Há duas semanas provei um vinho que achei nas gôndolas de uma loja Hortifruti, em Brasília, em uma das minhas tantas pesquisas por garrafas inusitadas. O vinho me chamou atenção pela origem incomum. Não que seja impossível, mas era um produto de um local ancestral na produção de vinhos, a Bulgária.
Logo recolhi a ampola e coloque-a no carrinho das frutas e verduras que comprava. O vinho era um SOLI Pinot Noir 2013. Ao chegar em casa, curioso, fui à busca de informações sobre esta intrigante combinação: um vinho búlgaro, da uva pinot noir, a um preço impraticável (R$ 44,00)!
Neste caso surgiram duas comprovações que sempre me remetem à controversa disputa entre: vinhos “pontuados” X avaliados “na vida real” por degustadores experientes. Este, por exemplo, não me lembro qual safra, recebeu nada menos que 90/100 pontos da revista inglesa Decanter (?!), sendo seguido por alguns enófilos que publicam matérias na Internet.
Na minha opinião ficou claro a influência da nota no caso em questão! Por isso sempre devemos tomar muito cuidado na aquisição de um vinho exclusivamente pela nota atribuída por críticos/revistas. Elas servem apenas como sugestão; não como uma verdade absoltuta sobre o assunto. Devemos levar em conta o perfil do crítico. Para onde [quem] ele escreve, para quem trabalha, qual seu índice de imparcialidade, sua experiência. E sobre o vinho: qual safra foi avaliada, qual o produtor, onde a garrafa foi vendida e como é armazenada. Tudo isso pode influenciar na qualdade final do líquido.
Nesta minha avaliação (e lá se vão mais de 2.500 provas publicadas) o vinho tinha aroma bom, cereja e leve tostado que repete na boca. A cor era límpida e clara, lembra bem o claret de uma pinot noir. Mas na boca as semelhanças param por aí. A entrada era com acidez ríspida. Harmonia entre taninos e acidez descompesada, com total falta de estrutura. Mas o líquido estava íntegro, nada de bouchonné ou acético (avinagrado), muito pelo contrário, especialmente pela bela cor. Ainda muito álcool residual, sem dispersão. Certamente que não pode-se exigir muito de uma garrafa que custa 5 dólares (44,00) mas existem muitos vinhos de ótima qualidade nesta mesma faixa de preço – lógico que não de pinot noir. Nota: 85 pts, com muito esforço.
Se isto é o que a Bulgária produz de melhor, ou se existem outros vinhos – e deve haver, eles vão ter que remar mmuuuiiito para chegar perto do aceitável. Me desculpem os demais críticos mas dar 90 pontos nesta garrafa foi exagerado ao extremo, e no mínimo, irresponsável.