Confesso que ao ouvir falar neste lançamento da De Martino, em 2012, tratei logo de conseguir uma prova desta ampola. A história deste vinho é surpreendente, a começar pela forma de busca do vinhedo para sua fabricação. Seu enólogo, o incrível Marcelo Retamal, pesquisou dezenas de sítios entre os Andes e o deserto chilenos para achar uma uva francesa praticamente esquecida do mundo, a Cinsault. O segundo ponto positivo é a produção do vinho ser feita inteiramente de forma ancestral [e artesanal, claro!], dentro de gigantes ânforas (tinajas) de barro (Foto abaixo), onde ele é fermentado e amadurecido com bagos inteiros por meses, até o engarrafamento, feito sem filtragem e com mínimo de conservante. Ressalto que este não é um método muito conhecido por nós do século XXI, e estes saberes antigos são de certa forma passíveis de erros de interpretação por nossa atual sociedade. Este tipo de vinificação – em ânforas de barro – não é novidade, eis que já existem alguns bem sucedidos produtores na Itália e Portugal a nos brindar com excelentes amostras.
Foram felizes os chilenos nesta aventura? Bem, agora vem a minha “história” [risos].
Surpreendeu-me ver logo de início tantas excelentes avaliações para esta ampola da De Martino. Então fui logo à prova. Primeiro provei o Viejas Tinajas Cinsault 2011, em outubro de 2012…Hummmm, nada bom…?! O vinho tinha cor violácea com pouco/médio corpo. Aromas de amoras e cerejas frescas e florais, com reprodução no gosto, além de leve especiarias. Na boca não surgiu muito a lembrança do barro como vi em muitos relatos, mas um sabor herbáceo de incomodar. Algo me parecia não muito bem acabado, principalmente considerando que trata-se na minha opinião da melhor vinícola chilena da atualidade. Pensei logo nos métodos de produção, aos quais já citei no primeiro parágrafo. Faltava conhecimento com o manuseio das tais ânforas centenárias e o controle dos processos químicos que elas trazem. Enfim, nem nota consegui atribuir para o vinho; que deixei para oportunidade seguinte.
Em 19/08/2013 veio a segunda prova da mesma safra 2011, a qual ocorreu na feira de vinhos Decanter Wine Show 2013, em Brasília. Foi a comprovação [triste] de que minha garrafa anterior estava em perfeito estado. Alguns amigos enófilos com anos de experiência também experimentaram sensações parecidas. Os aromas vieram quase iguais, com amoras frescas, flores e um leve frugal. Menos especiarias desta vez e com mais corpo: médio. Cor violeta e rubi. Um vinho para ser bebido jovem. Na boca validou minha primeira impressão a respeito do domínio dos métodos de produção. Nota 87 pts. Que me perdoem o Guia Descorchados, que anotaram incríveis 92 pontos nesta primeira safra, repetindo: primeira safra?!
Com extrema curiosidade, corri atrás da nova safra do Viejas Tinajas Cinsault 2012. A prova foi em 04/12/2013 na 1a. Feira Vinho & Arte, de Brasília. Lá estava a ampola que ansiava tomar, pois sabia de antemão que o Descorchados tinha anotado os mesmos 92 pontos e eleito o melhor vinho de castas distintas do Chile. Boa surpresa – que gostei de imediato, pois vinho trata-se de produto alimentício que requer conhecimento e manuseio dos processos industriais, agrícolas e naturais, e que isto não é fácil de obter, sempre. A cor violácea com rubi no centro mostrava corpo médio; quase turvo. Os aromas de frutas vermelhas frescas permaneciam, com leve florais e especiarias. A estrutura e taninos suportavam bem a imersão nas tinas de barro, que davam leve e delicioso sabor de terra ao líquido. Harmonia perfeita entre álcool e acidez. Muita elegância mostrava este exemplar. Um vinho que não cansa e diferente de tudo que já provei. Acho que acertaram a mão, suspirei com enorme felicidade! Estou a postos para provar nova garrafa. Nota: -91 pts, convencido, héhéhé.
Ircchhh…acabei de saber que a safra 2013 saiu e que a avaliação do Guia Descorchados 2014 foi de 94 pontos para o tinto Cinsault e 96 [Waw!] para o branco Viejas Tinajas Muscat 2012. Essa eu pago pra ver – e provar. 🙂