Peverella: o início, o meio e… O Futuro!

Tudo começa com Álvaro Escher e Luis Zanini fazendo o curso de enologia. Identificam-se nas idéias, atitudes e ideais. Conversando com o sogro do Zanini, seu Laurindo, ficam sabendo que o vinho que mais o agrada é o Peverella. Mas como assim? Que uva é essa? Dessa curiosidade resolvem resgatar a cepa e fazem o seu primeiro Peverella, ainda na estrebaria transformada em adega no ano de 2002.

 

A partir daí, Álvaro desenvolve um projeto com seu irmão Vítor Escher, chamado Cave Ouvidor, em que compram uvas Peverella em Bento Gonçalves e as vinificam em um sítio em Garopaba/SC. Lá são feitas as safras 2004 e 2005 do mítico e inesquecível Cave Ouvidor.


O projeto é desfeito e em 2008 Álvaro e Zanini retomam o plano Peverella lançando em 2010 a primeira safra da Era dos Ventos 2008. No ano de 2012 é lançada a segunda safra da Era dos Ventos Peverella 2010. É importante ressaltar que em 2006 o Zanini entrega alguns exemplares de pequenos viticultores de Bento Gonçalves a Jonathan Nossiter. Vinhos esses que expressavam a identidade do produtor e não cópias do vinho globalizado que dominam o mercado até hoje. Nossiter se encantou com o Cave Ouvidor Peverella do Álvaro e o adotou. Como na época seu filme Mondovino estava em alta, Nossiter tinha grande penetração na mídia e o Cave Ouvidor ganhou outro padrinho, o músico Ed Motta, que divulgou o vinho aos quatro ventos. O resto é história, como a que Pedro Hermeto serviu o Cave Ouvidor a Albert de Villaine, proprietário do Domaine de la Romanee-Conti, quando o mesmo esteve em seu restaurante, Aprazível, no Rio de Janeiro.


Contei tudo isso para chegar à degustação que idealizei há um ano e que se concretizou na semana passada. Com o lançamento da safra 2010 da Era dos Ventos, entrei em contato com o Zanini para ver se conseguia uma garrafa do 2011, que ainda está em barrica, para fazer uma vertical de 03 safras de Era dos Ventos Peverella. Depois de vários e-mails, telefonemas e contatos, chegamos à conclusão de que faríamos essa vertical aqui em Brasília durante a Vinum Brasilis desse ano. Conseguimos reunir as garrafas do Cave Ouvidor Peverella 2004 (só foram feitas 350 garrafas desse vinho), 2005 (1000 garrfas), Era dos Ventos 08, 10, 11 e 12 (500 a 800 garrafas de cada safra). Essas duas últimas safras o Zanini retirou da barrica só para a vertical. Como surpresa da degustação, Zanini conseguiu de volta a garrafa do Peverella 2002 que ele havia presenteado seu sogro, seu Laurindo, que generosamente a cedeu.


Foi durante um almoço inesquecível, escoltado pela cozinha do chef Marcelo Piucco (restaurante L´affaire), que degustamos essas 07 safras desse líquido dourado, feito com paixão e emoção. O Peverella 2002, assim como o 2004 e o 2012 foi feito sem nenhum SO2, estava surpreendentemente perfeito, mostrando que vinhos sem sulfito podem ser longevos. O 2012 é o mais turvo e demonstra um longo caminho pela frente. O 2005 o mais oxidado e os 2008, 2010 e 2011 são os mais exuberantes e complexos no nariz. O 2004 é uma jóia, com acidez, corpo oleoso e bela cor de ouro polido. O grande prazer desses vinhos é quando sua temperatura vai subindo, exalando uma paleta de aromas que foram identificadas como cravo, pipoca, pólvora, floral, jerez, resina, cevada… Vinhos únicos, complexos e emocionantes.


O que mais me impressionou foi a coerência do projeto. Facilmente se percebia que eram vinhos do mesmo enólogo, fossem eles feitos apenas pelo Álvaro ou por ambos. Os sete vinhos tinham exatamente o mesmo perfil, independente da qualidade da safra e assim disse Álvaro Escher: “Traga-me uma uva do inferno que te farei um grande vinho”.


Quero deixar meu eterno agradecimento ao Zanini, Álvaro, Pedro Hermeto e seu Laurindo, que reuniram as garrafas e compraram a minha ideia de fazer essa vertical, que começou humilde e se transformou em um evento inédito e histórico. Agradeço também a presença dos amigos que além dos citados Zanini e Álvaro, foram: Ana Paula Valduga(RS), Alessandra Rodrigues (RJ), Didú Russo (SP), Oscar Daudt (RJ), Sonia Denicol (SP), Luiz Cola(ES), Guilherme Rodrigues(PR), Luiz Miguel(DF), Petrus Elesbão(DF), Duda Zagari(RJ). Ausências sentidas: Pedro Hermeto (RJ), Ricardo Salmeron (DF) e Bruno Agostini (RJ) pessoas que têm o espírito ligado a esses vinhos.


No futuro a Peverella se tornará cada vez mais conhecida, cultuada e desejada. Resta-nos aguardar os próximos lançamentos dessa uva, que pelas mãos de alquimistas da enologia, continuarão nos surpreendendo. Fotos: Luiz Cola, Alessandra Rodrigues e Eugênio Oliveira.

Outras de coberturas em: http://www.vinhosemaisvinhos.com/2012/08/cave-ouvidor-e-era-dos-ventos-uma.html

http://www.didu.com.br/2012/08/vertical-de-peverella-pode-imaginar-isso/ (video)