Como se deu sua entrada no mundo do vinho e há quanto tempo foi isso?
Comecei desde pequena, tomando vinho com a minha avó, que molhava o pão no vinho e me dava, pois em Curitiba fazia muito frio. Isso fez com que meu olfato e paladar ficassem mais aguçados, acho que desde pequena fui treinada, mesmo que sem querer, pela minha avó, a ser sommelière. Na faculdade fiz Turismo e Hotelaria, pós-graduação em Enogastronomia. Não pensava em ser sommelière, trabalhava com automobilismo, no Stock Car, quando vim para São Paulo e conheci o Manoel Beato, que me deu trabalho no Fasano e me ensinou a maior parte do que sei, e foi a partir disso que virei sommelière de verdade. Viajei o mundo inteiro conhecendo vinícolas, trabalhando na colheita, e hoje trabalho no restaurante Dressing há seis anos que é uma escola também.
Como é sua rotina diária no restaurante?
Minha rotina diária é longa e complexa. Trabalho quase todos os dias das 11:00 às 15:00 e das 19:00 às 24:00. Quase todas as vezes que há cliente tomando vinho eu estou lá. Eu vou à mesa, me apresento como sommelière, ofereço nossa carta de vinhos, e caso ele queira, o ajudo a escolher um vinho. Hoje estou fazendo um trabalho diferenciado, tentando ensinar o cliente que toma um vinho simples, a apreciar vinhos mais complexos. Duas vezes ao mês faço contagem e sou responsável por tudo relacionado ao vinho no restaurante.
Qual a sua opinião sobre a taxa de rolha que alguns restaurantes cobram e outros não?
Eu não sou a favor de se cobrar a taxa de rolha. Os que cobram deveriam cobrar um preço tabelado, e não de acordo com o vinho levado pelo cliente. No restaurante em que trabalho eu não cobro rolha, desde que o cliente tenha o discernimento de não levar 10 garrafas de vinho em um jantar para 10 pessoas sem me avisar. Mesmo nessa situação, eu não vou cobrar a rolha, mas vou informá-lo que na próxima vez teremos que cobrar a taxa. Agora, quando um cliente resolve levar ao restaurante, um vinho dele, é porque ele está com muita vontade de provar aquele vinho, e se eu cobro a rolha eu estou quebrando o prazer dele. Além disso, eu como sommelière, estou perdendo a chance de provar algo que talvez não tenha no meu restaurante, perdendo a oportunidade de aprender com o vinho dele. Não cobrar a taxa faz com que o meu cliente retorne ao restaurante e não necessariamente levando uma garrafa sua. O que tenho verificado é que hoje ele leva, amanhã não, e assim por diante.
Além do restaurante, você é normalmente requisitada para outros trabalhos ligados ao vinho? Quais?
Sim. Eu monto cartas de vinhos para outros restaurantes, há várias cartas minhas em outros restaurantes em São Paulo. Também faço o serviço de personal wine, para clientes que não são tomadores de vinho, mas querem montar uma adega. Eu vou lá indico os vinhos a serem adquiridos, organizo-os em um programa de computador, assessoro na montagem da adega. Outra coisa que eu faço é pegar adegas grandes de 2, 3, 4 mil garrafas, totalmente desorganizadas, e organizá-las, catalogando no programa por nome, região, safra, produtor…Também dou aula de vinho uma vez por mês em uma faculdade em São Paulo, e faço jantares harmonizados, aqui e em outras cidades, como o que fiz aí em Brasília.
Morando em São Paulo, e trabalhando com vinhos, você já deve ter tido a oportunidade de conhecer vinhos fantásticos, que um mero mortal jamais comprará. Qual foi seu vinho inesquecível?
Tem alguns que me recordo agora. Um foi o Petrus 1906, que o Sr. Fabrício Fasano abriu em seu restaurante, e tive a oportunidade de provar. Outro foi o Château Lynch-Bages 1984, que pelas circunstâncias, é o maior vinho da minha vida, e o Porto 1890 tomado em Portugal no alto do Vale do Pinhão, inesquecível.
No mundo do vinho também há decepções. Qual foi o vinho que você provou, que havia aquela expectativa em conhecer, mas que te decepcionou, por não ser o que você esperava, ou por estar defeituoso?
Foi um Château Margaux 1977, ano do meu nascimento, que estava bouchonné.
Como é o relacionamento entre as sommelières de São Paulo? Vocês se encontram, há uma troca de informações ou é meio que cada uma por si?
O relacionamento é bom, mas devido aos horários dos restaurantes, nos encontramos mais em degustações, matérias para revistas e televisão. Temos um bom relacionamento e trocamos informações, mas no meu caso, tenho mais contato com os meninos, pois trabalho em uma rua que tem cinco sommeliers.
Vinhos envelhecidos apresentam, cor, aroma e paladar bem diferentes dos vinhos jovens, que costumam mostrar corpo,álcool,taninos e frutas exuberantes. Tenho visto muita gente procurando vinhos envelhecidos, mas que quando provam, se decepcionam, por não encontrar aquela exuberância contida nos jovens. Você não acha que é necessário um aprendizado para se apreciar vinhos envelhecidos?
Acho que para se apreciar vinhos envelhecidos é necessário que se comece distinguindo velho mundo de novo mundo. Hoje chegam ao mercado uma quantidade enorme de vinhos todos os dias e é impossível se provar tudo, então acho que a pessoa deve começar a aprender a tomar vinho devagarzinho, degustando várias coisas para identificar novo mundo e velho mundo. Passada essa primeira etapa, a comparação se dará entre os vinhos envelhecidos e os não, ambos do velho mundo, pois não há vinhos do novo mundo envelhecidos 40,50 anos como há no velho mundo. Caso contrário a pessoa estará perdendo dinheiro, pagando caro por vinhos de guarda, envelhecidos, e não tendo parâmetros para apreciar esse tipo de vinho.
O Brasil é um país tropical e tem preferência pelo vinho tinto. Você já percebeu que quanto mais a pessoa se aprofunda no mundo do vinho, mais ela tende a preferir os brancos?
Já pois eu mesma estou assim. Cada vez mais vejo que tenho gostado de vinhos mais leves, fáceis e prontos. Não que eu não goste de um grande Bordeaux, robusto, ou um Amarone, mas estou em um momento de apreciar muitas coisas rosés, pinot noir, e mesmo brancos do novo mundo, que são muito aromáticos e prontos.
O que você acha das feiras de vinhos, promovidas pelas importadoras, que vão da feira de vinhos Biodinâmicos-Renaissance des Appelations até uma Expovinis? Em sua opinião, elas servem para aumentar o leque de conhecimento ou só para reencontrar os colegas?
Não acho as feiras de vinhos as coisas mais importantes para você aprender sobre o vinho. Primeiro que há muita gente, e você não consegue ouvir o que o produtor tem a dizer, depois são tantos vinhos que no terceiro estande você já não se lembra do que tomou no primeiro.
Quais seus planos futuros? Continuar trabalhando em restaurante, migrar para uma importadora, abrir uma escola de vinhos ou mesmo mudar de ramo?
Minha realidade futura é abrir um restaurante, em que se usem os cinco sentidos em tudo, e que haja uma sala com uma mesa grande, para se fazer jantares harmonizados e degustações.
O que você achou do evento de lançamento do site Decantando a Vida?
Achei muito legal, pessoas bacanas, interessadas e com bastante conhecimento de vinho. O clima de confraternização e amizade estava ótimo e me diverti bastante. Sucesso ao site e espero voltar em breve.