Buena Vista Grand Reserve 1995

buenavista1Um cabernet norte americano como não se ouve falar. Sempre que falamos de vinhos do novo mundo,  principalmente cabernet sauvignon, pensamos logo em vinhos massudos, com muito extrato, pesados, de muito corpo. Aromas adocicados e enjoativos. Pois é, tive uma grande surpresa com esse vinho da vinícola californiana Buena Vista, da apelação de Carneros no Napa. O vinho era o top dabuenavista2 vinícola, grand reserve 1995. Estava pronto, no auge, bem redondo, sem aresta alguma. Taninos, acidez, aromas, cor, retrogosto… Tudo equilibrado, no ponto de ser tomado. Difícil acertar esse momento, mas quando acontece o prazer é enorme. Um vinho que tomado às cegas se passaria por velho mundo facilmente. Fiquei me perguntando se não foi esse tipo de vinho californiano que disputou com os franceses a conhecida degustação de Paris em 1976, confundindo até os franceses.

Vinhos de Liquidação

Comprei esse vinho em uma das várias promoções de fim e início de ano. Nessas promoções, vinhos de safras antigas, que não devem ser guardadas e sim consumidas imediatamente, são oferecidos com grandes descontos, fazendo com que compremos rótulos que dificilmente seriam nossa primeira escolha. Nesses casos, o preço, faz com que assumamos o risco da garrafa estar boa ou não. É bem verdade que também há vinhos de safras recentes, em que o risco diminui consideravelmente.
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O vinho tomado foi o Sancerre, do Domaine de la Perrière, chamado Mégalithe, o top da casa, safra 2002, produzido com sauvignon blanc de vinhas muito velhas. Ao remover a cápsula, a rolha apresentava uma crosta de mofo que me levou a duvidar da qualidade do vinho. Ao despejar na taça, uma cor bem amarelada me fez mais temeroso. No nariz, o vinho mostrava uma madureza que lembrava abacaxi em calda, e na boca uma discretíssima acidez. Muitos chamariam o vinho de defeituoso, se comprado em um restaurante, pelo preço da carta, justificaria plenamente a troca. Classificaria o vinho como tomável, devido às circunstâncias da compra e características mesmo, mas sem nenhum encantamento. Pode ter sido algum problema da garrafa, mas o que quero dizer é que vinhos de grande liquidação, sempre correm esse risco. Postagem publicada no www.cafecaviar.com.br/blog/vinhos-de-liquidacao/

Como preservar o rótulo do seu vinho

Todo mundo já passou pela experiência, de ter o rótulo do vinho rasgado ou mesmo enrrugado, ao se retirar o mesmo da adega climatizada ou da geladeira. Na adega, com espaço reduzido entre as gavetas, somado aos formatos mais bojudos de certas garrafas, toda vez que se puxa uma gaveta, os rótulos friccionam na gaveta de cima e muitas vezes a gaveta puxada danifica os rótulos que estão na de baixo. Tanto na geladeira como na adega climatizada, muitas vezes pelo excesso de umidade, os rótulos enrrugam e ficam feios para quem gosta de colecioná-los.
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A maneira que encontrei de preservá-los, foi cobrir os rótulos com filme de PVC transparente. Compre um rolo de 15 metros desse filme, ele geralmente tem 28cm de altura, e com um estilete bem afiado, divida-o ao meio, obtendo 2 rolos de 15 metros por 14 cm de altura cada um. Com um dos rolos abrace a garrafa e dê uma volta de 360 graus sobre o rótulo. A garrafa está pronta para ir para adega ou mesmo para geladeira. O rótulo não enrrugará nem será rasgado pelo atrito das gavetas.

Vallontano Tannat 2007

vallontano1Falar da Vallontano sem falar de seu enólogo é no mínimo enxergar seus vinhos de forma distorcida. Luís Henrique Zanini é um talentoso enólogo e conhecedor dos vinhos mais obscuros que possamos imaginar. Lendo o livro Gosto e Poder, do cineasta sommelier, Jonathan Nossiter temos uma noção de quem é o Zanini. No livro descobri que vários vinhos nacionais de que gostava e achava que tinha conhecido através do Ed Motta, na verdade foram apresentados ao Nossiter pelo Zanini. São vinhos que, quando quero consumir um vinho brasileiro, é atrás deles que eu vou. Para citar alguns exemplos: Angheben, Quinta Ribeira de Mattos, Cave Ouvidor,

vallontano2Vallontano e Era dos Ventos. São vinhos pouco conhecidos do grande público, mas que se assemelham pela pequena produção e ausência de manipulação para se parecerem com os exemplares Chilenos e Argentinos.

O vinho tomado foi o Vallontano Tannat 2007, que só vai chegar ao mercado, através da Mistral, em maio. A Vallontano é a única vinícola brasileira a constar no portfólio consagrado da Mistral. O vinho tem um corpo médio e não está tão tânico e rústico como outros exemplares da cepa. Bastante aromático e deve fazer frente ao exemplar 2004, que foi o que tornou o vinho conhecido dos enófilos garimpeiros como eu. Postado no www.cafecaviar.com.br/blog/vallontano-tannat-2007/

Château Chalon 1992

Antes de tudo, Château Chalon não é um château propriamente dito, é uma apelação de 50 hectares na região do Jura, aonde se produz o vinho amarelo (vin jaune), seco, de grande longevidade. Uma curiosidade é que a crise da filoxera do século 19 só chegou à região, décadas depois de ter atingido Bordeaux. O vinho é feito da uva Savagnin que é colhida tardiamente e envelhecida em barris de carvalho por um período mínimo de 6 anos e 3 meses, mas há produtores que mantêm o vinho em barril por até 10 anos.
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O carvalho ligeiramente poroso permite a evaporação de cerca de 40% do total do vinho contido no barril. Uma camada grossa de flor de levedura, parecida com uma espuma branca, se forma na superfície e ajuda a evitar a oxidação excessiva. Não há complemento do barril e após o tempo de envelhecimento o vinho é engarrafado em “clavelins” com capacidade de 620 ml. Isso é baseado no fato de que para cada litro de vinho, após o envelhecimento, restam 620 ml.

Esse método de envelhecimento, semelhante ao usado para o Jerez, permite ao vinho adquirir sabores exóticos, e é melhor apreciado após 10 anos em garrafa, ou seja, 16 anos após a safra impressa no rótulo. O vinho é chamado de imortal, durando mais de 100 anos em boas safras.
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O vinho tomado foi o Château Chalon do produtor Baud Père et Fils safra 1992, que já tinha tomado alguns anos atrás, e por não estar habituado com esse estilo, desaprovei o mesmo, chegando a dispensar boa parte da garrafa. Agora alguns anos à frente, e bem mais acostumado a esse estilo oxidado, tomei novamente essa mesma safra e me surpreendi com a mudança do meu gosto. O vinho tem uma cor alaranjada, levemente turva, com aromas de mel, amêndoa, nozes e até biotônico. Na boca ele é untuoso, licoroso parecendo que vai ser adocicado, mas não, é bem seco. Um vinho diferente de tudo que se faz por aí, um vinho para curiosos sem preconceito.

As duas primeiras fotos, Chalon 1895 (a última safra antes da filoxera) e foto do barril: Site oficial. Foto do Chalon 1992: Ricardo Salmeron.

A-Mano 2008

a-manoA vinícola italiana A-Mano faz tintos e brancos. O vinho tomado foi o A-Mano branco feito de 50% Fiano di Avelino e 50% Greco di Tufo, castas locais da Puglia, no sul da Itália aonde é feito o vinho. A-Mano significa “feito à mão” o que leva a crer no cuidado e esmero dedicado na produção do mesmo. Na verdade as uvas são compradas de pequenos produtores, que mantém vinhas de até 100 anos dessas variedades, e são inspecionadas pelo enólogo canadense Mark Shannon, que trabalhou na Califórnia, junto a sua esposa, a italiana Elvezia Sbalchiero.
 
O clima mediterrâneo, aliado a tradição vinícola da Puglia, produziram um vinho leve, com ótimo frescor e corpo médio. Não passa por madeira nem por fermentação malolática. Perfeito para os dias de calor que costumam ocorrer em nosso país. A Puglia é uma região que vale a pena acompanhar, pela crescente qualidade de seus vinhos, aliada a preços muito competitivos.
Matéria postada originalmente no blog do site www.cafecaviar.com.br.

Campo Eliseo 2003

campoeliseo1Essa semana resolvi falar de um vinho espanhol pouco falado por aqui, mas de grande categoria, como vários outros espanhóis. O vinho em questão é o Campo Eliseo, feito a quatro mãos pelos irmãos Jaques e Françõis Lurton e o casal Dany e Michel Rolland. Hoje, Jaques Lurton deixou a sociedade, restando seu irmão.

Em 2000 eles decidiram unir suas experiências de enólogos internacionais, para produzir um vinho de alta gama na região espanhola de Toro, vizinha a Ribera del Duero, no noroeste da Espanha. Nas palavras dos enólogos: “Decidimos elaborar juntos esse vinho em Toro, por essa região reunir todos os elementos que propiciam uma grande uva; solos pobres, mas bem drenados, com camadas profundas de cascalho, que muitas vezes podem chegar a cinco metros de profundidade, depositados pelo rio vizinho, e um subsolo de argila que retém perfeitamente a umidade.”

O vinho é feito 100% de Tinta de Toro (como é chamada a Tempranillo nessa região), de vinhas de 40 anos. Passam de 16 a 18 meses na barrica, antes de serem engarrafados sem filtração, e só são feitas 15.000 garrafas por ano. Eles também fazem um segundo vinho chamado Campo Alegre, mas esse campoeliseo2nunca provei. Campo Eliseo significa “campos benditos” ou “campos abençoados” em português.

Abençoado será quem tiver a oportunidade de tomar esse vinho de cor púrpura, cremoso, e potente. Já tive a oportunidade de tomar também a safra 2002, que está bem mais domada. Nessa safra 2003, sugiro passar por 02 horas de decanter para amenizar o impacto. Vale a pena também pesquisar o preço, pois já encontrei esse vinho por R$431,00 em uma importadora e por R$196,00 em outra.
Postagem publicada no www.cafecaviar.com.br/blog/campo-eliseo-2003/

Entrevista com a sommelière Eliane Burin

O Decantando a Vida traz essa semana uma entrevista com a competente sommeliére Eliane Burin, oriunda do Rio Grande do Sul e recém chegada da Itália. Confira:

De onde você veio, e o que te fez vir para Brasília?

eliane burinSou gaúcha, vim de Porto Alegre. Fui convidada para trabalhar numa Importadora de Vinhos e mudei para Brasília.

Há quanto tempo você trabalha com vinho, e o que ele representa para você?

Há três anos descobri o fascinante universo dos vinhos. Através dele conheço pessoas, adquiro novos conhecimentos, viajo e faço um trabalho maravilhoso, que é mostrar como o mundo do vinho pode ser simples e prazeroso ao mesmo tempo.

Você já trabalhou em lojas, importadoras e restaurantes? Qual dessas propostas você acha mais interessante?

Já trabalhei em duas lojas com Wine Bar e uma Importadora. A loja me proporcionou maior interatividade com o consumidor, o que foi muito gratificante.

Soube que iria fazer o curso da A.I.S (Associazione Italiana di Sommeliers) na Itália, conceituada escola em que se formaram Guilherme Corrêa e Alessandra Rodrigues (já entrevistada aqui no Decantando a Vida), por ainda não aconteceu?

O curso na A.I.S é um projeto antigo e que ainda vou realizar. Em 2010 viajarei para a Itália para conhecer regiões produtoras e degustar vinhos.

Você veio do sul, está em Brasília há quanto tempo? Quais as principais diferenças desses lugares em relação ao vinho?

Eu estou em Brasília há apenas um ano. A diferença é cultural mesmo, crescemos observando nossos pais colhendo uva e fazendo vinho. Consumimos vinho diariamente, está no nosso DNA. Aqui, sinto que o consumo é mais social.

O consumidor do sul, por ser uma região produtora, é mais bairrista/nacionalista ou o vinho estrangeiro vem em primeiro lugar?

O consumo de vinho estrangeiro é maior. Porém, a qualidade dos vinhos brasileiros tem melhorado. Em compensação, os nossos espumantes são um excelente referencial.

Hoje, aqui na cidade, toda semana há um ou mais eventos de vinho. Lá no sul também havia esse movimento intenso das importadoras?

Sim. Os eventos são constantes, o que estimula o consumo e o conhecimento de novos rótulos. O consumidor está mais informado e aberto a novas experiências enogastrônomicas.

Você tem uma região predileta em relação ao vinho? Se sim, qual e por quê?

Sou apaixonada pela Toscana. Além de produzir grandes Brunellos é uma região muito bela e charmosa.

Qual é a cor do vinho branco?

vinhobranco2A resposta parece óbvia mas não é. Os vinhos normalmente são classificados, quanto a cor, em tintos, brancos e rosé. Os tintos dificilmente serão alvo de dúvidas, assim como os rosé, porém os brancos apresentam nuanças que podem confundir o observador. Quando comecei a me interessar por vinho foi me servido um Jerez e  perguntado em que categoria aquele vinho se encaixava. Pensei em tinto. Não podia ser. Rosé? Sei lá. Branco? Mas como se o vinho tinha cor de guaraná? E me foi dito que  era branco mesmo.
Os vinhos brancos levam esse nome que não condiz com a realidade, alguém já viu um vinho na cor de leite? Pois é, branco é leite. O vinho branco é uma nomeclatura que abrange as mais variadas tonalidades, que vão do amarelo bem clarinho (quase cor de água, se é que água tem cor) até a cor bem amarelo-ouro, ou mesmo uma cor amarronzada, característica de maceração prolongada ou oxidação intencional como ocorre com exemplares do Vêneto. Confesso que tenho uma queda por vinhos brancos de cores mais carregadas, mais encorpados e mais untuosos, mas não desprezo os vinhobranco1outros tipos. Tudo depende do momento e da companhia, pois um dos grandes prazeres é compartilhar a garrafa.
Os vinhos das fotos são exemplos de vinhos brancos que fogem do convencional. São dois vinhos brasileiros, o exemplar da esquerda é o Cave Ouvidor 2005 e o da direita o Era dos Ventos 2008. Ambos feitos da mesma uva, a Peverella. Postagem publicada originalmente no site Café Caviar. O post dessa semana também já está publicado, e pode ser lido clicando aqui: www.cafecaviar.com.br/blog/campo-eliseo-2003/

Opus One 1996

opus1A outra garrafa, bebida na noite em que tomei o Vega-Sicilia Único 1970, foi o grande vinho norte-americano Opus One da safra 1996. Nessa safra as chuvas de primavera causaram uma diminuição da produção das vinhas, principalmente de Merlot e Malbec, e essa primavera fria foi seguida de um verão muito quente, produzindo um período curto e compacto de colheita. Isso tudo gerou uma safra minúscula, com muita estrutura.

A Opus One foi a primeira vinícola de butique do Napa Valley, sendo uma parceria entre Robert Mondavi, originário de uma família de imigrantes italianos, e Philippe de Rothschild, proprietário do Château Mouton Rothschild. Em 1984 as primeiras safras, 1979 e 1980, foram lançadas simultaneamente e em 2004, Mondavi, com problemas financeiros, vendeu sua parte ao grupo Constellation. Hoje a vinícola pertence a esse grupo e a Philippine de Rothschild, herdeira de Philippe.                                                                                                                                    opus4

O vinho em questão era um vinho muito estruturado, com bastante fruta, em uma cor ainda púrpura. Aromas de menta, violeta, tabaco e caramelo são sentidos, e na boca é encorpado e longo. Mesmo aos 14 anos de idade esse vinho feito de 86% C.sauvignon, 8% C.Franc, 3% Merlot e 3% Malbec ainda tem muito tempo pela frente. Ter provado esse vinho foi outro desejo saciado. Sempre tive vontade de tomá-lo, mas vinhos norte-americanos desse nível, além de serem caros, não são facilmente encontrados por aqui. Principalmente em safras antigas como essa.