No início dos anos 80 alguns viticultores franceses retomaram o hábito de fazer vinhos sem sulfito ou quaisquer outros aditivos, mais especificamente em Morgon. Isso deu início a um movimento que atingiu proporções significativas na França. O núcleo desses rebeldes era formado por Jules Chauvet, Marcel Lapierre e Jacques Néauport que desafiaram a utopia destrutiva do vinho estandartizado utilizando leveduras selvagens, evitando o SO2 (dióxido de enxofre) durante a vinificação e realizando maceração carbônica. Logo foram seguidos por vignerons, que hoje são reconhecidos e aclamados, como por exemplo Jean Foillard.
Contudo, esses vinhos precisavam de um mercado para sobreviver. Eram controversos, não tinham penetração na mídia nem apoio da imprensa. Vale lembrar que era uma época em que não havia internet. Nesse momento entra a figura de Bernard Pontonnier (também conhecido por Pon Pon).
Pontonnier participou dos primórdios desse vinho natural na França e paradoxalmente isso ocorreu assim que fechou o Café de la Nouvelle Mairie em 1986. Ele administrou esse bistrô, nas imediações do Panthéon, de 1979 a 1986. Foi lá que conheceu Marcel Lapierre em 1982, porém, a casa acabou sendo fechada sob clamor dos clientes. Em 1990 ele abre o La Courtille com François Morel no 20 arrondissement. Essa nova casa ficava à 10 metros do les Envierges que era gerido por François Morel e Jean-Pierre Robinot. Pontonnier era amigo de François Morel desde 1984 e participou de vários micro-eventos nos anos de 87 e 88 com os poucos vignerons adeptos da vinificação natural à época. Marcel Lapierre, François Dutheil de la Rochère, Ptit Jean (Jean Foillard), Paul-Po (Jean-Paul Thevenet), Gramenon e Yvon Métras eram alguns deles. Pontonnier trouxe esses vinhos a um público parisiense interessado e fez a conexão entre vários vignerons como, por exemplo, Jean-Pierre Robinot e Marcel Lapierre.
Outro importante local de difusão do vinho natural foi aberto no mesmo bairro (20) naquela época: Le Baratin (1987) que funciona até hoje e pertence ao casal fundador: Raquel Carena (Argentina) e Philippe Pinoteau. Hoje Le Baratin é um bistrô icônico do vinho natural.
Pon Pon vendeu os primeiros vinhos naturais em 1988, e não foi no Café La Nouvelle Mairie que havia fechado em 1986 e sim no Les Domaines, no 8 arrondissement, que deve ter sido o primeiro ou segundo lugar após o les Envierges (de François Morel) a servir vinho natural. O Les Domaines era muito focado em vinhos de Bordeaux e quando Pon Pon assumiu tentou convencer os proprietários de que havia vinhos interessantes em outras regiões da França. Assim, apresentou os vinhos desses vignerons, ainda desconhecidos.
No La Courtille, no nada alardeado 20 arrondissement, Pontonnier ficava mais à vontade com esse tipo de vinho e de 1990 a 1997 junto com François Morel e Jean-Pierre Robinot difundiu o vinho natural na cidade que arrebanhava cada vez mais adeptos. Os primeiros vinhos de Jules Chauvet foram vendidos por lá. Pontonnier disse que a primeira leva desses produtores era conhecida por “pais fundadores” e era formada por vignerons de Ville- Morgon: Marcel Lapierre, Jean-Paul Thevenet (Paul-Po), Guy Breton (P’tit Max) e Jean-Claude Chanudet (le Chat). A segunda onda tinha Foillard, Dutheil, Gramenon, Puzelat, Frick, Descombes, Dard et Ribo…
Voltando um pouco mais no tempo, Pontonnier trabalhou um período no Le Rostang, um café com vista para os Jardins de Luxemburgo. O local pertencia aos pais de Nicolas Carmarans que era um adolescente na época. Pontonnier é muito grato ao pai de Camarans que foi quem emprestou dinheiro a Pon Pon para que ele abrisse o Café de la Nouvelle Mairie (1979).
Dando um salto para os anos 2000, Pontonnier assumiu a vinificação do excelente Chateau Yvonne (Loire) nas safras 2004, 2005 e 2006 em substituição à Françoise Foucault (esposa de Charlie Foucault, um dos proprietários de Clos Rougerad) que havia sido contratada para recriar as vinhas que já davam frutos em 1813. Em 1997 o casal parisiense Yvonne e Jean-François Lamunière, adquirem a propriedade, contratam Françoise e rebatizam o local de Chateau Yvonne, em homenagem à esposa de Lamuinère. A propriedade é vendida em 2007 (após as 03 safras de Pontonnier) e o novo proprietário resolve manter o nome em consideração ao excelente trabalho que havia sido feito até então. O possuinte do Ch. Yvonne se chama Mathieu Valée e continua a fazer belos vinhos na propriedade.
Bernard Pontonnier segue ligado aos vinhos naturais. Embora não esteja trabalhando no setor de Bar à Vin ele vinifica cuvées especiais com vignerons amigos. Além disso, trabalha com reformas de casas e arquitetura de interiores. Foi ele quem reformou os quartos de hóspedes do Domaine Jean Foillard.
No papo que tivemos no Rio de Janeiro, me disse que fará um novo vinho, o qual até sugeri um nome.
Fotos: Bernard Pontonnier (Alain Ingles)
Ch. Yvonne 05 (Eugênio Oliveira)
Fonte: O próprio Pontonnier e Wineterroirs.