Será que os vinhos brasileiros são de guarda?
Esta pergunta fica na cabeça sempre que bebo as ampolas verde-amarelas. Parece que nossos vinhos são mais bem degustados quando atingem algum tempo de armazenamento. Melhoram depois de alguns anos. Não parecem vinhos rápidos – para beber jovens – em comparação com os vinhos pesados e de consumo imediato dos países produtores do novo mundo. Procurei os motivos para este fato e acho que algo tem a ver com nosso terroir e o clima tropical. Essa característica dos vinhos deve-se a acidez do solo e a umidade da terra? Pode ser?! Certamente um enólogo pode falar com maior propriedade, mas evidente são as provas que sempre melhoram com os anos de guarda em nossos rótulos. Exemplos não faltam para demonstrar isto.
Venho percebendo, que no estágio atual da vitivinicultura brasileira, a produção de rótulos de rápido consumo talvez não funcione devido ao nosso produto levar mais tempo para se aveludar dentro das barricas e melhor ainda nas garrafas, tornando-se mais sedoso e aprazível, ganhando personalidade após um médio estágio de guarda – diria aí de 4-6 anos. Daria nome para isto de afrancesamento às avessas: vinhos harmônicos com personalidade, concebidos para consumo rápido, mas que em verdade evoluem só com o tempo. Diferentemente dos franceses, onde concebem vinhos para serem consumidos com o tempo mas estão quase prontos quando são distribuídos – estou me referindo aos vinhos corriqueiros, não aos clássicos Grand-Crus de longa guarda. Êpah…, Antonio, você tá comparando-os aos nacionais? Não, mas que guardam certa semelhança gustativa, ah, isso lembra [risos]. E isto possivelmente esteja elevando a qualidade dos vinhos brasileiros, em detrimento de outras nações, pela tipicidade e ótimo sabor projetado dentro de nossas garrafas.