Astralis 2005

astralis1O vinho Astralis se tornou um ícone no mundo dos vinhos. Seu preço atingiu patamares superiores a alguns premier grand cru classe de Bourdeaux. Sua procura é tão grande que se tornou difícil achá-lo no mercado, para o Brasil vêm pouquíssimas garrafas. Pois bem, consegui duas garrafas dessas e resolvi abrir uma no penúltimo dia do ano.

Vinho feito por Roman Bratasiuk na Austrália, (ele produz 07 Syrah, 05 Grenache, 03 Cab. Sauvignon e 01 Merlot) todos varietais, de vinhedos únicos e envelhecidos em carvalho francês. Cultivo biodinâmico, vinhas velhas (80 anos) de pé-franco (pré-filoxera). O vinhoastralis3 tinha todos os predicados para ser um grande vinho, marcante, digno de encerramento de ano. Não foi o que ocorreu. O Astralis 2005 se apresentou com pouca complexidade aromática, apenas aromas de hortelã e frutos doces, parecia em estado de latência. Na boca bem agradável, encorpado, mas sedoso, porém nada que o distinguisse de vários outros vinhos que já tivesse tomado. Resumindo: Muito pouco para o que se esperava desse exemplar. Vou guardar a outra garrafa (2003) para tomar em outra oportunidade, e ver se a primeira impressão se desfaz.

Dúvida? 2005

duvida1Eu estava devendo uma postagem desse vinho. Deve ter sido a terceira vez que o tomei, em todas elas fiquei encantado com esse Alentejano. Feito por António Saramago esse Dúvida? é feito de Aragonês, Trincadeira e Grand Noir, passando por maceração pré e pós fermentativa a frio. Fermentação com controle de temperatura e dois estágios em barricas. O primeiro estágio é de 12 meses em barricas francesas novas, e depois (segundo estágio), mais 12 meses em barricas americanas, também novas.
Tudo isso gera um vinho muito intrigante com aromas de frutas cozidas e um inconfundível melaço. Na boca é denso, lembrando um Porto, mas com uma acidez que não o deixa ficar enjoativo. Apesar da minha preferência por vinhos tradicionais, esse é um vinho moderno fascinante. Na Art du Vin (61-3365 4078).

Vinhos da Viagem

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Acabo de retornar de Orlando e não poderia deixar de trazer alguns vinhos na bagagem. Os Estados Unidos são o melhor lugar que conheço para comprar vinhos. Primeiro por eles custarem muito menos que aqui, segundo por ter variedades do mundo todo e terceiro por terem preços mais baratos que nos países de origem dos vinhos. Vinho francês custa menos nos EUA que na França, se quiser Chileno então, experimente comprar por lá. Como os amigos estão me perguntado o que eu trouxe, aí vai a lista (da esquerda para direita):

Mersault, Clos de Mazeray-Jacques Prier 2005

Chateau de Beaucastel, Chateauneuf du Pape Blanc 1995

Baron de L, Pouilly-Fumé 2000

Beaux Fréres, 2006

Comte de M, 1996

Cornas, Les Ruchets 2004 (Jean Luc Colombo)

l´Eglise Clinet 1986

Pesquera Reserva Especial 1994

Prado Enea 2000 (Muga)

Señorio de San Vicente 2002

Dessas 10 garrafas, apenas 03 foram compradas em Orlando. Gostaria de saber se alguém tem alguma dica de uma boa loja em Orlando, que venda vinhos desse nível ? (Exceto a Total Wine, que tem grandes vinhos, mas preços caros em relação aos EUA).

 

Winter Park, a jóia escondida de Orlando

Quem viaja para Orlando tem como finalidade o mundo de fantasia dos parques e as compras. Você sai do hotel antes das 09:00 da manhã e só retorna após as 20:00 ou mais. Caminha-se muito sem sentir o dia passar. Um bom par de tênis é essencial para sobreviver a essa maratona. O que a maioria das pessoas não percebe é que há lugares pitorescos ao redor da cidade, que na maioria das vezes são esquecidos pela absoluta falta de tempo. Dessa vez me programei para visitar Winter Park, que fica a uns 30 km do centro turístico de Orlando. São 25 minutos de carro, com fácil acesso, pela rodovia I-4.

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O bairro é muito bonito, possui ruas residenciais arborizadas, área comercial baixa, parques de lazer, museus e um dos melhores sistemas de escola pública da Flórida. Você pode fazer um passeio de barco pelo lago ou se for jogador de golf, jogar uma partida no campo do centro da cidade, que tem 236 dias de sol por ano. Quase não há turistas por lá.

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Fui até lá para conhecer, mas confesso que também estava interessado em ir ao Wine Room, que é um bar de vinhos com 150 bicos de enomatic, servindo doses em 03 quantidades (30, 60 e 120 ml) de cada vinho. Além disso, há vinhos para venda (tops, mas caros para EUA) e vários petiscos. Eles ainda têm uma sala de degustação no subsolo, ao lado de outra sala que funciona como um cofre, onde são guardados os vinhos dos clientes. A seleção para degustação é de vinhos mais simples, há alguns bicos mais caros com Opus One e Kistler, mas no geral são vinhos corriqueiros. Eles me explicaram que antes colocavam mais vinhos top nos bicos, mas como o consumo de vinhos mais caros era baixo, os mesmos acabavam estragando. O Wine Room fica na South Park Ave. n. 270, 32789,que é a rua mais charmosa da cidade, imperdível. Na mesma rua há outro wine bar chamado Eola Wine Company, que fica no n.136. Esses dois wine bar não justificam a visita a Winter Park, que tem muito mais atrativos a conferir, mas são boas dicas para se tomar vinho na cidade.

Garrafas de fim de ano!!!

Almoço de fim de ano sempre tem garrafas especiais, e desta vez não foi diferente. Reunidas no Dom Francisco 402 foram abertas na sequência:

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Caymus Special Selection 04 (USA), ofertado pelo Edinho. O vinho estava bastante fechado aromaticamente e com uma cor mais púrpura que o Opus One, porém, na boca estava mais macio.

Opus One 05 (USA), trazido pelo Leandro Vaz. Mais aromático que o Caymus, leve mentolado, cor mais evoluída, e um pouco mais austero na boca.

Ch. Ducru-Beaucaillou 1991 (França), trazido pelo Diniz. Vinho com praticamente 20 anos, cor bem evoluída. Aromas medicinais de iodo e corpo médio.

Avó Sabica 2004 (Portugal), trazido pelo xará Eugênio. O mais aromático de todos. Alentejano de primeira linha, 15% de álcool muito bem integrado. No nariz, café e na boca chocolate com licor, delicioso.

Ch. Droyse-Védrines 2007 (Sauternes), também trazido pelo Leandro. Doçura e acidez bem equilibradas, mas distante de um icewine canadense.

Romorantin 2005 de Claude Courtois!

romorantin1A Romorantin é uma uva rara e renegada, encontrada na sub-região do Loire conhecida como Loir-et-Cher. Normalmente produz vinhos simples, mas que nas mãos de Claude Courtois se transforma em verdadeiras maravilhas. Essa variedade é cultivada no Loire desde o reinado de Francisco I no século XVI, mas a maioria de suas vinhas foi arrancada para dar lugar a cepas mais populares. Estudos de DNA revelaram que a romorantin é originária de um cruzamento de Gouais Blanc (uva croata) e Pinot, e a de Courtois vem de um vinhedo batizado de “Les Cailloux du Paradis” (pedregulhos do paraíso).

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Vinho exótico, de difícil compreensão, surpreendente, obrigatório para quem gosta de vinhos diferentes. Cor dourada, beirando o laranja, aromas de massa de pão, fermento, cevada. Na boca é cheio, de grande volume e com acidez maravilhosa, vinho de emoção. Seu final é longuíssimo. Esseromorantin2 vinho não utiliza So2 em sua produção, apenas uma mínima quantidade é adicionada no momento de seu engarrafamento. Comercialmente vale dizer que não é um vinho para restaurantes, dificilmente teria uma boa saída e haveria muitas devoluções.  Sem sombra de dúvidas um vinho imperdível para os aficionados. Na World Wine, que em Brasília é representada pela Arte e Vinho (61-3248-3258). Quem gostar desse vinho, não pode deixar de conhecer os outros do Courtois trazidos para o Brasil, como o Quartz (s.blanc), Racines (tinto), Pinot Noir e o Évidence (branco).

Leonardo Ser Piero IGT 2008

davinci1Esse exemplar já apareceu no vinho da semana. Também falei dele no lançamento da importadora Santa Ceia aqui em Brasília, e agora o coloco em uma postagem exclusiva. Leonardo Ser Piero IGT, vinho branco da Toscana, com teor alcoólico de 13%, feito de Trebbiano e Chardonnay. Nunca tinha provado esse corte, e não é por um exemplar, que vou afirmar que essa é a fórmula mágica. O vinho foi servido abaixo da temperatura, o que transforma qualquer vinho branco em praticamente água gelada. Com o passar do tempo ele chegou ao seu esplendor aromático de limão, casca de laranja e mel. Não é um vinho untuoso, tem corpo médio, mas é refrescante e intrigante. Quando anunciaram o preço, aí que fiquei fã. Tem o custo de R$ 40,00 para o consumidor final.

Sancerre Le Chêne-Saint Etienne 2002.

lechene1Vinho branco do Loire, feito por Henri Bourgeois, importante produtor e comerciante de Sancerre em Chavignol. Esse Le Chêne é um de seus vinhos de primeira linha.

 O nome Saint Etienne vem de uma árvore de carvalho histórica, plantada na região em 1560, e com 435 anos de idade. Ela media 37 metros de altura (equivalente a um prédio de 10 andares), seu tronco media 20 metros e tinha uma circunferência de 06 metros. Pesava 35 toneladas.

 Em junho de 1993 uma grande tempestade golpeou a árvore mítica. Cammille Gauthier, lenhador, comprou esse general da floresta com muita determinação, pois ela despertou a cobiça dos amantes de madeira de todo o mundo. A árvore foi cortada em 17/03/1995 em cerimônia memorável, transmitida pela televisão. Seu destino era ser usada na construção de barris para os vinhos da propriedade. Após 04 anos secando, deu origem a 40 barris de 228 litros e algumas meias-pipas de 600 litros. Saint Etienne é o nome da árvore que batiza esse vinho de Henri Bourgeois, e aparece no rótulo do mesmo.

O vinho é produzido a partir de uma seleção de vinhas muito velhas da aldeia de Chavignol, delechene2 baixo rendimento, assegurando uma ótima concentração. Toda vinificação é feita por gravidade. A fermentação ocorre em madeira nova, com serpentinas instaladas em cada uma delas, e durante a maturação o vinho é agitado, colocando novamente a borra em suspensão, duas vezes por semana, tornando o vinho mais rico e untuoso.

O vinho é 100% sauvignon blanc, de cor amarelo-dourado brilhante, com nariz muito aromático e poderoso, bem herbáceo. Na boca ele é encorpado e fresco. Um Sancerre de excelente qualidade, que infelizmente, como vários vinhos do Loire, não tem importador no Brasil.

Montrachet Comtes Lafon 1993, o vinho sem preço!

Para mim, o prazer de um vinho começa bem antes de abrir a garrafa. História do produtor, tradição, região, estilo, indicação de amigos e pessoas que considero a opinião… Vários motivos me levam ao interesse por determinada garrafa e garimpá-la.
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Outra coisa que me dá muito prazer no vinho é a sua cor, gosto de observá-la com atenção, e dependendo do que vejo já começo a salivar, tentando imaginar como será aquele vinho no nariz, na boca e na mente. Com isso, considero que alguns vinhos podem ser tomados à noite, mas todos devem ser tomados durante o dia, com a luz natural do sol. É nesse momento que se pode apreciar, em toda sua plenitude, um vinho amarelo do Jura, um delicadíssimo pinot da Borgonha ou da Alsácia, um Pouilly-Fumé e um Chinon do Loire, ou mesmo um Montrachet. Sem falar no rosé, esse, para mim, não tem lugar à noite.
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Foi pensando assim que atendi a convocação do amigo Renato Ramos para tomar um Montrachet do Domaine Comtes Lafon safra 1993. Feito com maestria por Dominique Lafon, que assumiu o lugar de seu pai René em 1984. Ao Domaine, pertencem 0.32 ha, na porção conhecida por Le Montrachet (em Chassagne-Montrachet). 80% das vinhas foram plantadas em 1953 e 20% em 1972 produzindo vinhos longevos.
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O vinho estava fantástico, com sua cor dourada, oleosa, parecendo vinho de sobremesa (os mais desavisados pensariam em um vinho doce). Um radicalismo no olfato, remetendo a tangerina, cravo, mel e damasco. Na boca impressionou pelo final infinito, o sabor não vai embora nunca (por favor, não beba café após um vinho desses), um vinho de meditação. Quanto custa um desse? Nem me atrevo a dizer o valor, mas diria que custa generosidade, solidariedade, amizade … Ou seja, coisas que não tem preço.

 

Domaine Roulot, Borgogne Blanc

roulot1Borgonha branco, básico, de Jean-Marc-Roulot. Ele é casado com Alix de Montille, filha de Hubert de Montille (o senhor careca que praticamente narra Mondovino). Roulot também é ator, inclusive já filmou no Brasil o filme Gringos no Rio. Quando seu pai faleceu, ele não retornou imediatamente para sucedê-lo, nos meses iniciais, a família contratou um administrador e ele só voltou à propriedade alguns anos depois.roulot2

Vinho feito na região de Meursault (Borgonha), 100% chardonnay, 12%, safra 2004. Cor dourada e aromas iniciais de manteiga, que evoluíram para pêssego e pêra. Na boca é um vinho untuoso que termina com um leve salgado, aflorando a mineralidade que não o deixa ficar enjoativo. Um excelente exemplar, que mostra que vinhos básicos, de grandes produtores, podem ser ótimos. Encontrado na Mistral (61-3701 1000).