Vinitaly 2010- Segunda parte

vinitaly1Dando sequência à cobertura da Vinitaly, Alessandra Rodrigues nos traz a segunda parte:

“À tarde pude conhecer outras casas vinícolas das regiões Abbruzzo e Marche, como Vigna Amato, com ótimos Verdicchi dei Castelli dei Jesi DOC Clássicos e Reservas, Rosso Piceno e um interessante Vi’ de Visciola, uma bebida aromatizada a base de vinho e cerejas.  Passei pela casa Marconi, onde experimentei outros Verdicchio que se harmonizam perfeitamente com os crustáceos. Provei também os Verdicchio da casa Marchetti e pude comparar todos. Na Podere Castorani tinha até um carro de fórmula 1 no stand.  As pessoas paravam pra provar os vinhos e apreciavam o belo exemplar do carro de Jarno Trulli.

Na casa Conti di Buscareto, espumantes feitos 100% com a uva Verdicchio, e o vinho rosato feito com a uva Lacrima 100% também foram muito interessantes. Mas o mais interessante mesmo foi poder ter provado uma cerveja vermelha artesanal, feita colocando vinho da uva Lacrima na primeira fermentação  a  alta temperatura. A segunda fermentação foi feita em garrafa. Uma delícia!!! Cerveja com gostinho final de uva!!

Nos dias seguintes, passei pela Toscana, pela Lombardia, pelo Alto Adige, pela Campania, pelo Veneto…Na Fattoria Ormanni os Chianti eram excelentes e o Super Toscano Julius (Merlot e Syrah) também era muito bom! Assim como os Chianti da Monteraponi  – muito muito bons! Na casa Franz Haas, famosíssima pelos seus grandes vinhos, provei um Pinot Nero e um excelente Moscato Rosa! Não podia deixar de passar pra cumprimentar a proprietária da casa Marisa Cuomo e rever a cantina que visitei quando ela estava construindo. Ela ficou contente em me mostrar as obras feitas, por fotos. E obviamente não podia deixar de experimentar o magnífico Fior d’Uva, o Furore…Visitei também uma amiga da Castello del Terriccio e claro, provei todos os vinhos, que gosto muito.       

Passei também pela região específica do Franciacorta e pela Sicília que adoro, além de ter provado alcun vinhos da Emilia Romagna, que também é pouco conhecida no Brasil, mas está produzindo vinhos e principalmente espumantes interessantes. Em um dos stands conheci “Il Fornaio Anarchico”, um especialista em biscoitos, Daniele, que me fez provar o “Bustreng” que disseram tervinitaly2 propriedades afrodisíacas…Biscoitos com especiarias e vinhos romagnolos – combinação perfeita!!

Os vinhos orgânicos que provei também foram de qualidade, apesar das dificuldades pra produzí-los, como me contaram vários produtores.

Gostaria de citar todas as casas vinícolas visitadas e todos os vinhos provados, mas foram muitos!!!”

Alessandra Rodrigues.

Mâcon-Village Domaine Valette

valette2Mâcon-Village Domaine Valette 2005. Um vinho natural, sem adição de sulfitos, chaptalização nem acidificação, com leveduras indígenas, de uma denominação de menor importância no sul da Borgonha, feito 100% de chardonnay. Uma cor bem amarelada, com notas de oxidação, e aromas de resina, amêndoas e mel. Corpo médio a encorpado, colheita manual de vinhedo com idade média de 75 anos, e amadurece nas barricas de carvalho, sobre as borras finas por até um ano.

Enoteca Fasano eleva preço de vinho em mais de 45%!!!

Anjou Marie Besnard 2002, feito pelo casal Agnes e Rene Mosse do Domaine Mosse, 100% chenin blanc. Um vinho já postado aqui, mas que não é sacrifício algum postá-lo novamente. Não é um vinho fácil para iniciantes em vinho branco, tem aromas oxidados e de tangerina. Bastante encorpado, untuoso e de final longo. Um vinho que só é procurado por apreciadores desse estilo. Como no Brasil o vinho mais consumido é o tinto, e dentre os brancos, esse tipo fica em terceiro plano, não entendo como o importador (Enoteca Fasano) elevou o preço em 45,89% do preço cheio, que era de R$ 292,00, custando agora os incríveis R$ 426,00. Digo do preço cheio, pois, em abril desse ano eles fizeram uma promoção de 30% em cima do preço antigo, saindo por R$204,40. Isso tudo para não dizer o preço desse vinho nos EUA, que custa $29,00 (vinte e nove dólares=R$52,20). Todas essas variações são para o vinho da mesma safra, 2002.

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A mesma Importadora vende um Cru Bourgeois por R$229,00 que pode ser encontrado no Carrefour por R$26,90 (custava R$85,00), mas essa eu conto outra hora.

Quinta de Baixo Reserva 2005

quintadebaixoVinho da Bairrada, aonde os tintos são dominados pela casta Baga, esse exemplar utiliza as uvas Maria Gomes e Arinto. O vinho fermenta e estagia em barricas de carvalho francês, dando complexidade, caráter e uma acidez equilibrada.

O vinho apresenta uma bela cor amarelo-ouro, com um grande volume de boca. Toques de baunilha são bem notados devido à passagem por madeira, e seu final é intenso e longo.

Chateau de Fonsalette 1999

fonsalette1Esse é o vinho que gerou toda uma história entre o cineasta/Sommelier Jonathan Nossiter (Mondovino) e a loja de vinhos Cave Legrand em Paris. História iniciada no capítulo 2 do livro Gosto e Poder (de Nossiter), e desvendada no epílogo do mesmo. Nesse caso foi o Fonsalette 1997, ano da morte de Jaques Reynaud (que não deixou filhos), e não o que descrevo aqui, o 1999, já produzido por seu sobrinho Emmanuel Reynaud. 

O Chateau de Fonsalette branco é um vinho feito e vinificado no Chateau Rayas, que é um dos grandes produtores de Chateauneuf du Pape no Rhone. É feito das uvas Grenache-80%, Clairette-10% e Marsanne-10%, fonsalette2sendo um Côtes du Rhône diferenciado. Esse 99 apresentou uma cor amarelo-ouro com aromas herbáceos, vegetais e resinosos. Na boca um final longo e encorpado, mas já com uma acidez decadente. Um vinho bem superior aos Côte du Rhone encontrados por aí.

Philippe Leclerc, Gevrey-Chambertin 1Cru, La Combe aux Moines 1996

leclerc2Tive nova oportunidade de tomar o Gevrey-Chambertin do Philippe Leclerc, graças à generosidade do amigo Guilherme (Um papo sobre Vinhos).  Digo isso porque esse vinho não tem importador no Brasil e para ter acesso a ele, alguém tem que trazê-lo do exterior. Foi o que ele fez.

Philippe Leclerc faz 03 Gevrey-Chambertin 1Cru, são eles: Les Champeaux, Les Cazetieres e La Combe aux Moines. Esse último, muitas vezes considerado o mais fino dos três, como disse a revista Burghound n.33. O solo desse vinhedo é composto de argila e calcário, intercalados com rochas. Isso faz com que as raízes das vinhas se aprofundem na terra em busca de nutrientes. O vinho não sofre filtração nem colagem (processo de clarificação, em que claras de ovos batidas são adicionadas, para aglutinar as partículas suspensas no vinho). Seus 1Cru são envelhecidos por até 2 anos em barricas de carvalho novas.                                                                                                                      leclerc1

Como já tinha dito, eu já tinha tomado a safra 2006 desse vinho que se mostrou muito sedutora. Já esse 1996 apresentou mais complexidade que exuberância. Sua cor denotava problemas. Alaranjada, bem turva e com sedimentos, sugeria um vinho defeituoso, porém no nariz e na boca o vinho estava perfeito, apresentando um incrível tanino (firme sem agressividade) e uma acidez perfeita. Isso demonstra que nem sempre turbidez é sinônimo de vinho defeituoso (vide château Chalon). Leclerc sugere que seus vinhos, de safras médias, sejam consumidos de 5 a 10 anos após a safra, e de 10 a 20 anos safras mais favoráveis.

Mas de Daumas Gassac, o Grand Cru do Languedoc

Um vinho enaltecido por Hugh Johnson, que o chama de “O único Grand Cru do Midi”, por Robert Parker e Michael Broadbent, gera no mínimo curiosidade de conhecer. Em apenas 30 anos, Mas de Daumas Gassac se tornou um ícone do Languedoc. O vinho foi criado em 1971 pelo renomado enólogo de Bordeaux Emile Peynaud, que aceitou o convite da família Guibert por nunca ter assistido ao “nascimento de um grande vinho”.  A propriedade conta com mais de 40 variedades de uvas, procedentes dos mais variados países como Portugal, Israel, Suíça, Armênia… Todas plantadas em terras da vinícola.  
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Tive a oportunidade de conhecer o vinho top, nas versões tinta e branca, na presença da simpática Victorine Babé, responsável comercial para Espanha, Portugal e América Latina. Ela é francesa, mas fala um ótimo português, bem melhor que alguns franceses que já moram aqui há 30 anos, e essa foi a primeira vez que ela veio ao Brasil.
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O Mas de Daumas Gassac tinto é feito de 80% Cabernet Sauvignon e os outros 20% por outras 20 uvas diferentes como Cabernet Franc, Bastardo, Pinot Noir, Merlot, Tannat, Dolcetto… E o degustado foi da safra 2006. Um vinho estruturado lembrando mais um Bordeaux de altíssima qualidade que um Borgonha. Um vinho que permite um envelhecimento de mais de 25 anos em boas safras. O branco já não contou com o auxílio do Emile Peynaud, que já havia falecido à época de sua criação. Feito de Chardonnay, Viognier, Chenin Blanc e Petit Manseng (20% de cada uma delas) e mais 15 outras uvas francesas. Foi degustado o da safra 2005, que apresentou uma cor dourada linda, e sabor e aromas bem peculiares. Vinhos de exceção do Languedoc. Não foi à toa que Robert Mondavi tentou a todo custo comprar uma parcela das terras de Guibert, como mostrou o filme Mondovino.

Chardonnay Grego

cambas1Esse vinho foi comprado em uma dessas promoções de fim/início de ano e confesso que nada sabia sobre o produtor e o vinho. Comprei pela curiosidade de tomar um chardonnay grego e logicamente pelo preço, que era bem convidativo (R$22,00). Esses vinhos de promoções não são para serem guardados e sim tomados logo. Mais tarde fiquei sabendo cambas2que esse produtor (Cambás) é um dos mais antigos e tradicionais da Grécia.                

O vinho foi o Cambás Chardonnay 2005, que apresentou uma cor amarelo-ouro bem carregada, fermentado em cubas de inox e 25% maturado em barricas novas de carvalho, apresenta um corpo médio e aromas de frutas maduras como abacaxi em calda e mel. Um ótimo preço/qualidade.

Pichon-Longueville Baron 1999

pichon1Atendendo mais uma vez ao convite do amigo Diniz, tomei o vinho Pichon- Longueville Baron safra 1999. Até a metade do século 19, o Pichon Baron e o Pichon Lalande, como são conhecidos hoje, eram uma propriedade só. Disputas familiares fizeram com que ocorresse a divisão, e em 1933 a Pinchon Longuevile foi comprada pela família Bouteillier, e em 1987 a atual proprietária, a AXA Millésimes, a comprou.                                            pichon2

Esse exemplar 1999 é uma ótima compra por não ter sido uma safra inflacionada pelas    pontuações dos críticos internacionais. Feito de 70% C.Sauvignon, 25% Merlot e 5% C.Franc,  apresentou uma bela cor vermelho-rubi, com aromas de especiarias, frutas vermelhas, madeira e couro. Muito macio e elegante com taninos bem redondos, muito fácil e gostoso de tomar. Um vinho mais para finesse que para força.