Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais – Parte 1

Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais (parte 1)

Agora que a poeira assentou e recoloquei os pés no chão é hora de fazer um apanhado da feira batizada de Primeiro Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais. Acompanhei de perto (nem tão perto assim) o embrião desse evento que surgiu há quase dois anos com as viagens a França de Alain Ingles e Pedro Hermeto (em uma delas acompanhados de Marco London) para encontrarem o amigo francês Philippe Herbert, grande catalisador desse encontro devido ao estreito laço com os produtores franceses que aqui estiveram; visitar produtores e participar de feiras.

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Pedro Hermeto & Alain Ingles

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Philippe Herbert

Sem patrocínio, mas munidos de vontade e paixão, conseguiram que o evento fosse viabilizado mesmo sem retorno financeiro. O público do vinho natural ainda é pequeno por aqui, e dessa minoria apenas uma parte menor abraçou o evento desde o lançamento. Tanto é que um dia antes da feira ainda havia ingressos (eram apenas 100 disponíveis). É bem verdade que no momento da feira eles esgotaram e quem quis comprar na entrada do restaurante não obteve sucesso. Já em SP o número máximo de vendas não foi atingido, mas chegou bem próximo.

Participei da feira no Rio de Janeiro que ocorreu no restaurante Aprazível que tem como sócio Pedro Hermeto, um dos associados do evento. Lugar melhor não poderia haver. Com sua decoração rústica envolto pela natureza, fez o clima perfeito para o assunto vinho natural. Por se tratar de um restaurante que já tem traquejo com o vinho, toda infra-estrutura para o bom desenvolvimento do fato estava disponível. Mesas, abridores, gelo, cuspideiras, baldes, taças adequadas, água, vinhos sob temperatura ideal dentro da cave do restaurante, staff atento para resolver eventuais problemas, banheiros, local para guardar bagagens dos visitantes de outros estados, Buffet de queijos artesanais…  Tudo isso observado por uma vista de causar inveja. Havia ainda, fotógrafos, equipe de filmagem e sinal aberto de internet.

Antes de falar dos vinhos vale registrar a presença de Bernard Pontonnier, também conhecido como Pon Pon. Ele foi a pessoa que introduziu a venda de vinhos naturais em Paris no início dos anos 80 em seu Bar à Vin. Nessa época os vinhos não-ortodoxos não tinham sistema de distribuição própria, mídia, não frequentavam as revistas e não havia internet. Se houve uma pessoa com papel central na divulgação desses vinhos, seu nome é Pontonnier. Além disso, ele também faz vinhos. Vinificou as três útimas safras do fantástico Chateau Yvonne (04, 05 e 06) antes de vendido ao novo proprietário em 2007. Hoje não tem mais Bar à Vin, mora em Saumur e pretende fazer um novo vinho. Boa praça e bom de papo estava dando sopa no evento para quem o reconhecesse. Levou até um susto quando o abordei pelo nome. O sujeito é uma lenda do vinho natural.

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Falarei nessa primeira parte da postagem sobre os produtores brasileiros e na segunda sobre os franceses.

Eduardo Zenker- Arte da Vinha

Lizete Vicari- Dominio Vicari

Luís Henrique Zanini- Era dos Ventos

Marco Danielle- Tormentas

Marina Santos- Vinha Unna

Mauricio Ribeiro- Vinhedo Serena

Carlos Abarzua- Cave Geisse

Do Eduardo Zenker achei muito interessante o Pet´Nat que ele apresentou, com residual de açúcar, característico do estilo. Na medida. Ele limpou tanto que o vinho ficou cristalino. Sugeri a ele manter um pouco da borra para que possamos beber dois vinhos em um. Gela-se a garrafa em pé e bebe-se a metade cristalina. Depois se agita a garrafa para misturar as borras e o vinho fica turvo, mudando de cor, aroma e sabor.

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A Lizete Vicari encantou a todos com seu Sangiovese. Pura delicadeza, mais parece um pinot noir natural. Jamais diria se tratar da casta escrita no rótulo. Ela deve estar tendo problemas para atender todos os pedidos. Lizete também estava com o merlot e dois brancos, Ribolla Gialla e S.Blanc, mas foi o Sangiovese que emocionou.

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Era dos Ventos já é velho conhecido, porém, seu lançamento desbancou o carro-chefe Peverella. Um Trebbiano fermentado em cubas de basalto, por isso batizado de Trebbiano on the Rocks. Orange com eletricidade nervosa! Obra da alma do mago Alvaro Escher.

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O Marco Danielle levou dois vinhos do seu portfolio. O Barbera 2012 (zero So2 adicionado) e o Pinot Noir Piratini 2013 (fermentação semi-carbônica). O primeiro tinha aquela acidez gastronômica característica da casta enquanto o segundo estava menos nervoso, talvez pela diferença da qualidade das safras. Dos quatro pinots lançados por ele na última leva esse é o que considero o mais simples, porém, o mais fácil de agradar. Seus vinhos foram bastante elogiados, tanto é que esgotaram e tiveram que pegar o Tormentas Serena da cave do Aprazível para socorrê-lo na feira. Lamentavelmente esse não provei.

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A Marina Santos tem muito cuidado e capricho com a apresentação de seus vinhos. Os rótulos são artísticos, as cápsulas de tecido estampado e os nomes interessantes. Já conhecia os vinhos e me encanto com o Cab.Franc (As Baccantes) e o corte Barbera d´Alba/Cab.Franc. Os lançamentos achei que não estavam prontos para serem mostrados. Foi uma pena ela não ter conseguido trazer ao menos uma garrafa do seu esgotado Hidromel. Iria dar um nó na cabeça dos participantes, principalmente na dos gringos.

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Mauricio Ribeiro (Vinhedo Serena). Vinho oriundo de seu vinhedo biodinâmico em Nova Pádua, dedicado exclusivamente à pinot noir. O vinhedo tem 15 anos de implantação e há 10 ele vinifica, contudo, há apenas 06 meses colocou seus primeiros vinhos no mercado, das safras 2011 e 2012. Os vinhos têm uma tipicidade muito borgonhesa, podendo ser facilmente confundido com exemplares franceses tamanha elegância e semelhança.

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Carlos Abarzua veio representando a Cave Geisse no Rio. Trouxeram apenas um espumante, ainda sem rótulo. Leveduras selecionadas, vinho trivial. Talvez o expositor que menos tinha relação com o tema do encontro (vinhos naturais). Participação prescindível. Não participou da feira em São Paulo.

Todas as impressões são oriundas da percepção do autor e de maneira alguma têm a pretensão de ser um arbítrio definitivo. Vinhos provados em feira normalmente não têm a mesma oportunidade de mostrar todos seus atributos que quando provados em ocasiões mais longas e calmas.

Em breve a segunda parte com os produtores franceses.