Na última terça-feira, 10 de junho, o Restaurante El Negro, no Plano Piloto de Brasília, foi palco de uma degustação inédita no País. Uma prova da vertical com todas as safras do vinho Merlot Terroir (Miolo), incluindo a recém safra 2012, que ainda não está engarrafada. Desde a badalada prova realizada em 2010 pelo Master Wine brasileiro, Dirceu Vianna, não se realizava outro teste deste vinho ícone da produção nacional. Naquela ocasião, em degustação na Inglaterra foi divulgado que o Merlot Terroir havia sido coroado como o melhor merlot do mundo, entre vinhos no valor até 15 Libras (ver matéria Revista Época).
Aproveitando a projeção deste vinho promovemos uma degustação às cegas com as SEIS safras produzidas – da coleção particular deste Editor que vos escreve. Os participantes desta especial prova foram oito degustadores com prática reconhecida no DF. São eles: Alexandre Bodani (sommelier Amicus Vinum), Antonio Matoso (Prof. ABS/DF), João Paulo (sommelier Rest. GERO), Jorge Paim (sommelier), Júlio Neves (sommelier Restaurante D.Mano), Marcos Rachelle (sommelier ART du VIN), Rachel Alves (Profa. Faculdade UniCEUB), Wesley Brito (sommelier Amicus Vinum), além deste Editor.
Após apuradas as notas, apresentamos as avaliações a seguir (*). Antes, porém, cabe alguns comentários advindos dos resultados obtidos.
1. Impressionou a constância na qualidade das seis safras. Os aromas, cores e sabores mostraram enorme regularidade, algo não visto de forma contundente na maioria dos vinhos nacionais.
2. Destaque especial para a média individual de notas altas (1/4 superaram os 90 pts!) – já descontados os desvios-padrão. Até na avaliação deste Editor, as mesmas atingiram patamares jamais alcançados por outro vinho nacional, à exceção de uma dúzia de rótulos artesanais e de garagem, e os fantásticos espumantes made in Brazil.
3. Mais uma vez se vê claro nossa vocação vinícola quando comparamos as seis safras: a guarda! Até a safra 2004 estava inteira, plena, aromática, e com bons anos de evolução pela frente.
Deixo a vocês as avaliações da vertical, na ordem crescente, mas lembrando que a diferença nas notas foi de uma margem extremamente estreita entre as seis safras:
MT 2004 – Uma das preferidas por quatro jurados e entre as melhores da noite. Produção: 18.000 gfs. Cor rubi com centro atijolado e brilhante. Olfato de frutas em compota, negras, cassis e leve couro, animal. Acidez super equilibrada com taninos bem presentes, num “corpo extremamente elegante”. Final de boca longo, algum dulçor e gosto de quero mais, muito mais. Um show de terroir brasileiro. 89 pts!
MT 2008 – Seguiu de perto o 2004 devido a média alta nas avaliações, contando com três notas superiores a 90 pts.! Escolhida a melhor da noite por 3 jurados. Prod.: 30 mil gfs. Cor rubi com halo violáceo e aromas frutas vermelhas, morango, madeira e leve defumação. Harmonia pura e equilíbrio em todos quesitos. 88 pts.
MT 2005 – Bem junto à safra 2008 segue-se esta maravilhosa ampola, escolhida a melhor da noite por quatro jurados. Prod.: 20 mil gfs. 12 meses em barricas de carvalho francês e 12 meses em garrafa, como todas as demais safras deste vinho. Cor rubi e halo púrpura. Aromas frutas vermelhas e leve herbáceo. Na boca taninos altos, longos, duradouros e macios (nas palavras do Julinho Neves). Elegante, fino e uma tipicidade à flor da pele! 87,5 pts.
MT 2009 – Correu por fora e fez bonito. Muito parecido com a 2005 na cor e aromas, exceto por ter menos herbáceos e frutas com mais compota. Um dos mais complexos, com grande harmonia entre corpo, taninos e acidez. Produ.: 40 mil gfs. 87 pts.
MT 2012 – Espantosamente eleito como a revelação por todos jurados da noite. Safra ainda não engarrafada, sendo esta ampola trazida especialmente para COMPLETAR esta degustação inédita no País. Mas, com base na amostra, trata-se de um vinho que poderá se tornar o melhor entre todos. Demonstrou qualidades incríveis em todos quesitos: cor, aromas e sabor. Ótimos equilíbrio e harmonia, com final de boca muito duradouro. Se dizem que a safra brasileira de 2012 foi ótima, este exemplar poderá se tornar seu maior expoente e comprovação. Prod.: 60 mil. Promete. Fiquem de olho neste vinho! 86 pts.
MT 2011 – Logo no início das provas verificou-se ser este o mais fraco exemplar da vertical. Ainda apresenta as qualidades dos demais mas em níveis menores. Cor violeta de vinho novo. Aromas frutas vermelhas e torrefação, da madeira, com algum vegetal. Baixa adstringência e pouco corpo. Prod.: 90 mil gfs. 83 pts.
(*) Metodologia de apuração: modelo da média aritmética simples, com alinhamento do desvio padrão. Foram identificadas faixas de erro extremamente estreitas nas notas da maioria das seis safras.
Por fim, gostaria de agradecer a todos jurados pela colaboração e seriedade com que participaram, trazendo suas experiências na prova deste tipo de evento. Ao Chef Marcelo Piucco, do restaurante El Negro. E ao amigo Jorge pelo apoio na busca da safra 2012, sem a qual não seria possível a realização desta histórica prova vertical.