Em um jantar especial, tive a oportunidade de realizar um sonho no mundo do vinho, que foi tomar o vinho branco mais mítico de todos. O ouro líquido engarrafado, Montrachet. Esse vinho é considerado o Romanée-Conti dos brancos.
Montrachet é um vinhedo de praticamente 8 hectares em que 4,01 hectares ficam em Puligny-Montrachet e 3.99 em Chassagne-Montrachet. O lado de Puligny é conhecido como Montrachet e o lado de Chassagne como Le Montrachet, que na prática não facilita muito, pois quase todos os produtores engarrafam sob o rótulo de Montrachet apenas.
O Montrachet que bebi era o Marquis de Languiche produzido por Joseph Drouhin. A família do Marquês de Languiche tem 2,06 hectares em uma única parcela, fazendo dela a maior e mais larga propriedade contínua em Montrachet. A terra pertence a família do Marquês desde o século 18, mas desde 1947 a família Drouhin comercializa os vinhos. Funciona assim: Languiche cuida das vinhas e Drouhin da colheita e vinifica em sua instalação em Beaune. Embora os vinhos sejam engarrafados sob o rótulo Drouhin, o nome Marquis de Languiche também aparece em destaque.
O vinho apreciado foi o Marquis de Languiche 1984 ! Isso mesmo 1984! Confesso que estava meio apreensivo quanto ao vinho estar bom ou não, vinho branco com 25 anos de idade não é qualquer um que resiste. O sommelier ao extrair a rolha com o abridor convencional, a partiu ao meio, por sorte ele conseguiu retirar o restante da mesma sem ter que empurrá-la para dentro do líquido. Ao despejar o vinho na taça, aquela cor alaranjada, bem carregada, com notas de oxidação que adoro. No nariz, tangerina, chá de casca de laranja, e à medida que o tempo ia passando, defumado, manteiga, pêssego, damasco e mel. Fiquei quase 03 horas tomando esse vinho. Na boca não tinha a acidez da jovialidade, mas era viscoso, denso, gorduroso, muito encorpado, quase que não podia ser legalmente considerado um líquido. Final eterno. Uma obra de arte! Um Renoir, um Monet ou qualquer outro que você prefira, mas uma obra de arte!