Numa noite memorável, o restaurante da Chef Ticiana Werner foi o palco para maior degustação de vinhos de Minas Gerais já ocorrida no Brasil, capitaneada por este editor que vos escreve, e que contou com a presença de 12 degustadores, entre sommeliers, enófilos, editores de Blogs e jornalistas da enogastronomia de Brasília, quais sejam: Alexandre Bodani, Antonio Matoso, Ayrton Gissoni, Etiene Carvalho, Liana Sabo, Marly Maia, Renata Berford, Renzo Viggiano, Sérgio Resende, Wang TS, Washington Brito e Antonio Coêlho (Editor DCV).
A coleção – garimpada durante dois anos por este editor – contou com 13 garrafas, sendo 9 rótulos distintos, de seis vinícolas mineiras (incluindo uma “intrusa”, da divisa de São Paulo, na Serra da Mantiqueira).
Todos os participantes foram unânimes em ressaltar a altíssima qualidade dos vinhos mineiros de colheita de inverno, sendo que a maioria não conhecia este Terroir Sul de Minas como região produtora de vinhos, e a minoria conhecia apenas um ou dois rótulos dos vinhos desta inédita amostra. A análise dos degustadores confirma em números a qualidade das provas obtidas durante o jantar desta 2ª.feira (16/7/2018), ocorrido em Brasília.
A seguir apresentamos o resumo dos nove vinhos do evento, na ordem de preferência dos participantes da prova, os quais acredito, pessoalmente, que em menos de uma década, possam estar no nível de qualidade e até superiores em comparação à região do Vale dos Vinhedos/RS. O futuro dirá se seremos assertivos ou não?!
Primeira Estrada Syrah 2010 – os quatro primeiros na classificação estiveram muito próximos em qualidade, demonstrando a boa nivelação da produção mineira de vinhos de colheita de inverno. Este exemplar da vinícola Estrada Real já se mostrou também ótimo vinho de guarda, que com seus oito anos estava inteiro, harmonioso, boa personalidade e persistência. Aromas de ameixa passa, leve couro e especiarias, como azeitona (nas palavras do enófilo Renzo). Origem Três Corações/MG; colheita em Julho/2010; matura 12 meses em barricas francesas + 12 meses em garrafa. Nota média geral: 92 pts.
Maria Maria “Bia” Syrah 2015 – brilhou juntamente com o 1ª. Estrada Syrah e até muito parecido na boca, exceto por conter menos especiarias e estar mais jovem, merecendo mais cinco anos de plena vida. A ideia do nome Maria Maria veio através da amizade de seu proprietário Eduardo Junqueira com o compositor/cantor Milton Nascimento, seu conterrâneo. Origem de Três Pontas/MG e colheita em agosto/2015. Nota média geral: 91 pts.
Luiz Porto Cab. Sauvignon 2013 – juntamente com o Verrone Syrah, ambos empataram em 3º lugar entre os vinhos da noite. Esta ampola é o vinho especial da casa Luiz Porto, encorpado e com notas balsâmicas e boa fruta. Complexidade média e sabor mentolado. Evoluiu bastante na taça. De Cordislândia/MG, colheita em Julho/2013, com 12 meses em barricas e só 2.000 grfs. Nota média geral: 90 pts.
Verrone Speciale Syrah 2016 – empatado com o Luiz Porto, este delicioso vinho correu por fora [o “intruso”] e fez bonito. Apesar da vinícola ficar no interior de São Paulo, mas na divisa com Minas, este vinho também passou pelo assessoramento e implementação da EPAMIG/MG, o que pode-se dizer que ele tem alma e coração mineiros, além de sua colheita seguir os padrões dos vinhos de inverno, por isso ele figurou em nossa coletânea. De origem de Itobi/SP, Serra da Mantiqueira, sua colheita é de julho/2016, estagiando 12 meses em barricas, com uma tiragem de 3.000 grfs. Nota média geral: 90 pts.
Primeira Estrada Chardonnay 2017 e Espumante Villa Mosconi Extra-Brut, ficaram empatados com Nota média: 88 pts. O espumante Mosconi repetiu suas boas avaliações anteriores em outros concursos que participou como: Brinda Brasil´18 e Top-5 WineRun’17. Um espumante personificado, complexo e instigante. Apesar da pouca acidez e por ser um extra-brut, possui residual palatar adocicado, mas incrivelmente persistente. Já o Chardonnay da Estrada Real foi uma das sensações da noite para maioria dos degustadores. Sua citricidade marcante e a alta intensidade aromática (de acordo com Ayrton Gissoni), resultaram em pura delicadeza gustativa. Um branco pronto; para se comprar em caixas.
Dom de Minas Cab. Franc 2015 – apesar de ter decepcionado relativamente, já que jamais provei um Franc nacional de pouca qualidade, ainda assim teve boa aceitação geral e manteve alta as avaliações dos mineirinhos. Esta ampola é vinho da linha básica da Luiz Porto. Vinho de mesa com um toque de elegância. Colheita de julho/2015, com estágio 12 meses barricado. Nota média: 87 pts.
Por fim temos o Riesling Villa Mosconi 2014 e o Maria Maria Rosê 2016, ambos empataram com Nota média: 85 pts. O Riesling passou regular sem muitos atributos e sem a tipicidade da uva riesling, mas à mesa acompanha a comida sem fazer feio. Um branco suave, pouco ácido e para pratos leves. A versão rosê do Maria Maria não carrega os genes dos seus laureados irmãos, tinto e branco. Com notas de morango e groselha, na boca mostra pouca acidez num corpo pesado e harmonia regular.
(Coêlho e Ticiana Werner)
(Coêlho e Ayrton Gissoni)
Em resumo, após a prova desta completa “carta” dos vinhos de Minas Gerais, ficamos impressionados pelo o que este novo terroir brasileiro pode oferecer, agora e no futuro brilhante. Mostrando que a vitivinicultura do cerrado e da colheita invertida, dos chamados “vinhos de inverno”, veio para ficar; para alegria e satisfação dos consumidores brasileiros!
Fotos dos vinhos: Ayrton Gissoni
Fotos gerais: A.Coêlho e Etiene Carvalho
Restaurante Ticiana Werner (CLS 201 Sul, bl.C – 61-3226-9947)
Por Antonio Coêlho.