Como alguém disse outro dia, um dos prazeres do vinho está em compartilhar a garrafa. Foi o que aconteceu nessa noite histórica para mim, quando fui convidado pelo meu amigo Edinho, a tomar com ele e seus familiares, uma garrafa do ícone espanhol Vega-Sicilia Único, da grandiosa safra 1970.
O Vega 1970 é um vinho emblemático. Por mais que essa safra tenha sido maravilhosa, os vinhos caros não vinham vendendo bem. Eles só eram engarrafados sob encomenda, e durante sua vida ele foi transferido inúmeras vezes para concreto, grandes recipientes de carvalho ou barricas, sempre sob os cuidados do atento enólogo Mariano Garcia (hoje não mais em Vega e sim dono de algumas vinícolas como Aalto, Mauro e Maurodos), que cuidava para manter os barris cheios, e evitar ao máximo os efeitos da oxidação.
Esse vinho chegou ao mercado 25 anos depois da safra, ou seja, em 1995, e suas garrafas magnum somente em 2001. Vega-Sicília não tem um cronograma de lançamento das safras, elas só chegam ao mercado quando eles consideram o vinho pronto para tal. A safra subseqüente a 98, não necessariamente será a 99, poderá até ser, como também poderá ser a 95. Esse Vega 1970 é considerado por muitos, o melhor vinho já feito na Espanha.
Mas como estava o vinho? Tensão ao abri-lo, a rolha totalmente encharcada não seria removida sem um abridor tipo pinça. Vinhos maduros deve-se ter sempre em mãos um abridor desse tipo. A cor estava até pouco atijolada para a idade do vinho, pensei que iria estar mais. Os aromas se desprendiam da taça em ferrugem, carne e toques medicinais de iodo. Na boca pura elegância, como era de se esperar, sem nenhuma agressividade, sedoso, corpo médio e se tomado às cegas, jamais diria se tratar de um vinho de 40 anos, tanto pela cor, aroma e paladar. Outra surpresa foi a total inexistência de borra. Em minha opinião, esse vinho ainda resiste mais uma década.
A generosidade de algumas pessoas não poderia deixar de ser citada, pois devido a ela é que foi possível esse meu contato com um vinho que sempre sonhei em tomar, o Vega 70. Edinho, com sua inesgotável simpatia, e que me convidou para essa missão, sua esposa Giuliana Ansiliero que convenceu o dono da garrafa a servi-la nessa noite de comemoração, e ao dono da garrafa, seu Francisco Ansilieiro que nos brindou com histórias pitorescas, o grande vinho, e ainda abriu outra grande garrafa, que contarei em outro momento. Muito obrigado. Clique nas imagens para aumentá-las.