O milésimo gol, ops, vinho ninguém esquece. 1000 rótulos!

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Não sou Pelé, muito menos Romário, mas é com enorme prazer que comunico a meus leitores que acabei de atingir uma incrível marca pessoal. Há três semanas registrei meu primeiro milésimo vinho catalogado. Yeáahhh! Gooooollllll.

É lógico que para contentamento dos internautas e enófilos de plantão, todos os MIL vinhos encontram-se no banco de dados do DCV, com suas descrições, notas de prova e classificação, além da pontuação-DCV, que vocês já conhecem visitando a subpágina “Avaliações DCV“.

E não podiam ser melhores as ampolas adquiridas para celebração deste prazeroso recorde: três ótimos vinhos franceses e um italiano, de excepcionais produtores artesanais, garimpados em uma ponta de estoque de elevado nível.

N.# V I N H O Tipo Safra País R$ Nt Conceito
998 Bourgueil “Le Perrières” – Catherine & Breton – Vale Loire tinto 2004 França 150 Sob guarda
999 Bourgueil “Trinch!” – Catherine & Breton – Vale Loire tinto 2006 França 95 Sob guarda
1000 Châteauneuf-du-Pape Lucien et André Brunel – Côtes du Rhône “Les Cailloux” tinto 2005 França 230 Sob guarda
1001 Crognolo I.G.T. Tenute Sette Ponti, Toscana tinto 2008 Itália 130 Sob guarda


O Pelé e Romário que me desculpem mas em questão de vinhos eu tô batendo um bolão. 🙂

Clos Ouvert Otoño 2007

otono1Vinho chileno do vale do Maule, feito das uvas C.sauvignon (15%) Carignan (15%), Carmenére (35%), Shiraz (20%) e País (15%). Produzido por enólogos franceses da região de Anjou em uma propriedade que possui vinhas originais com mais de 100 anos de idade, poupadas da filoxera. As vinhas são conduzidas segundo os princípios da biodinâmica, e um mínimo de SO2 é adicionado no engarrafamento para que as garrafas possam ser exportadas. Os enólogos são parentes do falecido mestre de Beaujolais, Marcel Lapierre.

A colheita é manual e as uvas são prensadas suavemente, seguidas de maceração otono2carbônica por 3 semanas. A fermentação ocorre com controle de temperatura e uso de leveduras indígenas. Passa por barricas de carvalho francês (12 meses) de segundo e terceiro uso (75%) e em tanques de inox (25%). Após o amadurecimento, é feita a mistura e engarrafado sem filtragem.

O vinho tem a cor bem turva (o que pode parecer defeito para alguns), com aromas de brett e defumado (que aprecio), mas o que incomodou foi o mentolado e a alta extração. Faltou sutileza.

Chateau Yvonne 07, distinção e frescor!

 

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Vinho branco da denominação pouco aclamada chamada Saumur (Loire). Eles também fazem um tinto em Saumur-Champigny que ainda não tive o prazer de experimentar. As vinhas são conduzidas de maneira orgânica e o vinho é envelhecido em madeira nova. Esse branco é um vinho luxuoso, de frescor revigorante e de uma mineralidade incrível. Característica provavelmente oriunda do solo de argila misturado a giz.  Metade do vinhedo é plantado com chenin blanc de vinhas de 40 anos e a outra metade com a tinta cabernet franc.

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Mathieu Vallée, proprietário e enólogo, tem uma jóia em suas mãos. O vinho em sua juventude tem cor de ouro novo, bem brilhante. Aromas de sabonete recém aberto, flores do campo, perfumado, sofisticado. Aroma de mar, aquele frescor de lençóis lavados. Na boca é um vinho gordo, encorpado (já provei mais densos), de ótimo volume. Parece não querer terminar. Jamais tome café após um vinho desses, irá apagá-lo. Seria um crime.

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Infelizmente é mais um daqueles exemplares sem importador no Brasil. Pela raridade e baixo potencial comercial em nossas terras, acho difícil que chegue ao país. Vinho para se comprar de caixa nas viagens ao exterior.(vinho da esquerda-mais claro- é o Yvonne)

Montchenot 15 años Cosecha 1992

montchenotfDesde julho do ano passado fiquei de comentar alguns vinhos raros que trouxe de Buenos Aires. Este é o primeiro do lote trazido à época. Sobre a gastronomia portenha já comentei em postagem anterior (ver o link).

Confesso que aguardava ancioso a prova deste incrível vinho argentino: o Montchenot 15 años Safra 1992, da Bodega Lopez. Queria fazer parte da controvérsia que envolve o rótulo, por ser este o maior vinho de guarda da Argentina. Ele é feito a partir de parreiras velhas com mais de 60 anos de idade, em Mendoza. A primeira safra foi produzida em 1960 e desde então quase ininterruptamente até a recente de 1999. Sempre com mesmo corte de cabernet sauvignon (predomínio), merlot e malbec. Após a colheita o vinho é maturado em grandes toneis de carvalho francês de 5.000 lts por 10 anos. Depois permanecendo por mais 5 anos nas garrafas. No caso do Reserva 20 años, ele fica 10 anos engarrafado.

Seguindo a recomendação do próprio produtor, antes de beber deixei aerando por duas horas. No aroma surgiu um leve couro e notas defumadas. Ainda de aromas plenos e abertos, o que é incrível para um vinho de tantos anos. Na boca, álcool quase impercetível e a perfeita acidez harmonizada com taninos polidos e finos. Longa persistência no fim de boca. Bebendo às cegas muitos dirão tratar-se de um bordeaux francês, tão idêntico é o sabor. Interessante notar que já está pronto para consumo (passados estes 19 anos), não necessitando de mais guarda. Mostrava ótima estrutura num médio corpo. De cor rubi e algum tijolo. Enorme elegância e personalidade. Nota 92 pts. Pena esta botelha não ser vendida no Brasil; para conseguí-la só indo a Argentina.

Enfim, a controvérsia sobre a qualidade deste belo vinho, para mim se desfez em alegria e contentamento, e talvez exista por preconceito daqueles que enxergam só o rótulo ao invés do conteúdo da garrafa. Esta, portanto, é uma das ampolas de surpreender e que deve ser exaltada, devido o carinho e trabalho artesanal na sua produção. Meus parabéns aos enólogos da Bodega Lopez por seguir este difícil caminho para conseguir um vinho desta magnitude e complexidade, neste mundo vinícola de vinhos rápidos e comerciais! Aí está um exemplo que não podemos esquecer: guardar um vinho por 15-20 anos sem cobrar um preço exorbitante é algo raro nos dias atuais. O grande mestre Patricio Tapia, do Guia Descorchados (Chile), lamenta o fato de que a elegância deste vinho seja esquecida dos apressados consumidores de “bombas”, mas enquanto existir o DCV nada disso estará perdido. Aqui conto um segredinho a vocês: ainda tenho outra garrafa estocada…o seguro morreu de velho e trouxe duas na bagagem.   :))

 

Vinhos: você sabia que…( 5 ) – 1a.temporada

vinsobreVinhos: você sabia que… existem diferenças entre vinho botritizado, fortificado, licoroso e de colheita tardia!

Sim. Essas diferenças são sutis mas existem de fato. O que há em comum entre eles é que todos são vinhos de sobremesa.

O Botrytis Cinerea é um fungo que ataca as videiras quando em maturação e as torna secas pela ação da retirada do sumo interno das bagas. O fungo surge normalmente em plantações úmidas e frias, e causam o que os cientistas chamam de “podridão cinzenta”, cujos sintomas são: bolor (mofo) cinzento nas cascas e desidratação das frutas, tornando-as enrugadas e sem vida. Para saber um pouco mais sobre a botrytis e a podridão “nobre”, leia o artigo 6 da série, na próxima semana.

Na lista a seguir temos alguns vinhos de sobremesa mais conhecidos.
* Botritizados: os lendários Tokajs (Hungria), os Sauternes (França), Ausbruch (Áustria) e o famoso Château d’Yquem (França).
* Fortificados: Porto (Portugal) e Jerez (Espanha). São obtidos com adição de álcool vínico e normalmente atingem mais de 20% de volume alcoólico.
* Licorosos: Marsala (Itália) e Madeira (Portugal). Muito usados como digestivos, e também na culinária.
* Colheita tardia: Icewines (Canadá) e Vinhos Santos italianos. Seu fabrico se dá pela colheita [tardia] das uvas meses depois da vindima normal, quando os bagos encontram-se quase em estado de passas – não necessariamente atacadas pelo botrytis, mas geralmente em extremo processo de amadurecimento.
* Demais vinhos doces: existe ainda a categoria de vinhos usuais de sobremesa, produzidos em várias partes do mundo, obtidos a partir da manutenção de parte do açúcar residual pela interrupção da fermentação. Usualmente acabam por atingir níveis normais de álcool (12%) ao final do processo vínico.


Quer dar mais elegância ao seu jantar, sirva um vinho de sobremesa. Seja qual for seu gosto, pratique este hábito e termine suas refeições com um final de gala. Saúde!

Até um novo artigo da 1a. temporada da série “Vinhos: você sabia que…(6)”.

Quinta dos Carvalhais no Alice

qcarvalhaisNo mês de meu aniversário (dezembro) comemorei meus vinte e uns…aninhos [risos] abrindo um dos bons vinhos de Portugal.

O Quinta dos Carvalhais Colheita 2004 é um dos rótulos top da linha de vinhos da poderosa vinícola portuguesa Sogrape. Feito de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro, clássico blend da região do Dão, seu conteúdo concentra elegância e estrutura na medida. Elaborado pelo experiente enólogo Manuel Vieira, que o deixou maturando por 12 meses em toneis de madeira, e só envasou 1.500 garrafas. 

A prova deste vinho foi no restaurante Alice Brasserie (QI 17, Lago Sul, Brasília, 3248-7743), harmonizando esplendidamente com o menu da vez: um duo de Canard, com magret e confit de coxa de pato pra lá de gostoso. Um exagero de delícia. Se um magret (peito de pato) já sacia qualquer mortal, imagina somado a um confit (coxa confitada)? Dos sonhos! Aproveite esta semana que ela está participando do festival Brasília Restaurant Week, com o prato Frango Miroton, com molho bechamel, azeitonas e parmesão.
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Voltando ao vinho, na boca mostrou austeridade com certa jovialidade, indicativo de mais alguns bons anos pela frente. Notas de frutas vermelhas, arbustos selvagens, especiarias. Com boa acidez, macio e redondo. Um vinho carnudo sem parecer pesado. Daqueles bons à mesa. Nota 90 pts. O Quinta dos Carvalhais (QC) produz cinco rótulos, na sequência de qualidade, a saber: o QC Duque de Viseu; o QC varietal; QC Colheita; o QC Reserva e o incrível QC Único. Este último ainda pretendo beber por ter sido bem indicado pelo amigo blogueiro Guilherme Lopes, quando lá esteve em Portugal. Clique aqui p/ ver o artigo em seu Blog.

Um Monasterio que salvou o Bistrô…irch!!

lbistrowVocês já ouviram falar do vinho Monasterio de Las Viñas? Certamente, não. Mas muitos já ouviram falar de Pirenópolis e talvez do restaurante Le Bistrô, que lá existe! Quanto ao Monasterio posso dizer que é um vinho raso, simples e bom. Crianza da safra 2006, da uva tempranillo. Não sei quanto a vocês mas este vinho salvou minha entrada no ano novo. Que loucura, né, vocês devem estar pensando. O que o Antonio estava fazendo tomando um vinho fraco desses logo no réveillon? É lógico que provei este vinho de forma, digamos, inesperada e ao mesmo tempo desesperada [risos]. Vou encurtar a história deste drama.

Passei o réveillon 2012 em Pirenópolis, cidade vizinha 150 Km do DF. arrozvermNo dia primeiro de 2012, feriadão, à noite, resolvemos eu e minha esposa Márcia passar para jantar no famoso restaurante Le Bistrô, que há muito trabalha com alta culinária, além de promover o turismo e gastronomia da região, com diversos eventos nacionais e internacionais. Pois bem, não sabemos ao certo o que ocorreu, mas naquela [fatídica] noite tudo deu errado, exceto o vinho Monasterio… snif. 

Para começo de conversa, no restaurante haviam apenas três mesas ocupadas – normal numa noite feriado de primeiro dia do ano. Anormal foi a refeição servida. Pedi um prato típico da cozinha da Chef Marcia Pinchemel: “Frango ao molho suave de mandioquinha, aromatizado com pequi, servido com purê de batata e arroz vermelho” (texto transcrito originalmente do Menu). Qual minha surpresa ao receber o dito cujo. Espanto! Cadê o arroz vermelho? Após a reclamação com o garçon a própria Chef veio à mesa e disse que havia “esquecido”; e ficou por isso…(??!) De pequi apenas um aroma lampejante (um goiano amante do fruto, ou como eu, odiariam a excassez de pequi). A carne estava correta (!) O purê mais parecia uma papa de batatal, como diz meu sobrinho. Uma apresentação de prato tão branca como a neve alpina dos pireneus originais [risos], da França. É óbvio que não comi e o prato foi intacto pro lixo. Coloquei uma foto “do que poderia ter sido o meu prato”, retirado de um site de Pirenópolis. Muita infelicidade!
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Nas fotos acima vejam a rua onde fica o restaurante, que ironicamente – e felizmente, para mim – fica ao lado de várias lojinhas de venda do famoso empadão goiano. Resultado (podem rir à vontade – eu mereço), acabei a noite comendo um caldo de feijão com torradas, que estava delicioso, às 11:30 da noite, antes de voltar para o hotel com menos 230 reais no bolso – preço do jantar, salvo por um monastério.  😉

Gerovassilíou Malagousia 2009

malagousiaRecebeu 89 pontos da revista Wine Spectator, safra 2007. Feito da uva autóctone grega Malagousia (100%). Branco para ser apreciado jovem. De cor amarela com reflexos esverdeados. O nariz é bem aromático e floral. No gustativo é macio, balanceado por uma acidez refrescante e flavores de pêra, manga e cítricos. Produtor: Gerovassilíou. Um ótimo vinho para se iniciar nos produtos gregos. R$ 84,00 – Mistral.