Porta dos Cavaleiros: um clássico da “terrinha”

pcavaleirosDão Porta dos Cavaleiros 1996. Este clássico de Portugal foi provado semana passada e estava guardado em minha adega há três anos… apreensão ao abrir, pois sua rolha estava debilitada, chegando a se partir, mas felizmente não prejudicou o vinho. O lacre é de cera aplicada artesanalmente; pode-se imaginar ela sendo derramada derretida sobre a boca da garrafa. Super bacana (vejam foto abaixo)!

O interior da ampola apresentou-se incrivelmente inteiro, apesar de poucos aromas. Na boca ainda mantinha notas de chocolate, pouca adstringência e muita borra pelo demasiado tempo de guarda e o tipo de armazenamento, sem filtragem. Feito de uvas Touriga nacional, Aragonês, Alfrocheiro e Gaen. Vinho fácil, excepcional acompanhamento para uma boa refeição. Diria que pelo capricho na produção ele possa realmente aguentar mais 10 anos (como o da safra 86), mesmo que não evolua mais. 

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Sua safra 1986 chega a ser comercializada por 200 dólares!…muito pela tradição do que pela qualidade. Esta que bebi (1996) me custou U$ 25. Valeu pela história, que remete à vinícola Caves São João, uma das melhores do Dão para vinhos de guarda. E que envelhecimento! Para quem aprecia estas belas ampolas portuguesas de tradição e elaborada produção, eis a dica! Não percam esta oportunidade de provar um vinho de guarda facilmente acessível e valioso.

Astralis 2005

astralis1O vinho Astralis se tornou um ícone no mundo dos vinhos. Seu preço atingiu patamares superiores a alguns premier grand cru classe de Bourdeaux. Sua procura é tão grande que se tornou difícil achá-lo no mercado, para o Brasil vêm pouquíssimas garrafas. Pois bem, consegui duas garrafas dessas e resolvi abrir uma no penúltimo dia do ano.

Vinho feito por Roman Bratasiuk na Austrália, (ele produz 07 Syrah, 05 Grenache, 03 Cab. Sauvignon e 01 Merlot) todos varietais, de vinhedos únicos e envelhecidos em carvalho francês. Cultivo biodinâmico, vinhas velhas (80 anos) de pé-franco (pré-filoxera). O vinhoastralis3 tinha todos os predicados para ser um grande vinho, marcante, digno de encerramento de ano. Não foi o que ocorreu. O Astralis 2005 se apresentou com pouca complexidade aromática, apenas aromas de hortelã e frutos doces, parecia em estado de latência. Na boca bem agradável, encorpado, mas sedoso, porém nada que o distinguisse de vários outros vinhos que já tivesse tomado. Resumindo: Muito pouco para o que se esperava desse exemplar. Vou guardar a outra garrafa (2003) para tomar em outra oportunidade, e ver se a primeira impressão se desfaz.

Os Melhores de 2010 (2. Semestre) do DCV

Para fechar 2010 e comemorar o reveillon, apresentamos nossa lista dos 20 melhores vinhos avaliados pelo DCV, no segundo semestre de 2010. Foram escolhidos entre mais de 129 rótulos degustados ao longo dos últimos seis meses. Mais uma vez lembramos que os critérios usados para análise e classificação das ampolas seguem o formato descrito na página TopDCV 20. PARABÉNS aos vinhos de 2010!

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Dúvida? 2005

duvida1Eu estava devendo uma postagem desse vinho. Deve ter sido a terceira vez que o tomei, em todas elas fiquei encantado com esse Alentejano. Feito por António Saramago esse Dúvida? é feito de Aragonês, Trincadeira e Grand Noir, passando por maceração pré e pós fermentativa a frio. Fermentação com controle de temperatura e dois estágios em barricas. O primeiro estágio é de 12 meses em barricas francesas novas, e depois (segundo estágio), mais 12 meses em barricas americanas, também novas.
Tudo isso gera um vinho muito intrigante com aromas de frutas cozidas e um inconfundível melaço. Na boca é denso, lembrando um Porto, mas com uma acidez que não o deixa ficar enjoativo. Apesar da minha preferência por vinhos tradicionais, esse é um vinho moderno fascinante. Na Art du Vin (61-3365 4078).

Vinhos da Viagem

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Acabo de retornar de Orlando e não poderia deixar de trazer alguns vinhos na bagagem. Os Estados Unidos são o melhor lugar que conheço para comprar vinhos. Primeiro por eles custarem muito menos que aqui, segundo por ter variedades do mundo todo e terceiro por terem preços mais baratos que nos países de origem dos vinhos. Vinho francês custa menos nos EUA que na França, se quiser Chileno então, experimente comprar por lá. Como os amigos estão me perguntado o que eu trouxe, aí vai a lista (da esquerda para direita):

Mersault, Clos de Mazeray-Jacques Prier 2005

Chateau de Beaucastel, Chateauneuf du Pape Blanc 1995

Baron de L, Pouilly-Fumé 2000

Beaux Fréres, 2006

Comte de M, 1996

Cornas, Les Ruchets 2004 (Jean Luc Colombo)

l´Eglise Clinet 1986

Pesquera Reserva Especial 1994

Prado Enea 2000 (Muga)

Señorio de San Vicente 2002

Dessas 10 garrafas, apenas 03 foram compradas em Orlando. Gostaria de saber se alguém tem alguma dica de uma boa loja em Orlando, que venda vinhos desse nível ? (Exceto a Total Wine, que tem grandes vinhos, mas preços caros em relação aos EUA).

 

Winter Park, a jóia escondida de Orlando

Quem viaja para Orlando tem como finalidade o mundo de fantasia dos parques e as compras. Você sai do hotel antes das 09:00 da manhã e só retorna após as 20:00 ou mais. Caminha-se muito sem sentir o dia passar. Um bom par de tênis é essencial para sobreviver a essa maratona. O que a maioria das pessoas não percebe é que há lugares pitorescos ao redor da cidade, que na maioria das vezes são esquecidos pela absoluta falta de tempo. Dessa vez me programei para visitar Winter Park, que fica a uns 30 km do centro turístico de Orlando. São 25 minutos de carro, com fácil acesso, pela rodovia I-4.

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O bairro é muito bonito, possui ruas residenciais arborizadas, área comercial baixa, parques de lazer, museus e um dos melhores sistemas de escola pública da Flórida. Você pode fazer um passeio de barco pelo lago ou se for jogador de golf, jogar uma partida no campo do centro da cidade, que tem 236 dias de sol por ano. Quase não há turistas por lá.

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Fui até lá para conhecer, mas confesso que também estava interessado em ir ao Wine Room, que é um bar de vinhos com 150 bicos de enomatic, servindo doses em 03 quantidades (30, 60 e 120 ml) de cada vinho. Além disso, há vinhos para venda (tops, mas caros para EUA) e vários petiscos. Eles ainda têm uma sala de degustação no subsolo, ao lado de outra sala que funciona como um cofre, onde são guardados os vinhos dos clientes. A seleção para degustação é de vinhos mais simples, há alguns bicos mais caros com Opus One e Kistler, mas no geral são vinhos corriqueiros. Eles me explicaram que antes colocavam mais vinhos top nos bicos, mas como o consumo de vinhos mais caros era baixo, os mesmos acabavam estragando. O Wine Room fica na South Park Ave. n. 270, 32789,que é a rua mais charmosa da cidade, imperdível. Na mesma rua há outro wine bar chamado Eola Wine Company, que fica no n.136. Esses dois wine bar não justificam a visita a Winter Park, que tem muito mais atrativos a conferir, mas são boas dicas para se tomar vinho na cidade.

Garrafas de fim de ano!!!

Almoço de fim de ano sempre tem garrafas especiais, e desta vez não foi diferente. Reunidas no Dom Francisco 402 foram abertas na sequência:

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Caymus Special Selection 04 (USA), ofertado pelo Edinho. O vinho estava bastante fechado aromaticamente e com uma cor mais púrpura que o Opus One, porém, na boca estava mais macio.

Opus One 05 (USA), trazido pelo Leandro Vaz. Mais aromático que o Caymus, leve mentolado, cor mais evoluída, e um pouco mais austero na boca.

Ch. Ducru-Beaucaillou 1991 (França), trazido pelo Diniz. Vinho com praticamente 20 anos, cor bem evoluída. Aromas medicinais de iodo e corpo médio.

Avó Sabica 2004 (Portugal), trazido pelo xará Eugênio. O mais aromático de todos. Alentejano de primeira linha, 15% de álcool muito bem integrado. No nariz, café e na boca chocolate com licor, delicioso.

Ch. Droyse-Védrines 2007 (Sauternes), também trazido pelo Leandro. Doçura e acidez bem equilibradas, mas distante de um icewine canadense.

Romorantin 2005 de Claude Courtois!

romorantin1A Romorantin é uma uva rara e renegada, encontrada na sub-região do Loire conhecida como Loir-et-Cher. Normalmente produz vinhos simples, mas que nas mãos de Claude Courtois se transforma em verdadeiras maravilhas. Essa variedade é cultivada no Loire desde o reinado de Francisco I no século XVI, mas a maioria de suas vinhas foi arrancada para dar lugar a cepas mais populares. Estudos de DNA revelaram que a romorantin é originária de um cruzamento de Gouais Blanc (uva croata) e Pinot, e a de Courtois vem de um vinhedo batizado de “Les Cailloux du Paradis” (pedregulhos do paraíso).

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Vinho exótico, de difícil compreensão, surpreendente, obrigatório para quem gosta de vinhos diferentes. Cor dourada, beirando o laranja, aromas de massa de pão, fermento, cevada. Na boca é cheio, de grande volume e com acidez maravilhosa, vinho de emoção. Seu final é longuíssimo. Esseromorantin2 vinho não utiliza So2 em sua produção, apenas uma mínima quantidade é adicionada no momento de seu engarrafamento. Comercialmente vale dizer que não é um vinho para restaurantes, dificilmente teria uma boa saída e haveria muitas devoluções.  Sem sombra de dúvidas um vinho imperdível para os aficionados. Na World Wine, que em Brasília é representada pela Arte e Vinho (61-3248-3258). Quem gostar desse vinho, não pode deixar de conhecer os outros do Courtois trazidos para o Brasil, como o Quartz (s.blanc), Racines (tinto), Pinot Noir e o Évidence (branco).

Vinho servido em copo de geléia ?!

nyvinhocopoDe passagem por Nova Iorque, lembro-me de ter jantado num restaurante badalado, tipicamente italiano, no estilo grande tratoria. Ele era realmente muito grande. Um salão enorme, pé-direito alto, que deveria comportar ao menos 300 pessoas. Bem transado e ao formato novaiorquino. Mas o que me chamou atenção, realmente, foi o serviço do vinho, que era feito em pequenos copos de vidro – vejam a foto tirada no local.

Vamos filosofar um pouco sobre este costume. Óras, muitos amigos dizem que vinho só pode ser apreciado em uma taça de cristal, se possível alemã, e coisa e tal… Bobagem! A grande maioria dos brasileiros irá condenar esta forma de beber vinho, especialmente os eno”chatos” [risos]. Eu amei a proposta do restaurante. Não pensem que isto é raro, pois numa enormidade de restaurantes europeus – Itália, Espanha e França – os vinhos são servidos em copos. Simplesmente, por um motivo: lá eles bebem vinho como se fosse água; é quota comum de bebida diária da população. Principalmente nos estabelecimentos mais tradicionais e que servem vinhos de mesa e/ou caseiros.

O vinho provado na ocasião, neste restaurante italiano de Nova Iorque, era um digno Chinon Rouge Jean-Maurice Raffault 2006 (100% cabernet franc), do Vale do Loire (França). Uma família com 50 hectares, que cultiva vinhas há 14 gerações – pasmem! Hoje trabalha o vinho com a viticultura sustentável, sem agrotóxicos ou herbicidas, sendo um dos mais famosos produtores dentro da Apelação Chinon, que comporta dezenas de vinícolas.

Não quero aqui fazer apologia aos copos de geléia, mas que existe certo exagero no mundo enófilo cá no Brasil, ah, isso existe. E o papel que nos cabe para a difusão do consumo é desmistificar mais que idolatrar. Portanto, mil vivas àqueles que bebem vinho a qualquer momento, em qualquer ocasião e em qualquer recipiente, mesmo que seja um “descolado” copinho de vidro em NY. São vocês que fazem esta maravilhosa bebida perdurar por milênios e milênios.