Harmonizando Vinho com Pirarucu – II

Momento telúrico no DCV. Dando continuidade à postagem do dia 10, transcrevo abaixo o ensaio poético sobre o clamor da selva Amazônica. Inspirem-se.

O ENCONTRO

Encontro de cores

Encontro de sabores

Encontro de amores

Encontro de lazeres

Encontro de prazeres

Encontro de saberes

Encontro da natureza

Encontro da pureza

Encontro da beleza

Encontro da certeza

Encontro do sem fim

Encontro das águas do Amazonas

Encontro de vidas

Encontro de mim.

Estêvão Santoro

Val Viadero Jovem 2006

valviad1Um vinho espanhol da renomada Bodega Valduero, que faz excelente trabalho na região do Toro. Em pouco tempo se tornaram vinhos muito apreciados. De aroma frutas pretas e toque alcaçuz. Na boca, encorpado, adocicado, carnudo e leve amargor da vinha. Boa persistência, sendo feito com 100% de uva tempranillo. R$ 55,00.

Didier Dagueneau. O que vai acontecer?

silex2003O que vai acontecer com os vinhos de Didier Dagueneau? O “selvagem do Loire” nos deixou em 2008 e a corrida atrás de seus vinhos aumentou assustadoramente. A última safra feita por ele, que tenho notícia, é a de 2007, que inclusive já chegou ao Brasil; mas e depois? Alguém continuará seu legado com todo seu critério?

Dagueneau era o nome mais aclamado do Loire, considerado o rei de Pouilly-Fumé, e um dos mestres no trabalho com a sauvignon blanc. Seu nível de perfeccionismo era folclórico, a produção das parreiras era mantida em um nível bem reduzido para originar frutos concentrados. A colheita era manual e de diversas passagens pela plantação para que cada cacho só fosse colhido quando estivesse em perfeita condição de madurez. Seus vinhos unem o frescor da sauvignon Blanc, com uma maior complexidade e cremosidade, resultante do uso moderado de madeira. Novamente tive o prazer de tomar o seu vinho top, o Silex, safra 2003, feito de vinhas de mais de 70 anos, que representa o ápice do que se produz no Loire. Alguém sabe do destino de sua vinícola? Se souber me avise, por favor. Postagem também publicada em www.cafecaviar.com.br/blog/didier-dagueneau-o-que-vai-acontecer/

Harmonizando Vinho com Pirarucu do Amazonas

findelmundoNa última 2a.feira passei por uma experiência de volta às origens alimentares. Não é de hoje que todos sabem da minha predileção pela gastronomia ítalo-brasileira. Mas o que poucos sabem é que sou nascido em Manaus, capital do Amazonas. Na academia – faculdade de Gastronomia – aprendemos muito sobre várias culturas gastronômicas e o curso dado naquele dia retomou as origens de minha família. O curso foi de Culinária Indígena, dado pelo professor Estêvão Santoro, que também é nascido no Amazonas. Dentre as curiosidades e dados pitorescos da cozinha das etnias indígenas brasileiras, foram apresentados pratos de sabor inigualável, como: purê de banana pacovã (da terra); salame de cupuaçu; cuscuz amazônico (feito com farinha do Uarini); e o famoso Pirarucu de Casaca (o bacalhau brasileiro!). O auditório lotou (com mais de 50 ouvintes) para ver a produção na cozinha demonstrativa do IESB. Vejam as fotos. Além do aspecto técnico-cultural, Estêvão criou um ambiente lúdico ao qual raramente presenciei. Tanto que até poeta o professor manauara virou, e emocionou a todos com a declamação de poesia própria sobre o clamor das selvas.

Para acompanhar o delicioso peixe amazônico, pensei em duas ampolas brancas para harmonizar, que tivessem um leve toque amadeirado. O primeiro foi o Chardonnay Reserva Del Fin del Mundo Patagonia 2005 (Argentina). Vinho com sabor de frutas cítricas, abacaxi, e boca amanteigada, com passagem de oito meses em barricas de carvalho, combinando com a forma de feitura do Pirarucu de Casaca, que se assemelha ao bacalhau salgado, mas com sabor menos acentuado, tornando-o uma iguaria cada vez mais apreciada pelo mundo afora. O segundo vinho é um Quinta do Cidrô Chardonnay (seis meses de barrica), para lembrar a terrinha portuguesa do bacalhau. 

Escola Miolo inicia Turmas

mioloescA Escola do Vinho Miolo de Brasília inicia suas atividades com cursos de degustação mais completos, dinâmicos e atrativos. No próximo dia 15 de Maio, no Hotel Naoum Plaza, o Sommelier consultor do Miolo Wine Group, Sr. Jorge Paim, ministrará um curso com degustação de 14 vinhos. 

Data: 15/05/2010 – Sábado.
Hora: 09:00 h.
Duração: 4 horas/aula.
Local: Hotel Naoum Plaza (SHS Qd 5 bloco H) 
Valor do Curso: R$ 120,00 (por pessoa, incluso curso de degustação e Almoço / Feijoada).

Reservas e Informações: (61) 3427.4266 ou (61) 9986.5161 com Jorge.
E-mail: [email protected]

Vinho francês em restaurante francês

guilhemOutro dia conheci um novo restaurante francês. Bem, não era tão novo, pois já existe a par de anos, mas nunca havia comido nele. Trata-se do Toujours Bistrot, na 405 Sul – nova casa do proprietário do restaurante Fred. Não podia ficar sem falar nele por dois motivos. O primeiro é que o cardápio é recheado de pratos próprios da cozinha francesa (nem sempre isto ocorre em outras lojas) e segundo, porque o vinho que tomei lá marcou meu paladar até o momento destas palavras. Sabem aqueles vinhos que marcam não por serem caros ou “badalados” mas pela impressão que deixam em atentos paladares. O bacana é como alguém consegue fazer um vinho tão bom com tanta simplicidade.

Estou falando do vinho Guilhem Moulin de Gassac 2006, da tradicional Mas de Daumas Gassac, que provei com um “Confit de pato com pele crocante à perfeição, sobre batatas de ervas a dorê” (foto). De cair o queixo! O rótulo não é o mais caro da vinícola – ao contrário (60,00). É o básico modelo que marca pela elegância e mostra a força e qualidade dos Vin de Pays (não AOC’s)guilhem1franceses. Na verdade, a Mas de Daumas Gassac rotula seus grandes vinhos como “vin de pays” apenas para fugir aos rigores das denominações do Languedoc, de onde vem este delicioso vinho. No Languedoc as castas básicas para tintos são Carignan, Grenache Noir, Cinsaut, Mourvèdre e Syrah, dentre outras. O Guilhem leva quase 80% de Carbernet sauvignon, e torna a Mas de Daumas uma das únicas na região a usar composições diferentes em seus produtos, o que fazem com enorme qualidade e propriedade, sendo reconhecidos mundialmente. Temos aqui mais uma prova de que preços de vinhos franceses chegam a rivalizar com demais países quando sabemos experimentar e pesquisar um pouquinho. Se você já provou vinhos franceses a bons preços, comente conosco.

Mudança na Classificação de 1855!

bordeaux2A classificação de 1855, dos vinhos do Médoc nunca foi revisada, a única alteração foi a promoção do Mouton-Rothschild de segundo cru para premier cru em 1973, após um grande lobby com o governo françês. Essa classificação foi baseada nos preços dos vinhos à época; e baseado nesse critério, a revista inglesa Decanter, publicou uma revisão dessa classificação com base nos preços “en premier” das safras de 1996 a 2005. O que mudaria em uma possível revisão:

*Mouton-Rothschild continuaria premier cru.
*La Mission Haut-Brion – Fora da lista de 1855, seria um dos tops dos 2cru.
*Palmer (atualmente 3cru) e Lynch Bages (atualmente 5cru) seriam 2cru.
*Le Forts de Latour (2 vinho do Ch.Latour) e Pavillon Rouge (2 vinho do Ch. Margaux) = 3cru.
*Haut-Marbuzet e Sociando-Mallet (dois Cru Bourgeouis) seriam 4cru.
*Phélan-Ségur e Gloria (dois Cru Bourgeois) seriam 5cru.

Quem cairia para 5cru:
*Rauzan-Gassies (atualmente 2cru)
*Durfort-Vivens (atualmente 2cru)
*Cantenac-Brown (atualmente 3cru)
*Ferrière (atualmente 3cru)

Quem seria removido da classificação:
*Desmirail (3cru)
*Boyd-Cantenac (3cru)
*Marquis d´Alesme Becker (3cru)
*La Tour Carnet (4cru)
*Pouget (4cru)
*Grand Puy Ducasse (5cru)

Essa revisão foi feita por Benjamin Lewin (MW), e está em seu mais recente livro, What price Bourdeaux?

Benegas Sangiovese 2007

benegasDelicioso. Esta é a palavra de ordem para este exemplar produzido por Federico Benegas Lynch, competente produtor de Mendoza, Argentina. Este já foi provado duas vezes e obtivemos a mesma ótima experiência gustativa. Um vinho que mostra toda força da uva sangiovese italiana tratada elegantemente pelas mãos deste produtor. Para quem não conhece, eis um rótulo imperdível e que irá agradar qualquer paladar, principalmente porque o preço, que rondava os cem reais, agora abaixou. R$ 60,00.

O segundo vinho é tão bom quanto o primeiro?

les_hauts_de_pontetOs segundos vinhos eram um pensamento distante até pouco tempo. Poucos châteaux os tinham, e sua relação com o primeiro vinho era um tanto obscura. Hoje em dia, todo château, de Cru Bourgeois para cima tem um segundo vinho que ostenta uma ligação com o primeiro vinho da casa. A história diz que os segundos são parte de uma incessante busca pela qualidade, tirando as uvas que não são boas o suficiente para fazer o primeiro vinho. Os lotes de uvas excluídos permitem fazer um vinho que mostra o château, a um preço muito mais baixo.

A realidade é um pouco diferente. Apenas metade dos segundos tem referência no primeiro vinho. É que as uvas descartadas para se fazer os primeiros vinhos, muitas vezes são misturadas as uvas de vinhas que foram replantadas. Essas vinhas jovens não produzem uvas de qualidade superior durante alguns anos, e essas entram na composição do segundo vinho.

Outros segundos vinhos são feitos de uvas colhidas de parcelas de terra que nunca entraram na composição dos primeiros (apenas 10% dos segundos são feitos de uvas colhidas de parcelas do primeiro, mas descartadas para esses).

Segundos vinhos também diferem dos primeiros. Tipicamente tem mais merlot e menos carvalho, tornando-os mais frescos e acessíveis em sua juventude.  A grande questão é saber se os segundos oferecem um grande valor, pois os châteaux colocam sua experiência a um preço inferior, ou eles tem um preço baixo por o primeiro vinho ter um preço inflado. Fonte: Revista Decanter.

The Armagh Shiraz 1996

armagh1Um vinho excepcional, fora de série. Sempre tenho manifestado minha preferência por vinhos do velho mundo, mas não podia deixar de relatar meu encantamento com esse australiano, 100% shiraz. Feito por Jim Barry, que comprou terras no vale do Clare, sul da Austrália em 1959, construiu a vinícola em 1973 e lançou seus primeiros vinhos em 1974. O primeiro Armagh shiraz foi lançado em 1985, por Berry, que o elaborou a partir de vinhas de baixa produtividade que ele plantou em 1968, oriundas de um clone de aramgh2shiraz que veio de Israel. Armagh é o nome de um vilarejo fundado por irlandeses em 1859, já o vinho Armagh é encantador, cativante. Ao cair na taça, uma cor negra, concentradamente assustadora para um vinho de 14 anos, nenhum sinal de evolução visual, o que não era um início muito promissor. No nariz, começava o encanto, aromas de eucalipto, ervas, bastão de mocha…Muito complexo, como nenhum outro vinho do novo mundo se mostrou. Na boca era longo, com equilíbrio, a cada gole dava vontade de tomar o próximo. Por enquanto, o melhor vinho do novo mundo que já tomei.