Todo mundo já passou pela experiência, de ter o rótulo do vinho rasgado ou mesmo enrrugado, ao se retirar o mesmo da adega climatizada ou da geladeira. Na adega, com espaço reduzido entre as gavetas, somado aos formatos mais bojudos de certas garrafas, toda vez que se puxa uma gaveta, os rótulos friccionam na gaveta de cima e muitas vezes a gaveta puxada danifica os rótulos que estão na de baixo. Tanto na geladeira como na adega climatizada, muitas vezes pelo excesso de umidade, os rótulos enrrugam e ficam feios para quem gosta de colecioná-los.
A maneira que encontrei de preservá-los, foi cobrir os rótulos com filme de PVC transparente. Compre um rolo de 15 metros desse filme, ele geralmente tem 28cm de altura, e com um estilete bem afiado, divida-o ao meio, obtendo 2 rolos de 15 metros por 14 cm de altura cada um. Com um dos rolos abrace a garrafa e dê uma volta de 360 graus sobre o rótulo. A garrafa está pronta para ir para adega ou mesmo para geladeira. O rótulo não enrrugará nem será rasgado pelo atrito das gavetas.
Vallontano Tannat 2007
Falar da Vallontano sem falar de seu enólogo é no mínimo enxergar seus vinhos de forma distorcida. Luís Henrique Zanini é um talentoso enólogo e conhecedor dos vinhos mais obscuros que possamos imaginar. Lendo o livro Gosto e Poder, do cineasta sommelier, Jonathan Nossiter temos uma noção de quem é o Zanini. No livro descobri que vários vinhos nacionais de que gostava e achava que tinha conhecido através do Ed Motta, na verdade foram apresentados ao Nossiter pelo Zanini. São vinhos que, quando quero consumir um vinho brasileiro, é atrás deles que eu vou. Para citar alguns exemplos: Angheben, Quinta Ribeira de Mattos, Cave Ouvidor,
Vallontano e Era dos Ventos. São vinhos pouco conhecidos do grande público, mas que se assemelham pela pequena produção e ausência de manipulação para se parecerem com os exemplares Chilenos e Argentinos.
O vinho tomado foi o Vallontano Tannat 2007, que só vai chegar ao mercado, através da Mistral, em maio. A Vallontano é a única vinícola brasileira a constar no portfólio consagrado da Mistral. O vinho tem um corpo médio e não está tão tânico e rústico como outros exemplares da cepa. Bastante aromático e deve fazer frente ao exemplar 2004, que foi o que tornou o vinho conhecido dos enófilos garimpeiros como eu. Postado no www.cafecaviar.com.br/blog/vallontano-tannat-2007/
Porcupine Ridge Cabernet Sauvignon 2007 (Boekenhoutskloof)
Excelente tinto produzido por uma das maiores estrelas da África do Sul. Mostra bastante tipicidade e caráter, com boa presença de boca. R$54,00
Château Chalon 1992
Antes de tudo, Château Chalon não é um château propriamente dito, é uma apelação de 50 hectares na região do Jura, aonde se produz o vinho amarelo (vin jaune), seco, de grande longevidade. Uma curiosidade é que a crise da filoxera do século 19 só chegou à região, décadas depois de ter atingido Bordeaux. O vinho é feito da uva Savagnin que é colhida tardiamente e envelhecida em barris de carvalho por um período mínimo de 6 anos e 3 meses, mas há produtores que mantêm o vinho em barril por até 10 anos.
O carvalho ligeiramente poroso permite a evaporação de cerca de 40% do total do vinho contido no barril. Uma camada grossa de flor de levedura, parecida com uma espuma branca, se forma na superfície e ajuda a evitar a oxidação excessiva. Não há complemento do barril e após o tempo de envelhecimento o vinho é engarrafado em “clavelins” com capacidade de 620 ml. Isso é baseado no fato de que para cada litro de vinho, após o envelhecimento, restam 620 ml.
Esse método de envelhecimento, semelhante ao usado para o Jerez, permite ao vinho adquirir sabores exóticos, e é melhor apreciado após 10 anos em garrafa, ou seja, 16 anos após a safra impressa no rótulo. O vinho é chamado de imortal, durando mais de 100 anos em boas safras.
O vinho tomado foi o Château Chalon do produtor Baud Père et Fils safra 1992, que já tinha tomado alguns anos atrás, e por não estar habituado com esse estilo, desaprovei o mesmo, chegando a dispensar boa parte da garrafa. Agora alguns anos à frente, e bem mais acostumado a esse estilo oxidado, tomei novamente essa mesma safra e me surpreendi com a mudança do meu gosto. O vinho tem uma cor alaranjada, levemente turva, com aromas de mel, amêndoa, nozes e até biotônico. Na boca ele é untuoso, licoroso parecendo que vai ser adocicado, mas não, é bem seco. Um vinho diferente de tudo que se faz por aí, um vinho para curiosos sem preconceito.
As duas primeiras fotos, Chalon 1895 (a última safra antes da filoxera) e foto do barril: Site oficial. Foto do Chalon 1992: Ricardo Salmeron.
A-Mano 2008
A vinícola italiana A-Mano faz tintos e brancos. O vinho tomado foi o A-Mano branco feito de 50% Fiano di Avelino e 50% Greco di Tufo, castas locais da Puglia, no sul da Itália aonde é feito o vinho. A-Mano significa “feito à mão” o que leva a crer no cuidado e esmero dedicado na produção do mesmo. Na verdade as uvas são compradas de pequenos produtores, que mantém vinhas de até 100 anos dessas variedades, e são inspecionadas pelo enólogo canadense Mark Shannon, que trabalhou na Califórnia, junto a sua esposa, a italiana Elvezia Sbalchiero.
O clima mediterrâneo, aliado a tradição vinícola da Puglia, produziram um vinho leve, com ótimo frescor e corpo médio. Não passa por madeira nem por fermentação malolática. Perfeito para os dias de calor que costumam ocorrer em nosso país. A Puglia é uma região que vale a pena acompanhar, pela crescente qualidade de seus vinhos, aliada a preços muito competitivos.
Matéria postada originalmente no blog do site www.cafecaviar.com.br.
Novidades da Expand
A importadora Expand vai dando sinais de recuperação, após perder vários rótulos de seu selecionado catálogo. O Decantando a Vida esteve presente na degustação promovida pela importadora, para apresentar alguns dos novos rótulos de seu portfólio.
Os vinhos apresentados eram todos chilenos, da Viñedos y Bodegas Corpora, que traz os rótulos Rio Bio, Augustinos, Don Arturo e Mai. São vinhos mais simples, chamados de vinhos do dia-a-dia, que chegam para brigar no setor, com vinhos da mesma faixa de preço.
O encontro foi organizado pelo braço da Expand-Brasília, representada por José Carlos e Walmir Reis e contou com a presença de Alfredo Teixeira da área comercial da importadora, que veio exclusivamente para o evento.
Esperamos que a Expand se reestruture por completo e continue nos oferecendo os vinhos de qualidade que ela sempre nos ofertou. Na foto da esq. para direita: José Carlos e Walmir Reis (Expand Brasília), Alfredo Teixeira (Comercial-Expand São Paulo) e Petrus Elesbão (Amicus Vinum).
Angélica Zapata Cabernet Franc 2004
Angelica Zapata Cabernet Franc, antes destinado exclusivamente ao mercado argentino. Elaborado com uvas dos vinhedos Altamira e La Pirámide, de baixíssimos rendimentos, mostra um estilo que lembra alguns dos famosos vinhos de St Emilion em Bordeaux, com uma pronunciada elegância. Um vinho de longa guarda, que deve ficar ainda mais fino após alguns anos em garrafa. R$77,00
Campo Eliseo 2003
Essa semana resolvi falar de um vinho espanhol pouco falado por aqui, mas de grande categoria, como vários outros espanhóis. O vinho em questão é o Campo Eliseo, feito a quatro mãos pelos irmãos Jaques e Françõis Lurton e o casal Dany e Michel Rolland. Hoje, Jaques Lurton deixou a sociedade, restando seu irmão.
Em 2000 eles decidiram unir suas experiências de enólogos internacionais, para produzir um vinho de alta gama na região espanhola de Toro, vizinha a Ribera del Duero, no noroeste da Espanha. Nas palavras dos enólogos: “Decidimos elaborar juntos esse vinho em Toro, por essa região reunir todos os elementos que propiciam uma grande uva; solos pobres, mas bem drenados, com camadas profundas de cascalho, que muitas vezes podem chegar a cinco metros de profundidade, depositados pelo rio vizinho, e um subsolo de argila que retém perfeitamente a umidade.”
O vinho é feito 100% de Tinta de Toro (como é chamada a Tempranillo nessa região), de vinhas de 40 anos. Passam de 16 a 18 meses na barrica, antes de serem engarrafados sem filtração, e só são feitas 15.000 garrafas por ano. Eles também fazem um segundo vinho chamado Campo Alegre, mas esse nunca provei. Campo Eliseo significa “campos benditos” ou “campos abençoados” em português.
Abençoado será quem tiver a oportunidade de tomar esse vinho de cor púrpura, cremoso, e potente. Já tive a oportunidade de tomar também a safra 2002, que está bem mais domada. Nessa safra 2003, sugiro passar por 02 horas de decanter para amenizar o impacto. Vale a pena também pesquisar o preço, pois já encontrei esse vinho por R$431,00 em uma importadora e por R$196,00 em outra.
Postagem publicada no www.cafecaviar.com.br/blog/campo-eliseo-2003/
Bento, reportagem final!
Chega ao fim nossa visita às vinícolas brasileiras no Vale dos Vinhedos e nos sentimos muito orgulhosos de ver a evolução das cantinas nacionais. Usando as palavras do amigo de viagem, Adro, “fiquei impactado positivamente com a qualidade técnica da produção de vinhos no Brasil (Serra Gaúcha).” Uma enorme surpresa. É bem certo que esbanja evolução e tecnologia, nas cantinas e nas vinhas. Mas é também notório – ao menos foi para mim – que investimento maciço em pesquisa faz-se urgente, principalmente no campo, de onde advém o resultado final de um bom produto agrícola [o vinho]. No último dia em Bento uma visita chamou atenção. A vinícola de boutique Lidio Carraro produz dois grandes vinhos, os Singulares (tempranillo e nebiolo) e o Tannat-2006. Este último provado exclusivamente na Sede, com as anfitriãs Natália e Sra.Carraro – ver fotos abaixo. Não fosse o elevado preço (180 reais), diria tratar-se de uma forte promessa do futuro do vinho nacional.
Outro segredo agora desvendado. Parece até a história da cabeça de bacalhau, onde ninguém nunca viu, certo! Vocês já viram uma barrica de carvalho sem estar usada? Pois bem, consegui uma foto inédita – furo de reportagem [risos]. Barricas de carvalho novinhas, ainda embaladas, chegadas recentemente à vinícola Valduga, quando lá estivemos (foto abaixo). Visitamos ainda a Vallontano e a Dom Laurindo.
Para o fim da viagem ficou reservado uma visita às instalações do SPA do Vinho, no alto da montanha da Miolo. Um Hotel e Spa de tirar o chapéu. Elegantíssimo. Esperamos que esta seja uma de muitas estadas no Vale dos Vinhedos, e que possamos nos surpreender ainda mais com a produção do vinho brasileiro. Termina aqui nosso diário on-time. Se você gostou da experiência de nos acompanhar diretamente de Bento Gonçalves, escreva e comente!
Por A.Coêlho e Eugênio.
Wine-Day reportagem – II
O dia na Miolo foi incrível. Começou com uma preleção diretamente no parreiral – de uvas merlot, diga-se de passagem, que estavam madurinhas, só aguardando nós temporários bóias-frias para fazer a colheita [risos]. Neste Wine-Day haviam mais de 40 participantes de várias partes do Brasil, e a interação foi muito bacana. Aprendemos muito sobre o trabalho no campo, ou melhor nas vinhas.
Além do simpático mestre-vinicultor, fomos acompanhados de perto pelo Adriano, um dos proprietário da Miolo. Sempre atencioso e atento às perguntas dos “alunos” de um dia! Vejam algumas fotos desta etapa de produção.
Em seguida passamos à cantina, onde começa a vinificação. Não vou aqui passar a limpo todo processo de produção, mas resumo que existem três fases principais na transformação do mosto em vinho. São elas: criomaceração, maceração fermentativa e maceração pós-fermentativa. A primeira chega a durar 5 dias, baixando a temperatura do mosto a 8 graus. Em seguida temos mais 10 dias à temperatura de 28 graus. E por fim, mais 15 dias para completar a fermentação do vinho, tornando-o, vinho de verdade.
Antes de ir para o almoço na original cantina da Mamma Miolo, com direito a um autêntico menu italiano, tivemos um show à parte: uma mega degustação de toda a linha de vinhos da vinícola. Detalhe: esta etapa ocorreu num auditório-aula jamais visto na América-latina – palavras do amigo Adroaldo. Uma maravilha de sala de degustação!
Até aqui tem valido a pena, pois tive que “gazetear” aulas no Curso de Gastronomia. Me digam, foi por uma boa causa, não? Daqui a pouco relataremos sobre outras visitas: Casa Valduga, Vallontano, Angheben e demais vinícolas do Vale dos Vinhedos. AGUARDEM !!