Cabernet Sauvignon argentino de uma ótima safra por lá. Esse vinho é feito em Lujan de Cuyo, região de Mendoza. Muita gente o considera o melhor C.Sauvignon argentino. O vinho demonstrou ser um muito fácil de beber, sua cor já estava evoluída, com bordos atijolados.
No nariz muita fruta madura, compota de ameixa e todo aquele adocicado de vinho argentino. Na boca se confirma o doce, taninos sedosos sem nenhuma adstringência. Foi chamado de vinho “fofo” por uma das presentes. Fiquei pensando o que seria um vinho “fofo” e talvez seja isso mesmo: Docinho, que não pega na língua, fácil de agradar. Não é o tipo de vinho que procuro hoje para tomar, mas com certeza, tem muitos apreciadores.
Ch. Ausone 1997
O outro vinho da noite em que tomei o Mouton-Rothschild 81 foi o Château Ausone 1997. Um vinho da margem direita de Bordeaux que privilegia a merlot e a cabernet franc, contendo 55% da primeira e 45% da segunda. O château leva o nome do poeta latino Ausônio e é o menor dos premiers grands crus classés de Bordeaux, com apenas sete hectares. Esse é o vinho que rivaliza com o Cheval Blanc, pelo título de melhor de Saint-Émilion. Em certas safras chega a custar bem mais que seu rival, e junto a ele, faz parte do chamado Bordeaux Big 8 (os 5 premier cru do lado esquerdo, os dois citados e Petrus).
A safra 1997 teve um mau começo, com preços altíssimos, mas já em 2001 os vinhos estavam disponíveis pela metade do preço “en primeur”. Hoje a 97 é considerada uma safra magra em Bordeaux; são vinhos prontos, que não vão melhorar com a guarda, para beber agora.
Esse Ausone 97 estava com uma textura aveludada, aromas intensos de eucalipto, sem ser pesados. Um sabor marcante, prolongado, macio. Um Bordeaux delicado, feito por um grande produtor, que se superou mesmo em uma safra mediana.
Ch. Mouton-Rothschild 1981
O que esperar de um vinho com trinta anos de idade? Potência, exuberância? Com certeza não. Dependendo do produtor e da qualidade da safra, é possível que o vinho ainda esteja vivo; mas nada de esperar aquela fruta potente e aromas explosivos dos exemplares recentes.
Vinhos desta idade normalmente apresentam a chamada “complexidade”, mostrando uma cor granada, com reflexos alaranjados e aromas que tendem para ferro, iodo, chá, musgos… E um corpo médio com taninos nada agressivos. Muita gente ao se deparar com essas características imagina estar tomando um vinho defeituoso ou insatisfatório ao seu paladar. Não gostar desse tipo de vinho não é demérito algum, é apenas gosto pessoal. Apreciar esse estilo necessita tempo, litragem, aprendizado e gosto adquirido. Quem jamais tomou um vinho bastante evoluído irá estranhar a primeira vez, e se após várias provas, chegar à conclusão de que essa evolução não o agrada, tudo bem, você gosta é de vinho jovem e não há problema algum nisso.
Falei tudo isso para dizer que um vinho como o Château Mouton Rothschild 1981 é um vinho desses: Evoluído, pronto, que não vai melhorar em nada com a guarda (pelo contrário, beba já). Diferentemente de safras mais antigas como a mítica 1945, ou a tão idosa quanto, 1982 (desse mesmo produtor), que ainda podem ser armazenadas. A safra 1981 em Bordeaux é considerada o que os especialistas chamam de safra fantasma, boa, mas adjacente a uma histórica, como a 82, se torna menos badalada.
O Mouton 81 estava fantástico, confesso que não esperava tanto desse exemplar. Sua cor estava opaca e turva, provavelmente pela idade e agitação da borra. Sua melhor característica foi a complexidade aromática, que evoluiu muito durante a prova, apresentando aromas de iodo, cravo e terra molhada. Tem um corpo médio e taninos bem suaves. O outro grande vinho dessa noite fica para um próximo post.
Ch. Haut-Brion Blanc 04, vinho Raro!!
O Château Haut-Brion é o único dos premier grand cru classe de Bordeaux, que faz um vinho branco que leva o nome do primeiro vinho tinto. Esse é um vinho raro . Sua produção vem de um vinhedo de apenas três hectares, de solo plano, de cascalho, e subsolo de argila, no cume de uma colina dentro da cidade. Isso gera um microclima precoce, e Haut-Brion é quase sempre a primeira propriedade de Bordeaux a colher uvas brancas. Uvas que estão sempre maduras, e tem seu mosto fermentado em barris novos, franceses, da região de Allier. O vinho descansa por 12 meses, e envelhece em barris novos (apenas 45%). Antigamente todo envelhecimento era feito em barris de primeiro uso, o que gerava um aroma de carvalho muito intenso.
Metade do vinhedo é plantado com Sémillon e a outra metade com Sauvignon Blanc, que tem uma produção muito baixa, pois as videiras dessa cepa sofrem de eutipiose. Já a Sémillon tem uma colheita farta, mas como o vinho leva praticamente 50% de cada cepa, sua produção fica ainda mais escassa. Esse Haut-Brion Blanc 2004 se mostrou com uma cor amarelo-ouro brilhante, aromas de carvalho e pêra bem madura. Denso, untuoso e com ótima acidez, é um excelente acompanhamento para vieiras, crustáceos e peixes nobres. Sugiro uma lagosta ao molho bisque. Vinho raro já no início do ano. Espero que degustar outros no decorrer do mesmo.
Novos Vinhos da Villagio Grando
Tive o prazer de ser convidado por Marcelo Camargos e sua esposa Zuka, para degustar os novos vinhos da Villagio Grando que ainda não estão no mercado. As garrafas nem rótulo tinham, traziam apenas uma etiqueta que dizia a safra e a uva do vinho, quando varietal.
A Villagio Grando é uma vinícola de Santa Catarina, da região de Herciliópoles, município de Água Doce. As primeiras mudas foram trazidas da França pelo enólogo Jean Pierre Rosier, e foram plantadas em 1998. Em 2000, foram implantados alguns dos vinhedos hoje existentes em escala comercial, e atualmente a vinícola conta com um vinhedo de 48 hectares.
Os vinhos degustados (da esq.p/dir.) não tinham rótulo nem ficha técnica, sendo assim, uma degustação praticamente às cegas, que me levaram às seguintes impressões:
1-Espumante Brut Rosé: Um vinho com um perlage bem intenso, fechando a coroa, com um nariz simples e baixa cremosidade. Provavelmente feito pelo método charmat.
2-Sauvignon Blanc 2009: Cor bem amarelada. Denso e untuoso na boca, com baixa acidez e um leve açúcar residual (que me incomodou). Não lembra em nada um S.B. tradicional.
3-Chardonnay 2008 ou 09: A etiqueta estava meio apagada e não dava para afirmar a safra. Outro vinho que fugiu dos padrões, com um herbáceo bem marcante, e um fumo e café que sugeriam passagem por carvalho, apesar de os representantes dizerem que a V.G. não utiliza madeira em seus vinhos. Exemplar com ótima acidez, que faltou no Sauvignon Blanc.
4-Rosé 2009: Sugerido como um corte em proporções iguais de C.Franc, Merlot e Malbec, é um rosé de cor mais densa, como os do novo mundo e os espanhóis e portugueses. Outro vinho que foge do convencional, com a fruta bem cozida, lembrando até um porto ou um madeira.
5-Além Mar 2008: Vinho que promete ser a estrela da casa, juntamente com o chardonnay, é um corte de C.Franc./Merlot/Malbec, mas haverá uma mudança gradual para cepas portuguesas. Elaborado pelo enólogo português Antonio Saramago (o mesmo que faz o vinho Dúvida? já postado aqui, e que hoje é meu vinho português predileto), é aromaticamente complexo, passa 08 meses em barricas francesas de tostagem média, lembrando velho mundo. Já em boca ele confirma ser um exemplar do novo mundo.
6-Colheita Tardia 2009: O nariz doce engana antes do primeiro gole, sugerindo algo enjoativo. Ao beber, a acidez é cortante chegando a incomodar. Aromas químicos e de jasmim, chegou a lembrar um Jerez em algum momento.
A impressão que tive da Villagio Grando é que eles não querem repetir o que os outros estão fazendo. Querem fazer vinhos de exceção, movidos pela paixão, que irão agradar não o grande público, mas aquele grupo específico de aficionados por vinhos exóticos e radicais. Eu aprovo!
Vinhos no encerramento do semestre na FACUL

Les Fumées Blanches, F.Lurton (branco) – Um vinho branco que agradou a todos. A sensação da noite. Tanto que foram duas garrafas a mais deste refrescante vinho de Françoise Lurton. Este que é um dos maiores produtores de Sauvignon Blanc do Languedoc, França. Como a maioria comeu peixes e frutos do mar no jantar, ele combinou deliciosamente com os pratos. 86 pts.
Aquitânia Reserva 2006 C.Sauvignon – um vinho leve p/ médio, com toques frutais e ótima estrutura. Já havia provado (ver nosso Log de Avaliações-DCV) e aprovado. Com toda característica dos cabernet’s chilenos. Muito gostoso à mesa. Uma harmonia e elegância marcante, com presente terroir e forte tipicidade. Um rótulo realmente expoente. Nota 88 pts. É desta viña que saem o laureado corte bordalês, Lazuli, e o premiadíssimo Chardonnay, Sol de Sol.
Aproveitando a deixa, registro que nos próximos dois semestres inteiros estarei estudando mais profundamente sobre vinhos e enologia na Faculdade – disciplinas obrigatórias -, o que repercutirá diretamente no aumento de qualidade do Site DCV, com Posts de maior conteúdo, digamos, acadêmico. Mas é lógico, sempre com aquela nossa marca hilariante, criativa e descontraída. Ganha o internauta, o leitor e os enófilos de plantão [risos].
Domaine Valette-Pouilly-Fuissé “Le Clos de Monsieur Noly-Vieilles Vignes” 1999
Inconfundível, incomparável, DEFINITIVO. Esses são alguns dos adjetivos que podem ser atribuídos a esse vinho monstruoso. Meu amigo Edinho diz que não gosto de vinho branco e sim de amarelo. Nunca tinha pensado nisso, mas acho que ele tem razão. Por outro lado, qual vinho é branco? Branco é leite, não há vinho realmente branco (já escrevi um post sobre isso, clique aqui). Mas voltando ao vinho em questão, ele é originário de uma propriedade de 15 hectares em Mâconnais, sul da Borgonha, natural, sem sulfitos, e é envelhecido em barris de carvalho por 05 anos antes de ser engarrafado. Isso leva a uma complexidade aromática no estilo de um Vin Jaune ou Château Chalon, com aqueles
cheiros de biotônico, epocler, misturados a mel e amêndoas. Cor super-alaranjada, que pode confundir os menos experientes, com vinho defeituoso. Na boca é um mamute. Encorpado, denso, volumoso e interminável. Seu final marca por bem mais de 60 segundos. Quem comprá-lo imaginando tomar um Puilly-Fuissé tradicional, ficará chocado com o que vai encontrar. Completamente dissidente do convencional. Emoção engarrafada. Tenho que agradecer publicamente a Jaques Trefois, por ter descoberto esse vinho e tê-lo indicado à World Wine para importá-lo. Parabéns. Em Brasília na Arte e Vinho (tel: 3248-3258).
Adegas e enotecas de Brasília. Imperdível!
Mais um serviço de utilidade pública do Site Decantando a Vida.com
Conseguimos lançar pelo DCV mais esta pesquisa útil ao internauta. Em dezembro passado a cidade inaugurou mais duas adegas para venda e distribuição de vinho. Acidentalmente, ao visitar a sorveteria Saborella da super-quadra 112 Norte, deparei-me com uma nova loja vizinha da sorveteria: a Bodega Austral. Pensei: -Nossa Senhora, já devemos ter várias dezenas de lojas na cidade. Foi então, que resolvi fazer um levantamento para publicar no Site. Há um bom tempo que desejava escrever sobre as adegas de Brasília e a espantosa quantidade existente. Sinal de que o mercado anda de vento em “ampola” – apesar dos comerciantes sempre acharem que faltam compradores…o humano nunca está satisfeito, não é mesmo [risos]. O fato é que a Capital a cada dia faz valer a fama de maior consumidora per capita de vinhos finos do País. Um recorde para uma cidade de apenas 50 anos! Um prato cheio para caras como eu – que jamais bebo rótulos repetidos – de escolher à vontade todo tipo de vinho produzido no mundo. Anotem aí a lista completa das 34 lojas.
Adegas/Enotecas:
Art Du Vin – 3365.4078 – QI.3 Lago Sul
Arte & Vinho – 3248.3258 – Lago Sul
Adega Brasília – 3340.2936 – 405 Norte
Adega Bordalesa – 3447.9716 – 308 Norte
Adega do Vinho – 3233.0006 / 3343.2626 – 408 Sul
Adega Laje de Pedra – 3274.7185 – 410 Norte
Banca Revista Maratona – 309 Norte
Bodega Austral – 3964.5699 – 112 Norte
Bordeaux & VINCI – 3248-7311 – QI.13 Lago Sul
Brilho – 3037.4533 – Gilberto Salomão
Casa do Vinho – 3345.1223 – 212 Sul
Casa Ouro – 3248.5058 – Gilberto Salomão
Club du Taste Vin – 3345.0384 – S/N
Empório da Cachaça – 3349.2299 – 314 Norte
Empório do Vinho – 3343.2626 – 104 Sudoeste
Emporium Fernandes – 3344.0065 – 103 Sudoeste
Expand Wine Store – 3226.6800 – 403 Sul (ambiente p/ degustação)
Fox Importadora – 3345.1242 – 113 Sul
Funil – 3326.3222 – 204 Norte (fechou)
Grand Cru – 3364.0334 – QI.9/11 Lago Sul (ambiente p/ degustação)
Maison des Caves – 3234.7268 – Shopping Casa Park
Maison D’argent – 3242.4142 – 409 Sul (virou padaria)
Mercado Municipal de Brasília – 3442.4500 – 509 Sul (ambiente p/ degustação)
Mistral – 3701.1000 – QI.9 Lago Sul
OBA Hortifruti Adega – 3038.8159 – 209 Norte
Portofino – 3274.4472 – 308 Norte
Scotch House – 3225.1153 – 403 Sul
Super Adega – 3403.4700 – Entrada Feira Paraguai
Vinheiro São Vicente – 3340.8450 – 111 Norte
Vintage Vinhos – 3328.8837 / 3326.1500 – Shoppings: Iguatemi/Conj.Nacional
Zahil – 3248.3111 – QI.5 Lago Sul (ambiente p/ degustação)
Delicatessens:
Adega Don Raphael – 3225.5307 – EQS 102/3 Sul
Belini – 3345.0777 – 113 Sul (ambiente p/ degustação)
Bonn Delikatessen – 3226.2204 – 204 Sul (fechou)
Chalé Suíço – 3274.5590 – 210 Norte
La Bússola – 3323.5262 – 103 Sul (ambiente p/ degustação)
La Palma – 3326.3209 – 404 Norte
Villa Francioni Rosé 2008
Eu já tinha tomado esse vinho algumas vezes, mas ele nunca tinha descido tão bem. O rosé da Villa Francioni é um blend de C.sauvignon, C.franc, Sangiovese, Syrah, Petit Verdot, Pinot Noir, Merlot e Malbec, uma verdadeira salada de frutas com 13,6% de teor alcoólico.
Sua cor casca de cebola, lembrando os rosés provençais, sugere um vinho leve e descontraído, mas que acompanha magnificamente uma refeição à base de peixes com molhos delicados e camarão. Na boca, apesar de 2008, apresentou uma acidez crocante e muito refrescante. Aromas lácteos e cítricos se notam presentes nesse vinho, que em 2009, encantou a Madonna quando esteve no Brasil. A safra atual desse rosé é 2008, mas acredito que este ano a vinícola deve lançar sua nova edição.
Cornellana e tender: inacreditável harmonização
A exatos seis meses provei um exemplar desta bodega chilena que não era lá uma “coca-cola”, mas… Um vinho bem feito, com todas características de novo mundo, mas sem exageros. Achei ele na adega Pão de Açúcar, por 35 reais. Um vinho bom para mesa do dia a dia que dá vontade de beber outros. Na época, tomei um exemplar superior (ver minha análise na página Avaliações-DCV), o qual era um Gran Reserva merlot/cab./syrah/carmenere, onde no novo mundo não quer dizer muita coisa – o que é bem diferente na Europa!
Desta vez tomei o Cornellana Reserva Carmenère 2009. Para a ocasião preparei um tender de fim-de-ano, com minha receita: de véspera marinei o defumado num molho de mel (bastante mel), açúcar mascavo, vinho branco e suco de laranja. No dia seguinte assei por 50 minutos (forno baixo: 130 graus), coberto com papel alumínio. Depois mais 30 minutos para dourar, decorado com cravos-da-índia. Fica delicioso!
O Cornellana Carmenère é um vinho leve que lembra um beaujolais, sem aquele toque quase frisante do francês. Produzido pela Viña la Rosa, exalou aromas de couro, chocolate e caramelo. Na boca ele impressionou como harmonizante. Frutado, principalmente amoras frescas, e leve herbáceo. Corpo de médio para leve e cor violácea característica da pouca idade, o que o faz parecer ainda mais com um beaujolais. Voltando à combinação vinho e tender, a mesma ficou tão perfeita – como poucas vezes tenho experimentado nesta vida de enófilo -, que uma garrafa foi pouco para tanto deleite. Para quem quer experimentar uma harmonização sem erros, eis uma dica sem precedentes [risos]. Interessante notar que o rótulo da garrafa traz a indicação de prová-lo com sobremesas de chocolate. Parece que eles acertaram em cheio.