Convite feito pela família Jabour não se recusa. Para não ir, só se estiver doente ou viajando. Sabendo que seriam abertas oito garrafas de vinhos biodinâmicos que ainda não chegam ao Brasil (apenas um deles já chega), o nível da ansiedade bateu no mil um dia antes.
Os vinhos foram trazidos por Gilberto Bolognani diretamente de Portugal. Eram 04 tintos e 04 brancos (07 franceses e 01 austríaco) com baixíssima adição de sulfito. As panelas foram comandadas por Celso Jabour que demonstrou suas habilidades fazendo um creme de funghi com trufas, camarão com creme azedo e caviar, massa recheada com damasco e ainda nos brindou com uma sequência de queijos curados. As sobremesas a cargo de sua filha Chef Patissier Gabriela Jabour, fecharam a noite com chave de ouro. Ah, não posso esquecer-me do gengibre cristalizado que a Simone Jabour me apresentou durante a Vinum Brasilis e fiquei fã.
No serviço do vinho, Guto Jabour carregava as taças dos convidados que se encantavam a cada garrafa aberta.
A primeira garrafa da noite foi o Chateau Cambom 2010. Propriedade localizada entre os Crus Morgon e Fleurie, mas devido à indecisão burocrática entre 1935 e 1936 quando as AOC(s) “Beaujolais e Crus Beaujolais” foram criadas, esses vinhedos não foram incluídos em nenhuma das duas denominações. Portanto os vinhos do Chateau Cambom provêm de solos “Crus Beaujolais”, mas não levam a denominação. Vinho fresco, refrescante, cor clara, elegante, fácil de beber. Morango e framboesa circundados por um terroso sutil. Acidez vibrante; um vinho que em um piscar de olhos sumiu das taças. O único exemplar da noite já disponível no Brasil (www.vinhonatural.com.br).
O segundo vinho foi o Fleurie (Cru Beaujolais) de Jean-Paul Brun safra 2010. Um vinho mais sério, com mais estrutura e mais tânico que o anterior. Fruta franca e com bom potencial de envelhecimento.
Na sequência o pinot noir da Alsácia, Runz 2009, Domaine Lucas & André Rieffel. Coisa seríssima. Pinot da Alsácia de alto gabarito. Aquele terroso circundado de acidez e frescor. Nada de aromas doces e final de boca amargo. Um show, parecia um Borgonha envelhecido. Tenho tido grandes experiências com pinots dessa região como os do Barmès & Buecher e Zind Humbrecht.
Finalizando os tintos, Domaine de Majas-Ravin des Sieurs 2009. Vinho do Roussillon que até pouco tempo eu achava que só fazia vinhos de pouca qualidade, impressão que vem mudando radicalmente com os vinhos que tenho provado. Esse exemplar é 100% Syrah, daqueles negros, tinta de caneta que eu tanto condeno. No nariz tem muito enxofre, o que pede um bom tempo de decanter. Após a dissipação do enxofre (ou foi a fadiga olfativa?) o vinho fica bem interessante na boca. Taninos educados para um vinho com aquela extração e aromas condimentados são os predicados desse vinho. Os aromas assustaram a maioria dos convidados.
Partimos para os brancos que serão melhor comentados em outro post devido ao tamanho que esse já atingiu.
Começamos com o austríaco Merlitsch Ex-Vero II 2008 feito de Chardonnay e Sauvignon Blanc com linda cor amarelada. Depois abrimos o Domaine Majas-Blanc Grapes Entières 2011 da uva Rolle. O fantástico Matassa Cuvée Marguerite 2010, assim como o anterior, também era do Roussillon. Além dos aromas inusitados o Marguerite tinha um leve frisante na boca. Para fechar bebemos o Chateau Chalon 1997 do Jean Macle acompanhado de um divino queijo Comté.