A Mistral tem o melhor portfólio de vinhos do Brasil, são inúmeras opções de produtores, preço e qualidade. Alguns meses atrás, recebi um e-mail de uma campanha da importadora, para vender o vinho Font de La Figuera 2007. Um segundo vinho do espanhol Clos Morgador da região do Priorato. A campanha eletrônica o alardeava como “o vinho que bateu o Petrus”, divulgando uma nota da Wine Spectator, maior para o vinho espanhol que para o Petrus da mesma safra 2007. Não dou a mínima para as notas, mas resolvi pesquisar e concluí que a importadora usou de um argumento falho, uma falácia, para persuadir o consumidor. Explico, em momento algum, a Mistral esclarece que a revista não fez uma degustação entre os dois vinhos, nem às cegas nem às claras. Não diz também que o vinho espanhol foi avaliado por um de seus editores Thomas Matthews, que só degusta Espanha, em uma avaliação apenas para internet, em data totalmente diferente da avaliação do Petrus; que foi avaliado por James Suckling (que trabalhou por 30 anos na revista, mas saiu esse ano), para revista impressa de março de 2010.
Como pode um vinho “bater” outro se nem foram tomados juntos, nem avaliados pelos mesmos degustadores? A competição no mundo do vinho beira o absurdo. Como afirmar que tal vinho é melhor que outro, como uma verdade definitiva, se as variáveis beiram o infinito?
A Mistral é uma importadora séria, que sempre divulga em seus catálogos, os méritos de todos os vinhos em suas determinadas safras. É uma empresa que domina o ramo dos restaurantes, não precisava de uma campanha como essa para vender um único rótulo. A estratégia deu certo, o vinho desapareceu, mas acho que manchou a postura da casa. Resolvi escrever essa postagem, depois de ler em um blog, as discrepâncias derivadas dessa campanha. Aquele ditado, quem conta um conto aumenta um ponto. O blog sugeria o vinho como presente para o dia dos pais. Contava toda essa conversa de “bater” Petrus, mas ia além. Dizia que isso tinha ocorrido em uma degustação às cegas feita por Robert Parker, que ele tinha dado nota 96 (quem já leu alguma vez o WA sabe que Parker não avalia Espanha, e sim o descomedido Jay Miller), quando na verdade essa foi a nota dada ao primeiro vinho da casa, Clos Figueras, em outra safra. Fala do Clos Figueras achando que é o Font de La Figuera, divulgando assim, errados, o blend e o preço.
Esse tipo de campanha levam as pessoas a repetirem inverdades e a criarem outras, como foi o caso citado. Ouvi muitas pessoas repetindo essa história, mas não vi uma sequer, querendo trocar Petrus por Font de La Figuera. Foto: site Mistral.