La Tâche 1994 – Finesse incrível !!

Se há um vinho que pode rivalizar com o Romanée-Conti, ele se chama La Tâche; que em algumas safras pode até estar melhor. Para celebrar o sucesso profissional, os sócios Gentil (dono da preciosidade) e Marcos Rachelle, abriram uma garrafa desse magnífico vinho e fui convidado.

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Nada será como antes. Ao servir em minha taça, de longe senti a explosão de aromas, o vinho exigia que eu levasse o copo ao nariz. Ele estava vivo, fragante, explosivo. Morango, pimenta, carambola, toque suave de caramelo na boca. Nunca tinha tomado um pinot 94 com acidez tão correta. A cor clara e rala da pinot enganava sutilmente as pessoas de outras mesas, que tinham seus copos preenchidos por vinhos negros e densos.

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Tudo no lugar certo. Esse é um vinho para se tomar lentamente, sem pressa, percebendo suas mudanças, sem horários nem compromissos. Agradeço imensamente o convite, e por se tratar de um vinho tão especial, que nem sei se tomarei novamente, digo que essa noite será sempre lembrada quando o assunto for grandes vinhos. Gentil, Rachelle e Edinho, muito obrigado.

Villa Francioni- Degustação do Portfólio

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Reunimos-nos para degustar a linha de vinhos brasileiros da vinícola catarinense Villa Francioni. Foram provados 09 vinhos de seu portfólio, que conta com 11 exemplares, apenas o tinto Michelli e o Colheita tardia não foram provados. A Villa Francioni é uma velha conhecida, mas havia alguns vinhos que provei pela primeira vez, como os lançamentos Joaquim brut rosé, Joaquim rosé e o Aparados. As impressões foram as seguintes (na ordem de serviço, como mostra a foto da esq. p/ direita. Observem que todas as garrfas têm o polêmico selo fiscal):

Joaquim Brut rosé: Boa perlage inicial, mas perde a força rapidamente. Aromas de melaço, tuti-fruti e doce de goiaba em calda. Na boca tem um açúcar residual que gera um final demasiadamente doce. Estruturado, feito de 08 uvas (shiraz, pinot noir, c.f, sangiovese, merlot, c.s., malbec, petit verdot), método charmat.

VF rosé 2008: Esse é campeão. Não há um rosé nacional melhor que ele. Cítrico, acidez marcante, muito refrescante e com uma cor linda de casca de cebola. Provença total.

VF Sauvignon Blanc 2008: É um dos vinhos mais aclamados da vinícola, mas confesso que não simpatizo com ele. Já o tomei por diversas vezes, e sempre o acho sem graça, pouco aromático e cor muito pálida. Na boca é refrescante, mas não me cativa.

VF Chardonnay Lote II: Super-chardonnay, feito de duas safras 08 e 09, por isso se chama assim, já que o Lote I era feito das safras 04 e 05. Untuoso, generoso, encorpado, denso, amanteigado, e com forte marca da madeira. Algumas pessoas não gostam desse estilo, para quem gosta é um prato cheio.

Joaquim rosé 2008: Esse vinho é o oposto do VF rosé. Feito de c.s. e merlot (provavelmente sangria do Joaquim tinto), ele é mais encorpado e bem estilo novo mundo; com cor mais escura e menos acidez, concorre com outros rosés brasileiros sem diferencial.

VF tinto 2005: Antes do surgimento do Michelli (não degustado), era o vinho tinto top da casa. Também é um vinho que já provei por diversas vezes e realmente é um grande exemplar brasileiro. Potente, encorpado, de final longo e aromas de café, chocolate e ameixa. Feito de c.s, merlot, c.franc e malbec, se beneficia muito se colocado em decanter.

Francesco 2005: Outro tinto muito bem feito, que usa as mesmas uvas do anterior, só trocando a c.franc pela shiraz. Médio corpo, novamente aromas tostados e café. Vinho intermediário entre o Joaquim tinto e o VF tinto, mais pronto para beber.

Joaquim tinto 2006: É o carro chefe da vinícola, e segundo o representante, dentre todos os vinhos que ele comercializa, é o vinho mais vendido em sua loja. Tinto simples, de entrada, feito de c.s/merlot, frutado, com leve amargor final.

Aparados 2007: Como já conhecia quase todos os vinhos, diria que esse foi a maior surpresa. Deixado para o final por se “achar ser o mais fraco”, é o melhor vinho brasileiro de combate que provei. Muito correto, bem feito, que talvez tenha sido produzido pensando em competir em supermercado, mas que em minha opinião, é um crime vendê-lo assim. Dos onze degustadores da noite, surpreendeu a maioria. Faz bonito com qualquer iniciante.

Mainqué – O merlot da Bodega Chacra

mainque1Mainqué, o novo vinho da Bodega Chacra (Argentina) é uma homenagem ao vilarejo de Mainqué, onde as vinhas estão plantadas. Estão ao lado das vinhas de pinot noir do Chacra 55 e se submetem aos mesmos cuidados biodinâmicos. A safra 2008 (apenas 4788 garrafas) é a segunda desse vinho, feito de merlot, que para muitos é a grande uva da Patagônia. Apesar de a malbec ser a uva emblemática da Argentina, tenho preferência pela cabernet sauvignon e merlot da Patagônia.

O vinho apresentou-se floral, com frutas frescas, mineral e redondo. Aromas adocicados,mainque2 bem novo mundo, e um ótimo frescor, característica dificilmente encontrada nos vinhos argentinos super concentrados. Um merlot muito bem feito. Os outros 03 vinhos da Bodega Chacra são 100% pinot noir e já foram postados aqui. Chegou pela Grand Cru, foi para Expand e está na Ravin. Esse Mainqué não vem para o Brasil, e é difícil achar até na Argentina, pois quase toda sua produção é exportada.

Carmelo Patti 2002

carmelo1Cabernet Sauvignon argentino de uma ótima safra por lá. Esse vinho é feito em Lujan de Cuyo, região de Mendoza. Muita gente o considera o melhor C.Sauvignon argentino. O vinho demonstrou ser um muito fácil de beber, sua cor já estava evoluída, com bordos atijolados.carmelo2 No nariz muita fruta madura, compota de ameixa e todo aquele adocicado de vinho argentino. Na boca se confirma o doce, taninos sedosos sem nenhuma adstringência. Foi chamado de vinho “fofo” por uma das presentes. Fiquei pensando o que seria um vinho “fofo” e talvez seja isso mesmo: Docinho, que não pega na língua, fácil de agradar. Não é o tipo de vinho que procuro hoje para tomar, mas com certeza, tem muitos apreciadores.

Ch. Ausone 1997

ausone1O outro vinho da noite em que tomei o Mouton-Rothschild 81 foi o Château Ausone 1997. Um vinho da margem direita de Bordeaux que privilegia a merlot e a cabernet franc, contendo 55% da primeira e 45% da segunda. O château leva o nome do poeta latino Ausônio e é o menor dos premiers grands crus classés de Bordeaux, com apenas sete hectares. Esse é o vinho que rivaliza com o Cheval Blanc, pelo título de melhor de Saint-Émilion. Em certas safras chega a custar bem mais que seu rival, e junto a ele, faz parte do chamado Bordeaux Big 8 (os 5 premier cru do lado esquerdo, os dois citados e Petrus).ausone2

A safra 1997 teve um mau começo, com preços altíssimos, mas já em 2001 os vinhos estavam disponíveis pela metade do preço “en primeur”. Hoje a 97 é considerada uma safra magra em Bordeaux; são vinhos prontos, que não vão melhorar com a guarda, para beber agora.

Esse Ausone 97 estava com uma textura aveludada, aromas intensos de eucalipto, sem ser pesados. Um sabor marcante, prolongado, macio. Um Bordeaux delicado, feito por um grande produtor, que se superou mesmo em uma safra mediana.

Ch. Mouton-Rothschild 1981

mouton1O que esperar de um vinho com trinta anos de idade? Potência, exuberância? Com certeza não. Dependendo do produtor e da qualidade da safra, é possível que o vinho ainda esteja vivo; mas nada de esperar aquela fruta potente e aromas explosivos dos exemplares recentes.

Vinhos desta idade normalmente apresentam a chamada “complexidade”, mostrando uma cor granada, com reflexos alaranjados e aromas que tendem para ferro, iodo, chá, musgos… E um corpo médio com taninos nada agressivos. Muita gente ao se deparar com essas características imagina estar tomando um vinho defeituoso ou insatisfatório ao seu paladar. Não gostar desse tipo de vinho não é demérito algum, é apenas gosto pessoal. Apreciar esse estilo necessita tempo, litragem, aprendizado e gosto adquirido. Quem jamais tomou um vinho bastante evoluído irá estranhar a primeira vez, e se após várias provas, chegar à conclusão de que essa evolução não o agrada, tudo bem, você gosta é de vinho jovem e não há problema algum nisso.

Falei tudo isso para dizer que um vinho como o Château Mouton Rothschild 1981 é um vinho desses: Evoluído, pronto, que não vai melhorar em nada com a guarda mouton2(pelo contrário, beba já). Diferentemente de safras mais antigas como a mítica 1945, ou a tão idosa quanto, 1982 (desse mesmo produtor), que ainda podem ser armazenadas. A safra 1981 em Bordeaux é considerada o que os especialistas chamam de safra fantasma, boa, mas adjacente a uma histórica, como a 82, se torna menos badalada.

O Mouton 81 estava fantástico, confesso que não esperava tanto desse exemplar. Sua cor estava opaca e turva, provavelmente pela idade e agitação da borra. Sua melhor característica foi a complexidade aromática, que evoluiu muito durante a prova, apresentando aromas de iodo, cravo e terra molhada. Tem um corpo médio e taninos bem suaves. O outro grande vinho dessa noite fica para um próximo post.

Ch. Haut-Brion Blanc 04, vinho Raro!!

hb1O Château Haut-Brion é o único dos premier grand cru classe de Bordeaux, que faz um vinho branco que leva o nome do primeiro vinho tinto. Esse é um vinho raro . Sua produção vem de um vinhedo de apenas três hectares, de solo plano, de cascalho, e subsolo de argila, no cume de uma colina dentro da cidade. Isso gera um microclima precoce, e Haut-Brion é quase sempre a primeira propriedade de Bordeaux a colher uvas brancas. Uvas que estão sempre maduras, e tem seu mosto fermentado em barris novos, franceses, da região de Allier. O vinho descansa por 12 meses, e envelhece em barris novos (apenas 45%). Antigamente todo envelhecimento era feito em barris de primeiro uso, o que gerava um aroma de carvalho muito intenso.

Metade do vinhedo é plantado com Sémillon e a outra metade com Sauvignon Blanc, que tem uma produção muito baixa, pois as videiras dessa cepa sofrem de eutipiose.hb2 Já a Sémillon tem uma colheita farta, mas como o vinho leva praticamente 50% de cada cepa, sua produção fica ainda mais escassa. Esse Haut-Brion Blanc 2004 se mostrou com uma cor amarelo-ouro brilhante, aromas de carvalho e  pêra bem madura. Denso, untuoso e com ótima acidez, é um excelente acompanhamento para vieiras, crustáceos e peixes nobres. Sugiro uma lagosta ao molho bisque. Vinho raro já no início do ano. Espero que degustar outros no decorrer do mesmo.

Novos Vinhos da Villagio Grando

Tive o prazer de ser convidado por Marcelo Camargos e sua esposa Zuka, para degustar os novos vinhos da Villagio Grando que ainda não estão no mercado. As garrafas nem rótulo tinham, traziam apenas uma etiqueta que dizia a safra e a uva do vinho, quando varietal.

A Villagio Grando é uma vinícola de Santa Catarina, da região de Herciliópoles, município de Água Doce. As primeiras mudas foram trazidas da França pelo enólogo Jean Pierre Rosier, e foram plantadas em 1998. Em 2000, foram implantados alguns dos vinhedos hoje existentes em escala comercial, e atualmente a vinícola conta com um vinhedo de 48 hectares.
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Os vinhos degustados (da esq.p/dir.) não tinham rótulo nem ficha técnica, sendo assim, uma degustação praticamente às cegas, que me levaram às seguintes impressões:

1-Espumante Brut Rosé: Um vinho com um perlage bem intenso, fechando a coroa, com um nariz simples e baixa cremosidade. Provavelmente feito pelo método charmat.

2-Sauvignon Blanc 2009: Cor bem amarelada. Denso e untuoso na boca, com baixa acidez e um leve açúcar residual (que me incomodou). Não lembra em nada um S.B. tradicional.

3-Chardonnay 2008 ou 09: A etiqueta estava meio apagada e não dava para afirmar a safra. Outro vinho que fugiu dos padrões, com um herbáceo bem marcante, e um fumo e café que sugeriam passagem por carvalho, apesar de os representantes dizerem que a V.G. não utiliza madeira em seus vinhos. Exemplar com ótima acidez, que faltou no Sauvignon Blanc.

4-Rosé 2009: Sugerido como um corte em proporções iguais de C.Franc, Merlot e Malbec, é um rosé de cor mais densa, como os do novo mundo e os espanhóis e portugueses. Outro vinho que foge do convencional, com a fruta bem cozida, lembrando até um porto ou um madeira.

5-Além Mar 2008: Vinho que promete ser a estrela da casa, juntamente com o chardonnay, é um corte de C.Franc./Merlot/Malbec, mas haverá uma mudança gradual para cepas portuguesas. Elaborado pelo enólogo português Antonio Saramago (o mesmo que faz o vinho Dúvida?postado aqui, e que hoje é meu vinho português predileto), é aromaticamente complexo, passa 08 meses em barricas francesas de tostagem média, lembrando velho mundo. Já em boca ele confirma ser um exemplar do novo mundo.

6-Colheita Tardia 2009: O nariz doce engana antes do primeiro gole, sugerindo algo enjoativo. Ao beber, a acidez é cortante chegando a incomodar. Aromas químicos e de jasmim, chegou a lembrar um Jerez em algum momento.

A impressão que tive da Villagio Grando é que eles não querem repetir o que os outros estão fazendo. Querem fazer vinhos de exceção, movidos pela paixão, que irão agradar não o grande público, mas aquele grupo específico de aficionados por vinhos exóticos e radicais. Eu aprovo!

Domaine Valette-Pouilly-Fuissé “Le Clos de Monsieur Noly-Vieilles Vignes” 1999

noly1Inconfundível, incomparável, DEFINITIVO. Esses são alguns dos adjetivos que podem ser atribuídos a esse vinho monstruoso. Meu amigo Edinho diz que não gosto de vinho branco e sim de amarelo. Nunca tinha pensado nisso, mas acho que ele tem razão. Por outro lado, qual vinho é branco? Branco é leite, não há vinho realmente branco (já escrevi um post sobre isso, clique aqui). Mas voltando ao vinho em questão, ele é originário de uma propriedade de 15 hectares em Mâconnais, sul da Borgonha, natural, sem sulfitos, e é envelhecido em barris de carvalho por 05 anos antes de ser engarrafado. Isso leva a uma complexidade aromática no estilo de um Vin Jaune ou Château Chalon, com aquelesnoly2 cheiros de biotônico, epocler, misturados a mel e amêndoas. Cor super-alaranjada, que pode confundir os menos experientes, com vinho defeituoso. Na boca é um mamute. Encorpado, denso, volumoso e interminável. Seu final marca por bem mais de 60 segundos. Quem comprá-lo imaginando tomar um Puilly-Fuissé tradicional, ficará chocado com o que vai encontrar. Completamente dissidente do convencional. Emoção engarrafada. Tenho que agradecer publicamente a Jaques Trefois, por ter descoberto esse vinho e tê-lo indicado à World Wine para importá-lo. Parabéns. Em Brasília na Arte e Vinho (tel: 3248-3258).

Villa Francioni Rosé 2008

rose1Eu já tinha tomado esse vinho algumas vezes, mas ele nunca tinha descido tão bem. O rosé da Villa Francioni é um blend de C.sauvignon, C.franc, Sangiovese, Syrah, Petit Verdot, Pinot Noir, Merlot e Malbec, uma verdadeira salada de frutas com 13,6% de teor alcoólico.rose2 Sua cor casca de cebola, lembrando os rosés provençais, sugere um vinho leve e descontraído, mas que acompanha magnificamente uma refeição à base de peixes com molhos delicados e camarão. Na boca, apesar de 2008, apresentou uma acidez crocante e muito refrescante. Aromas lácteos e cítricos se notam presentes nesse vinho, que em 2009, encantou a Madonna quando esteve no Brasil. A safra atual desse rosé é 2008, mas acredito que este ano a vinícola deve lançar sua nova edição.