Antes de tudo, Château Chalon não é um château propriamente dito, é uma apelação de 50 hectares na região do Jura, aonde se produz o vinho amarelo (vin jaune), seco, de grande longevidade. Uma curiosidade é que a crise da filoxera do século 19 só chegou à região, décadas depois de ter atingido Bordeaux. O vinho é feito da uva Savagnin que é colhida tardiamente e envelhecida em barris de carvalho por um período mínimo de 6 anos e 3 meses, mas há produtores que mantêm o vinho em barril por até 10 anos.
O carvalho ligeiramente poroso permite a evaporação de cerca de 40% do total do vinho contido no barril. Uma camada grossa de flor de levedura, parecida com uma espuma branca, se forma na superfície e ajuda a evitar a oxidação excessiva. Não há complemento do barril e após o tempo de envelhecimento o vinho é engarrafado em “clavelins” com capacidade de 620 ml. Isso é baseado no fato de que para cada litro de vinho, após o envelhecimento, restam 620 ml.
Esse método de envelhecimento, semelhante ao usado para o Jerez, permite ao vinho adquirir sabores exóticos, e é melhor apreciado após 10 anos em garrafa, ou seja, 16 anos após a safra impressa no rótulo. O vinho é chamado de imortal, durando mais de 100 anos em boas safras.
O vinho tomado foi o Château Chalon do produtor Baud Père et Fils safra 1992, que já tinha tomado alguns anos atrás, e por não estar habituado com esse estilo, desaprovei o mesmo, chegando a dispensar boa parte da garrafa. Agora alguns anos à frente, e bem mais acostumado a esse estilo oxidado, tomei novamente essa mesma safra e me surpreendi com a mudança do meu gosto. O vinho tem uma cor alaranjada, levemente turva, com aromas de mel, amêndoa, nozes e até biotônico. Na boca ele é untuoso, licoroso parecendo que vai ser adocicado, mas não, é bem seco. Um vinho diferente de tudo que se faz por aí, um vinho para curiosos sem preconceito.
As duas primeiras fotos, Chalon 1895 (a última safra antes da filoxera) e foto do barril: Site oficial. Foto do Chalon 1992: Ricardo Salmeron.