Ricardo. Foto 2: Vinhos na sequência do serviço. Foto 3: Sommelière Eliane Burin, Fernando Rodrigues e Jorge Lucki.

Château Pavie, Parker e desavenças

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Há muito, tinha lido uma matéria na revista Gula (edição 181, Novembro/07), intitulada “Ponto para Parker”. A reportagem se referia a uma antiga assessora, chamada Hanna Agostini, que em 2003, quando trabalhava para ele, foi flagrada manipulando assinaturas do chefe, para favorecer uma empresa, para a qual prestava consultoria. O caso (que ficou conhecido como Geens) foi parar nos tribunais franceses, a assessora foi demitida, e tentou lançar um livro que foi recusado por várias editoras européias de renome.

Na mesma reportagem, o autor, Guilherme Rodrigues, hoje na revista Gosto, comentava sobre uma degustação, às cegas, de vinhos da margem direita de Bordeaux, safra 2001, ocorrida em Londres. Jancis Robinson, Steven Spurrier, James Suckling, Neal Martin (da equipe de degustadores de Parker) e outros críticos ingleses, provaram em torno de 140 garrafas, dentre elas Petrus, Le Pin, La Fleur, Ausone, Cheval Blanc… E Pavie.

Sabe-se que a crítica inglesa não gosta do Pavie, e que Parker o adora. A intriga ficou mais acirrada, quando Jancis Robinson deu uma nota baixíssima para a safra 2003, e Clive Coats (outro Master of Wine) disse: “Qualquer pessoa que ache que esse é um vinho de qualidade, precisa de um transplante de cérebro e palato”, para a mesma safra. Já Parker tinha dado uma nota alta para essa colheita. O impasse estava gerado.

A degustação foi organizada pelo negociante Farr Vintners, e como já dito, contou com os melhores vinhos de Pomerol e St.Emilion safra 2001. A atmosfera era anti-Pavie, havia até degustador com cópia da Wine Advocate em mãos, e a pontuação do Parker para o vinho. Para surpresa dos ingleses, ao final, anunciado o vinho vencedor: Pavie Campeão. Os críticos ingleses, que tanto discordavam do Parker, principalmente em relação a esse vinho, o elegeram o melhor das 140 amostras. Segundo Neal Martin, isso gerou um grande incômodo na sala de degustação, fortalecendo a posição de Parker.robert-parker-192_668441eAgradecimentos ao Guilherme Rodrigues, que me forneceu o link sobre essa degustação: http://dat.erobertparker.com/bboard/showthread.php?

t=147228&highlight=farr+vintner+pavie+2001

Foto Parker: GETTY/AFP.

Prelúdio 2007

preludio07Prelúdio 2007, Campos de Cima da Serra, Brasil. Vinho tinto, 12,7% de teor alcoólico, 70% Merlot, 20% Cabernet Sauvignon e 10% Cabernet Franc. Adquirido diretamente da vinícola: Tormentas – www.tormentas.com.br . Um vinho 100% natural, livre da madeira e do SO2 (dióxido enxofre). R$ 40,00.

Silex, Didier Dagueneau!

Quando um vinho parece ser uma coisa, e é outra muito melhor, um sorriso se estampa no rosto, a mente viaja por universos distantes, e a alma, inebriada, agradece ter tido o prazer de conhecer aquele líquido. Foi esse o prazer que tive ao conhecer o Silex, o vinho top do saudoso Didier Dagueneau, na companhia dos amigos Guilherme (do blog Um papo sobre vinhos) e Edinho (Restaurante Dom Francisco).

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Didier Dagueneau era conhecido como o “selvagem do Loire”, e seu melhor vinho, o Silex, talvez o melhor vinho do Alto Loire. Ele não era uma pessoa bem quista pelas autoridades locais, que parecia fazer questão de desafiar. Sua vinificação combinava intuição, senso de observação e perfeito entendimento de enologia moderna. O nome do vinho provém dos solos argilosos, ricos em sílica, em que as velhas videiras estão plantadas.

O Silex tomado era da safra 2004, 100% sauvignon blanc, com 12% de teor alcoólico. O vinho é fermentado em barrica de carvalho novo, assim como seu outro vinho, o Pur Sang (nome em homenagem aos cavalos que usava para arar o vinhedo), o que lhe confere um toque de baunilha nada enjoativo. Ele mostra uma cor não muito carregada, amarelo palha, com aromas de flores, além da já citada baunilha. Na boca, uma untuosidade tremenda, circundada por uma mineralidade perfeita e inesperada acidez cortante. Um vinho complexo, para uns 20 anos de guarda. 

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Um brinde a Didier Dagueneau, que no dia 17 de Setembro de 2008, aos 52 anos, nos deixou órfãos de seus maravilhosos vinhos, devido a um acidente de ultraleve.

Vinhos baratos de mercado? Por que não!

No mês passado fui a um dos hipermercados da Cidade para ver se minha tese teria sucesso, ou não. A ideia era trazer de lá um lote de vinhos de baixo custo (mas aceitáveis sob ponto de vista enológico, óbvio), que coubessem no bolso de um possível cliente não acostumado com a bebida.


Saí de casa sem pretensão alguma com relação a quaisquer tipos de vinhos que encontraria, e lógico, me desprovi de todo preconceito que pudesse existir. Como na maioria dos mercados do País, a seção de vinhos ocupa uma ala com duas grandes prateleiras de 15-20m, dispostas uma defronte à outra. O resultado da experiência mostrou que, ao contrário do que possa parecer, existe sim, boas ofertas e diversidade nas prateleiras dos mercados. Basta ter paciência e um pouco de conhecimento, e partir para compra. Vejam o resultado desta minha incursão: consegui garimpar sete boas aquisições, na relação custo/benefício. Todos na faixa dos 25 reais, exceto um de 51,00.

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Ressalvadas as condições, eles se saíram ótimos vinhos de mesa. Para o dia-a-dia não fazem feio a nenhum prato de comida, além de manter a chama da tradição: “vinho-comida”, eternamente acesa! Em tempo: não esqueçam que os mercados comercializam também muitos rótulos de grandes marcas, com preços compativelmente mais caros. Alguns com preços até quatro dígitos.

Vamos à relação da foto (começando da esquerda): Casas del Maipo carménère 08, Chile – 18,00 (84pts); Chianti DOCG Club Sommeliers 07, Itália – 27,00 (84pts); Viña Maipu Roble malbec 06, Argentina – 30,00 (83pts); Aliança Foral Douro 07, Portugal – 20,00; Don Elias Res. Cab.Sauvignon 07, Chile – 17,00; Crasto Douro 07, Portugal – 51,00 (86pts); e Condor Peak Malbec 07, Argentina – 23,00 (88pts).

Agora tente você também a experiência, e saia do mercado de sacola cheia, sem gastar aquela fortuna!

Vinhos da Expand

   Há alguns dias, o Decantando a Vida teve o prazer de participar de uma degustação dos vinhos da importadora Expand, que vem se reestruturando, e apresentando novos e interessantes rótulos. A degustação foi conduzida de forma simples e descontraída, pelo sommelier da importadora, Daniel Mistico. Vale citar o competente trabalho realizado pelo José Carlos e Walmir Reis, parceiros Expand Brasília, que ajudaram na seleção dos vinhos, e convidaram enófilos, sommeliers, chefs, e funcionários de restaurantes. Os vinhos foram os seguintes (em ordem de serviço):
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1-Insólia Cusumano I.G.T 2006 – Branco, R$ 45,00 – 84 pts.
      Branco da Sicília, boa acidez e delicioso cítrico, lembrando laranja e/ou limões italianos, com bastante tipicidade. Ótima opção de uso da uva autóctone insólia.
2-Renato Ratti Dolcetto D´Alba 2007, R$ 78,00 – 86 pts.
      Antigo conhecido. Belo representante dos dolcettos italianos. Aromas café e compotas. Boa estrutura, sem taninos, ótimo p/ refeição. Cor violáceo/rubi.
3-Braida Il Monello Barbera del Piemonte 2006, R$  58,00 – 85 pts.
      Acidez presente, com médio corpo. Aroma alcoólico, com torrefação e cerejas frescas.
4-Côtes Rhône Rouge E. Guigal 2004, R$ 68,00 – 89 pts.
      Aroma compota ameixas e frutas secas, até mel. Boca harmoniosa combinando o leve carvalho e os taninos sutis, com grande personalidade. Elegância de grande sabor. Excepcional compra!
5-Chateau David Bordeaux Superieur 2005, R$  52,00 – 88 pts.
      Aroma frutas vermelhas e suave mentolado. Um Bordeaux com ótima relação custo/benefício, provando que a safra 2005 realmente produziu bons vinhos, mesmo nas casas não tradicionais. Deve ser comprado em caixas!
6-Quinta Seara D´Ordens Touriga Nacional 2004, R$ 115,00 – 91 pts.
      Cor rubi e nuances tijolo. Aromas frutas secas e café. Grande nome da casta Touriga. Estruturado e com forte personalidade. Excepcional vinho para acompanhar um boa refeição. O melhor da tarde!
7-Renato Ratti Barolo Marcenasco 2004, R$ 298,00 – 90 pts. (curiosamente a safra 2005 está estonteante: 96pts WS).
      Um Barolo de “responsa”, mas não totalmente aberto para esta safra. Mostrou ter personalidade e sendo tomado em até três anos deve evoluir bastante. Um rubi maravilhoso, com médio corpo e tânico ao paladar. No momento a ampola deve acompanhar um bom Ossobuco stufatto ou Moussáka grego; em três anos, qualquer prato da culinária internacional.

 

Bahans Haut-Brion morreu!!!

Mais uma vez tive a oportunidade de tomar esse grande vinho chamado Bahans Haut-Brion, safra 2004. O Bahans é o segundo vinho do Chateau Haut-Brion, que é o único premier cru classé bahans 2de Pessac-Léognan, na classificação do Médoc de 1855. As uvas que fazem parte do corte do Bahans são cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc, e a proporção varia a cada ano, dependendo da qualidade da colheita de cada uma destas castas. Esse tem 73% de c.s, 22% merlot e 5% c.franc.

Possui uma cor ainda bem escura com aromas de ameixa, chocolate e madeira tostada que lembra café. Um vinho que marca pela elegância, médio corpo, sem aquele excesso de madeira e menta que encontramos na maioria dos vinhos do novo mundo. Um vinho de classe, de uma safra sem muita badalação em Bordeaux, e por isso mesmo, não tem preço estratosférico. Ainda vai crescer com a guarda, mas que hoje já proporciona imenso prazer.

Uma curiosidade é que esse vinho deixou de existir, pelo menos com esse nome. O Chateau Haut-Brion, que produz o vinho, foi adquirido em 1935 por um banqueiro norte-americano chamado Clarence Dillon. Em primeiro de agosto desse ano(2009), seu bisneto, o príncipe Robert de bahans 1Luxemburgo assumiu a presidência do Domaine Clarence Dillon (empresa que controla algumas propriedades em Bordeaux, incluindo o Haut-Brion), e anunciou que esse vinho à partir da safra 2007, se chamará “Le Clarence de Haut-Brion”, em homenagem ao bisavô. O vinho não sofreu  mudança só de nome, o rótulo também foi mudado, se parecendo bastante com o do primeiro vinho da casa, e a garrafa deixou de ser aquela de formato clássico Bordeaux, sendo engarrafado na mesma do Haut-Brion.

Alguém já adquiriu uma garrafa dessa nova roupagem ?