Você sabe quem é Bernard Pontonnier?

No início dos anos 80 alguns viticultores franceses retomaram o hábito de fazer vinhos sem sulfito ou quaisquer outros aditivos, mais especificamente em Morgon. Isso deu início a um movimento que atingiu proporções significativas na França. O núcleo desses rebeldes era formado por Jules Chauvet, Marcel Lapierre e Jacques Néauport que desafiaram a utopia destrutiva do vinho estandartizado utilizando leveduras selvagens, evitando o SO2 (dióxido de enxofre) durante a vinificação e realizando maceração carbônica. Logo foram seguidos por vignerons, que hoje são reconhecidos e aclamados, como por exemplo Jean Foillard.

Contudo, esses vinhos precisavam de um mercado para sobreviver. Eram controversos, não tinham penetração na mídia nem apoio da imprensa. Vale lembrar que era uma época em que não havia internet. Nesse momento entra a figura de Bernard Pontonnier (também conhecido por Pon Pon).

Pontonnier participou dos primórdios desse vinho natural na França e paradoxalmente isso ocorreu assim que fechou o Café de la Nouvelle Mairie em 1986. Ele administrou esse bistrô, nas imediações do Panthéon, de 1979 a 1986. Foi lá que conheceu Marcel Lapierre em 1982, porém, a casa acabou sendo fechada sob clamor dos clientes. Em 1990 ele abre o La Courtille com François Morel no 20 arrondissement. Essa nova casa ficava à 10 metros do les Envierges que era gerido por François Morel e Jean-Pierre Robinot. Pontonnier era amigo de François Morel desde 1984 e participou de vários micro-eventos nos anos de 87 e 88 com os poucos vignerons adeptos da vinificação natural à época. Marcel Lapierre, François Dutheil de la Rochère, Ptit Jean (Jean Foillard), Paul-Po (Jean-Paul Thevenet), Gramenon e Yvon Métras eram alguns deles. Pontonnier trouxe esses vinhos a um público parisiense interessado e fez a conexão entre vários vignerons como, por exemplo, Jean-Pierre Robinot e Marcel Lapierre.

Outro importante local de difusão do vinho natural foi aberto no mesmo bairro (20) naquela época: Le Baratin (1987) que funciona até hoje e pertence ao casal fundador: Raquel Carena (Argentina) e Philippe Pinoteau. Hoje Le Baratin é um bistrô icônico do vinho natural.

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Pon Pon vendeu os primeiros vinhos naturais em 1988, e não foi no Café La Nouvelle Mairie que havia fechado em 1986 e sim no Les Domaines, no 8 arrondissement, que deve ter sido o primeiro ou segundo lugar após o les Envierges (de François Morel) a servir vinho natural. O Les Domaines era muito focado em vinhos de Bordeaux e quando Pon Pon assumiu tentou convencer os proprietários de que havia vinhos interessantes em outras regiões da França. Assim, apresentou os vinhos desses vignerons, ainda desconhecidos.

No La Courtille, no nada alardeado 20 arrondissement, Pontonnier ficava mais à vontade com esse tipo de vinho e de 1990 a 1997 junto com François Morel e Jean-Pierre Robinot difundiu o vinho natural na cidade que arrebanhava cada vez mais adeptos. Os primeiros vinhos de Jules Chauvet foram vendidos por lá. Pontonnier disse que a primeira leva desses produtores era conhecida por “pais fundadores” e era formada por vignerons de Ville- Morgon: Marcel Lapierre, Jean-Paul Thevenet (Paul-Po), Guy Breton (P’tit Max) e Jean-Claude Chanudet (le Chat). A segunda onda tinha Foillard, Dutheil, Gramenon, Puzelat, Frick, Descombes, Dard et Ribo…

Voltando um pouco mais no tempo, Pontonnier trabalhou um período no Le Rostang, um café com vista para os Jardins de Luxemburgo. O local pertencia aos pais de Nicolas Carmarans que era um adolescente na época. Pontonnier é muito grato ao pai de Camarans que foi quem emprestou dinheiro a Pon Pon para que ele abrisse o Café de la Nouvelle Mairie (1979).

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Dando um salto para os anos 2000, Pontonnier assumiu a vinificação do excelente Chateau Yvonne (Loire) nas safras 2004, 2005 e 2006 em substituição à Françoise Foucault (esposa de Charlie Foucault, um dos proprietários de Clos Rougerad) que havia sido contratada para recriar as vinhas que já davam frutos em 1813. Em 1997 o casal parisiense Yvonne e Jean-François Lamunière, adquirem a propriedade, contratam Françoise e rebatizam o local de Chateau Yvonne, em homenagem à esposa de Lamuinère. A propriedade é vendida em 2007 (após as 03 safras de Pontonnier) e o novo proprietário resolve manter o nome em consideração ao excelente trabalho que havia sido feito até então. O possuinte do Ch. Yvonne se chama Mathieu Valée e continua a fazer belos vinhos na propriedade.

Bernard Pontonnier segue ligado aos vinhos naturais. Embora não esteja trabalhando no setor de Bar à Vin ele vinifica cuvées especiais com vignerons amigos. Além disso, trabalha com reformas de casas e arquitetura de interiores. Foi ele quem reformou os quartos de hóspedes do Domaine Jean Foillard.

No papo que tivemos no Rio de Janeiro, me disse que fará um novo vinho, o qual até sugeri um nome. 

Fotos: Bernard Pontonnier (Alain Ingles)

          Ch. Yvonne 05 (Eugênio Oliveira)

Fonte: O próprio Pontonnier e Wineterroirs.

 

Arnot-Roberts North Coast Trousseau 2012

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Arnot-Roberts North Coast Trousseau 2012

Grad. Alcoólica 13% – USA

Vinícola fundada em 2001 pelos amigos de infância Ducan Arnot e Nathan Roberts na cidade de Healdsburg/CA. É o primeiro Trousseau da Califórnia, posteriormente vários produtores decidiram lançar seu próprio exemplar. O interessante é que Arnot-Roberts tentou lançá-lo inicialmente como Bastardo (o nome dessa uva em Portugal), pois as uvas são oriundas do mesmo vinhedo de solo vulcânico, datado do ano de 1.400 (o solo), de onde eles também colhem Touriga Nacional para fazer um rosé. Não houve interesse do mercado, mas quando mudaram o nome para Trousseau todos se quiseram.  O vinho tem uma bela cor de claret, confundindo-se até com rosé, mas é tinto. Vinho natural de leveduras selvagens. Corpo leve, aromas florais e vibrantes que enganam na boca, pois possui um calor de taninos que não se imagina encontrar em um vinho de aparência tão singela.  Uma preciosidadede, somente uma barrica (350 garrafas).

Vinho e Feijoada – Degustação inédita em Brasília

No último Sabadão (25/04/15), reuniu-se a confraria Amicus Vinum para uma degustação sem precedentes na Capital: harmonizar Vinho e Feijoada !!
Vinhos Feijo1Vinhos Feijo2Confesso que – como bom apreciador e estudioso da gastronomia brasileira – não sou muito fã desta combinação, apesar de amar vinho e adorar nossa Feijuka [risos], que by me, afina-se esplendidamente com uma verdadeira caipirinha. Mas vamos lá contar esta história a vocês. Os vinhos foram escolhidos de acordo com recomendação de amigos sommeliers, degustações de críticos de vinho reconhecidos, amigos da gastronomia e demais fontes enófilas na Internet. Participaram desta inesquecível degustação: Antonio Coêlho / Renzo / Maia / Mário / Marcelo / Neto / Bodani / Márcia / Emmily / Keyla / Cris / Heloísa / Marina. A iguaria foi preparada por este Chef que vos fala, com base na receita tradicional carioca que é registrada como Patrimônio Imaterial do povo Brasileiro.
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Esta é a mais abrangente lista de vinhos que presenciei em Brasília, numa harmonização com nossa iguaria-Mor. Uma seleção de seis rótulos pra lá de especial e heterogênea, agradando qualquer paladar, abrangendo toda gama de texturas inseridas numa feijoada completa: feijão, carnes salgadas, arroz, farofa, laranja e couve. Ou seja, amido, amilose, gorduras saturadas, proteínas, herbáceos, cítricos, amargor, etc. Antes, porém, de iniciarmos as avaliações, devemos deixar claro que independente da harmonização, todos os vinhos, sem exceção são vinhos de altíssima qualidade e ótimas avaliações enológicas no Brasil e exterior.

Vamos às minhas impressões desta controversa combinação, com as Notas degustativas (1-Mín. a 5-Máx):
 Lambrusco Grasparossa Tinto Seco: este frisante deixou a feijoada livre pra mostrar suas qualidades organolépticas. O vinho funciona (a grosso modo) como um caldo de pimenta, causando borburinho bem dosado na boca, sem exageros mas com austeridade. Harmonia e equilíbrio é esta combinação. (#4/5).
 Estrelas do Brasil Esp.Brut Negro: pelo seu caráter frisante e não espumante como muitos devem imaginar, este vinho trouxe para mim o verdadeiro terroir brasil da combinação vinho X comida (feijoada). Muito parecido com o lambrusco, mas com mais personalidade na prova de boca. (#4/5).
 Luis Pato Rosado Brut: enorme surpresa nesta prova. Saiu-se muito bem com nossa iguaria. Um rosado de Baga, uva autóctone da bairrada portuguesa e que produz um excelente espumante. Combinou com o feijão, as carnes e até o arroz. Nos demais insumos passou despercebido, ou seja, vai bem com a “feijuka”. (#3/5)
 Geisse Blanc Noir Brut: o único espumante branco da seleção foi razoavelmente bem, deixando a desejar no quesito acidez. Os cítricos e herbáceos do prato ficaram de fora, legal. Ou seja, ele valeu para metade, pois a outra em nada combinou. (#2/5)
 Chandon Excellence Brut Rosé: da mesma forma que o vinho anterior, este espumante saiu melhor com o feijão, carnes e arroz. Apesar de apoiar bem os demais: farofa, couve e a laranja, contrariamente ao Geisse. (#2/5). 
Feijoada &Co Tinto 2008: único tinto “tranquilo” da amostra. Infelizmente, apesar das expectativas altas sobre este vinho, não fluiu nada bem com o prato ao qual foi produzido. Fiz três testes e somente em um ele combinou: feijão e farofa misturados – aquela “massa” que fazemos de feijão e farinha. Nas demais misturas ele deixou muito a desejar: arroz e feijão; arroz e couve. (#2/5).

Todas as harmonizações acima foram do tipo “contraste”, à exceção do Geisse – que harmonizou por “semelhança” – pois apresentou bastante untuosidade de ataque, ajustando-se à gordura das carnes, mas que sucumbiu em seguida não agradando ao paladar de final de boca.
Tabela Vinhos Feijo

O Vinho perfeito para feijoada (um sonho alcançável!):
Frisante tinto ou rosé, com corpo médio, pouco tânico,
leve herbáceo e acidez marcante.

Qualquer semelhança com a caipirinha é mera coincidência, Héhéhé!!  🙂
Parece que um Lambrusco de alta estirpe – a exemplo do provado neste almoço – abrange bastante estes quesitos. Ou quiçá, o Estrelas do Brasil Nature Negro,
eleito um dos melhores, para três dos confrades participantes desta incrível degustação.

Abs, Antonio Coêlho.

“Para a companhia: amigos a gosto, samba e futebol”
(contra-rótulo do vinho Feijoada &Co)

Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais – Parte 2

Como havia anunciado, na segunda parte da postagem sobre o 10 Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais, me aterei aos produtores Franceses que aqui estiveram.

Foram eles: Emmanuel Houillon e Pierre Overnoy- Domaine Houillon-Overnoy (Jura)

Jean e Agnés Foillard- Domaine Jean Foillard (Beaujolais)

Eric e Marie Pfifferling- Domaine L´Anglore (Rhone)

Pierre e Catherine Breton- Domaine Breton (Loire)

Sebastien Bobinet e Emeline Calvez- Domaine Sebastien Bobinet (Loire)

Patrick Meyer e Mireille Meyer- Domaine Julian Meyer (Alsácia)

Marcel Richaud- Domaine Richaud (Rhone)

Não há como não começar por ele: Pierre Overnoy. Considerado o mestre do vinho natural, aos 78 anos só deixa o Jura para ir a Paris duas vezes ao ano. NUNCA pisou em outro país que não fosse a França. Essa foi a primeira vez que monsieur Overnoy tirou um passaporte para deixar seu país. Muitos perguntavam por que o Brasil em sua primeira saída??? A resposta era direta e certeira como seus vinhos: porque me convidaram! Logicamente estava sendo educado e sucinto. Convites para ir a outros países não devem faltar desde sempre. Junto a ele veio Emmanuel Houillon, seu filho adotivo, que é quem realmente faz os vinhos hoje em dia sob os ensinamentos de Pierre, que se satisfaz em fazer seu pão caseiro e beber o vinho. O frisson era intenso em seu estande, parecia que todos ali sabiam que algo especial estava acontecendo dentro daquele espaço, e realmente estava. Vale registrar que vi Pierre atender a todos e sacar as rolhas de suas garrafas, mesmo havendo quem se oferecesse a fazê-lo, das 13 às 20 horas.

Ele trouxe 04 vinhos, 03 brancos e 01 tinto. Chardonnay Arbois Pupillin 2010. Parecia Borgonha já amansado, sem aquela gordura oleosa que costuma marcar os exemplares de safras recentes da região vizinha. Savagnin Ouillé 2011 (Ouillé significa completar a parte do tonel que evapora para evitar a oxidação)- mesmo assim não impede que o vinho ganhe toques oxidativos que aportam complexidade. Savagnin Ouillé 2004 (500ml)– Esse vem de parcelas mais nobres de savagnin e mesmo sendo ouillé tem bem mais toques oxidativos que o anterior. Às cegas é impossível não dizer que é um Jaune. Um monstro interminável. Ploussard Arbois Pupillin 2012– coisa seríssima, vi muita gente achando que era rosé, não tiro a razão, na cor parece mesmo. Delicado, sutil, fino, requintado. Melancia, tomilho, framboesa, sem final doce e corpo leve. Tudo que procuro em um vinho estava lá. Sem dúvida é minha primeira escolha em se tratando de tintos.

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Domaine Julien Meyer (Alsácia)– Depois do Overnoy foi o produtor que mais me agradou. O seuMuenchberg Grand Cru Riesling 2012 foi o destaque entre os brancos. Feito sob flor, ao estilo Jura, tem cor amarelo dourado com um nariz fino de raspas de limão, é um vinho intoxicante para mente e não deve ser bebido muito resfriado para se apreciar a complexidade. Perguntei ao Patrick Meyer por que os tintos de pinot noir da Alsácia não são tão exaltados quanto os brancos pelos próprios produtores. Ele disse que o que a Alsácia faz de melhor e diferenciado são os brancos e por isso os tintos são como um souvenir. Ele trouxe o Les Pierres Chaudes Pinot Noir 2013. Lembra Borgonha, na cor, acidez, amargor e terrosidade. Tudo na medida, e por menos da metade do preço de um bom pinot borgonhês.

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Domaine Jean Foillard (Beaujolais)– O Jean Foillard é um dos pioneiros do vinho natural no início dos anos 80. Chegou ao Brasil uma semana antes do encontro e só foi embora uma semana depois. Foi o que mais aproveitou o país, ficando três semanas no total. Trouxe a esposa e o filho e virou “carrioca”. Já conhecia seus vinhos, sou fã e nunca é demais prová-los novamente. Beaujolais Cru de altíssima qualidade. Ele trouxe 03 Morgons e 01 Fleurie. Morgon Côte du Py 2013– Esse vinho ainda está muito novo, cheio de estrutura, longevo, bem diferente dos Beaujolais que difamaram a região. Precisa envelhecer para mostrar o potencial que lhe cabe. No momento está bem fechado. Morgon Cuvée 3.14 2010– vinhas de 100 anos, mais velho, mas precisando envelhecer ainda mais. Seus taninos ainda estão nervosos, porém perecebe-se a qualidade da fruta e o frescor. Morgon Cuvée Corcelette 2012– meu preferido dos Morgons Foillard com um caráter floral bastante comum nos Fleurie. E por último o Fleurie 2010– o vinho mais aberto dos quatro. Nesse vinho Foillard é negociante, ele compra as uvas e isso mostra que com critério dá para se fazer um grande vinho sem ter vinhedo.

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Domaine Sebastien Bobinet (Loire)– Eles só trouxeram dois vinhos tintos. Saumur-Champigny Ruben 2012– cabernet franc de vinhas de 25 a 40 anos com aromas de mertiolate e encorpado. Saumur-Champigny Amatéüs Bobi 2012– Isso aqui está lindo, com a boca já encantadora e aromas de mocha. Abaixo o casal Sebastien Bobinet e Emeline Calvez segurando o Ruben 12.

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Domaine L´Anglore (Rhone)– Os vinhos desse produtor- Eric Pfifferling– já estiveram no Brasil via World Wine e sempre fui fã do Comeyre que eles não trouxeram. Vieram com um Lirac 2013, em sua primeira safra, que não me encantou. Dois Tavel, um barricado (2012) e outro não (2013), que foi o meu preferido, e ainda um rosé Chemin de La Brune 2013 delicioso.

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Domaine Breton (Loire)– Os vinhos do casal Catherine & Pierre Breton também eram importados pela World Wine e trouxeram ao Brasil quatro Bourgueils: Trinch 2013, Nuits d’Ivresse 2013 (esse vinho causou polêmica na França, pois o nome significa “Noites de Bebedeira” o que gerou uma certa censura, por se tratar de um “incentivo a bebedeira”), Clos Sénéchal 2011 e Les Perrières 2010. Os vinhos ainda estão duros e tânicos, mas como já tive a oportunidade de conhecer 03 dos quatro presentes em safras mais antigas, sei da virtude e potencial desse produtor.  Porém quem estava tendo contato com os vinhos pela primeira vez pode não ter sido convencido.

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Domine Richaud (Rhone)– Eu nunca havia provado os vinhos desse produtor e confesso que foram os que menos me agradaram no encontro. Achei os vinhos quentes, alcoólicos, doces, de baixa acidez. Não ter me agradado, não significa que não sejam bons. Há bastante público para esse estilo aqui no Brasil. Como eu nunca havia provado, pode ser que com a guarda eles mudem. Se eu já não conhecesse os vinhos do Domine Breton também os colocaria como os menos interessantes da feira, para mim. Marcel Richaud trouxe um branco Cair Anne Cotes Du Rossi Vil Lages 2013 e três tintos: Cair Anne Cotes Du Rossi Vil Lages 2013, Cair Anne Cotes Du Rossi Vil Lages L’Ebrescade 2012 e Cairanne Côtes du Rhône Terre de Gallets 2013.

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Finalizo agradecendo os organizadores que tiveram o espírito de abnegação para realizar esse evento , que no ano de 2016 deve ter sua edição realizada em Paris e se tudo correr bem retorna ao Brasil apenas em 2017. Portanto, quem viver verá e quem perdeu só resta se lamentar.

Fotos: Próprias e “emprestadas” de Luiz Cola, Magno Gonzales e Ed Motta.

Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais – Parte 1

Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais (parte 1)

Agora que a poeira assentou e recoloquei os pés no chão é hora de fazer um apanhado da feira batizada de Primeiro Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais. Acompanhei de perto (nem tão perto assim) o embrião desse evento que surgiu há quase dois anos com as viagens a França de Alain Ingles e Pedro Hermeto (em uma delas acompanhados de Marco London) para encontrarem o amigo francês Philippe Herbert, o grande catalisador desse encontro devido ao estreito laço com os produtores que aqui estiveram, visitar produtores e participar de feiras.

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Pedro Hermeto & Alain Ingles

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Philippe Herbert

Sem patrocínio, mas munidos de vontade e paixão, conseguiram que o evento fosse viabilizado mesmo sem retorno financeiro. O público do vinho natural ainda é pequeno por aqui, e dessa minoria apenas uma parte menor abraçou o evento desde o lançamento. Tanto é que um dia antes da feira ainda havia ingressos (eram apenas 100 disponíveis). É bem verdade que no momento da feira eles esgotaram e quem quis comprar na entrada do restaurante não obteve sucesso. Já em SP o número máximo de vendas não foi atingido, mas chegou bem próximo.

Participei da feira no Rio de Janeiro que ocorreu no restaurante Aprazível que tem como sócio Pedro Hermeto, também um dos associados do evento. Lugar melhor não poderia haver. Com sua decoração rústica envolto pela natureza, fez o clima perfeito para o assunto vinho natural. Por se tratar de um restaurante que já tem traquejo com o vinho, toda infra-estrutura para o bom desenvolvimento do fato estava disponível. Mesas, abridores, gelo, cuspideiras, baldes, taças adequadas, água, vinhos sob temperatura ideal dentro da cave do restaurante, staff atento para resolver eventuais problemas, banheiros, local para guardar bagagens dos visitantes de outros estados, Buffet de queijos artesanais…  Tudo isso observado por uma vista de causar inveja. Havia ainda, fotógrafos, equipe de filmagem e sinal aberto de internet.

Antes de falar dos vinhos vale registrar a presença de Bernard Pontonnier, também conhecido como Pon Pon. Ele foi a pessoa que introduziu a venda de vinhos naturais em Paris no início dos anos 80 em seu Bar à Vin. Nessa época os vinhos não-ortodoxos não tinham sistema de distribuição própria, mídia, não frequentavam as revistas e não havia internet. Se houve uma pessoa com papel central na divulgação desses vinhos, seu nome é Pontonnier. Além disso, ele também faz vinhos. Vinificou as três útimas safras do fantástico Chateau Yvonne (04, 05 e 06) antes de ser adquirido pelo novo proprietário em 2007. Hoje não tem mais Bar à Vin, mora em Saumur e pretende fazer um novo vinho. Boa praça e bom de papo estava dando sopa no evento para quem o reconhecesse. Levou até um susto quando o abordei pelo nome. O sujeito é uma lenda do vinho natural.

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Falarei nessa primeira parte da postagem sobre os produtores brasileiros e na segunda sobre os franceses.

Eduardo Zenker- Arte da Vinha

Lizete Vicari- Dominio Vicari

Luís Henrique Zanini- Era dos Ventos

Marco Danielle- Tormentas

Marina Santos- Vinha Unna

Mauricio Ribeiro- Vinhedo Serena

Carlos Abarzua- Cave Geisse

Do Eduardo Zenker achei muito interessante o Pet´Nat que ele apresentou, com residual de açúcar, característico do estilo. Na medida. Ele limpou tanto que o vinho ficou cristalino. Sugeri a ele manter um pouco da borra para que possamos beber dois vinhos em um. Gela-se a garrafa em pé e bebe-se a metade cristalina. Depois se agita a garrafa para misturar as borras e o vinho fica turvo, mudando de cor, aroma e sabor.

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A Lizete Vicari encantou a todos com seu Sangiovese. Pura delicadeza, mais parece um pinot noir natural. Jamais diria se tratar da cepa escrita no rótulo. Ela deve estar tendo problemas para atender os pedidos. Lizete também estava com o merlot e dois brancos, Ribolla Gialla e S.Blanc, mas foi o Sangiovese que emocionou.

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Era dos Ventos já é velho conhecido, porém, seu lançamento desbancou o carro-chefe Peverella. Um Trebbiano fermentado em cubas de basalto, por isso batizado de Trebbiano on the Rocks. Orange com eletricidade nervosa! Obra da alma do mago Alvaro Escher.

 

O Marco Danielle levou dois vinhos do seu portfolio. O Barbera 2012 (zero So2 adicionado) e o Pinot Noir Piratini 2013 (fermentação semi-carbônica). O primeiro tinha aquela acidez gastronômica característica da casta enquanto o segundo estava menos nervoso, talvez pela diferença da safra. Dos quatro pinots lançados por ele na última safra esse é o que considero o mais simples, porém o mais fácil de agradar. Seus vinhos foram bastante elogiados, tanto é que esgotaram e tiveram que pegar o Tormentas Serena da Cave do Aprazível para socorrê-lo na feira. Lamentavelmente esse não provei.

A Marina Santos tem muito cuidado e capricho com a apresentação de seus vinhos. Os rótulos são artísticos, as cápsulas de tecido estampado e os nomes interessantes. Já conhecia os vinhos da safra passada e me encanto com o Cab.Franc (As Baccantes) e o corte Barbera d´Alba/Cab.Franc. Os lançamentos achei que não estão prontos para serem mostrados. O pinot está com uma boca excessivamente terrosa e o branco parecia ainda estar fermentando. O tempo irá colocá-los no prumo. Foi uma pena ela não ter conseguido trazer ao menos uma garrafa do seu esgotado Hidromel. Iria dar um nó na cabeça dos participantes, principalmente na dos gringos.

Mauricio Ribeiro (Vinhedo Serena). Vinho oriundo de seu vinhedo biodinâmico em Nova Pádua, dedicado exclusivamente à pinot noir. O vinhedo tem 15 anos de implantação e há 10 ele vinifica, contudo, apenas há 06 meses colocou seus primeiros vinhos no mercado, das safras 2011 e 2012. Os vinhos têm uma tipicidade muito borgonhesa, podendo ser facilmente confundido com exemplares franceses tamanha elegância e semelhança.

Carlos Abarzua veio representando a Cave Geisse no Rio. Trouxeram apenas um espumante, ainda sem rótulo. Leveduras selecionadas, vinho trivial. Talvez o expositor que menos tinha relação com o tema do encontro. Não participou da feira em São Paulo.

Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais – Parte 1

Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais (parte 1)

Agora que a poeira assentou e recoloquei os pés no chão é hora de fazer um apanhado da feira batizada de Primeiro Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais. Acompanhei de perto (nem tão perto assim) o embrião desse evento que surgiu há quase dois anos com as viagens a França de Alain Ingles e Pedro Hermeto (em uma delas acompanhados de Marco London) para encontrarem o amigo francês Philippe Herbert, grande catalisador desse encontro devido ao estreito laço com os produtores franceses que aqui estiveram; visitar produtores e participar de feiras.

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Pedro Hermeto & Alain Ingles

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Philippe Herbert

Sem patrocínio, mas munidos de vontade e paixão, conseguiram que o evento fosse viabilizado mesmo sem retorno financeiro. O público do vinho natural ainda é pequeno por aqui, e dessa minoria apenas uma parte menor abraçou o evento desde o lançamento. Tanto é que um dia antes da feira ainda havia ingressos (eram apenas 100 disponíveis). É bem verdade que no momento da feira eles esgotaram e quem quis comprar na entrada do restaurante não obteve sucesso. Já em SP o número máximo de vendas não foi atingido, mas chegou bem próximo.

Participei da feira no Rio de Janeiro que ocorreu no restaurante Aprazível que tem como sócio Pedro Hermeto, um dos associados do evento. Lugar melhor não poderia haver. Com sua decoração rústica envolto pela natureza, fez o clima perfeito para o assunto vinho natural. Por se tratar de um restaurante que já tem traquejo com o vinho, toda infra-estrutura para o bom desenvolvimento do fato estava disponível. Mesas, abridores, gelo, cuspideiras, baldes, taças adequadas, água, vinhos sob temperatura ideal dentro da cave do restaurante, staff atento para resolver eventuais problemas, banheiros, local para guardar bagagens dos visitantes de outros estados, Buffet de queijos artesanais…  Tudo isso observado por uma vista de causar inveja. Havia ainda, fotógrafos, equipe de filmagem e sinal aberto de internet.

Antes de falar dos vinhos vale registrar a presença de Bernard Pontonnier, também conhecido como Pon Pon. Ele foi a pessoa que introduziu a venda de vinhos naturais em Paris no início dos anos 80 em seu Bar à Vin. Nessa época os vinhos não-ortodoxos não tinham sistema de distribuição própria, mídia, não frequentavam as revistas e não havia internet. Se houve uma pessoa com papel central na divulgação desses vinhos, seu nome é Pontonnier. Além disso, ele também faz vinhos. Vinificou as três útimas safras do fantástico Chateau Yvonne (04, 05 e 06) antes de vendido ao novo proprietário em 2007. Hoje não tem mais Bar à Vin, mora em Saumur e pretende fazer um novo vinho. Boa praça e bom de papo estava dando sopa no evento para quem o reconhecesse. Levou até um susto quando o abordei pelo nome. O sujeito é uma lenda do vinho natural.

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Falarei nessa primeira parte da postagem sobre os produtores brasileiros e na segunda sobre os franceses.

Eduardo Zenker- Arte da Vinha

Lizete Vicari- Dominio Vicari

Luís Henrique Zanini- Era dos Ventos

Marco Danielle- Tormentas

Marina Santos- Vinha Unna

Mauricio Ribeiro- Vinhedo Serena

Carlos Abarzua- Cave Geisse

Do Eduardo Zenker achei muito interessante o Pet´Nat que ele apresentou, com residual de açúcar, característico do estilo. Na medida. Ele limpou tanto que o vinho ficou cristalino. Sugeri a ele manter um pouco da borra para que possamos beber dois vinhos em um. Gela-se a garrafa em pé e bebe-se a metade cristalina. Depois se agita a garrafa para misturar as borras e o vinho fica turvo, mudando de cor, aroma e sabor.

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A Lizete Vicari encantou a todos com seu Sangiovese. Pura delicadeza, mais parece um pinot noir natural. Jamais diria se tratar da casta escrita no rótulo. Ela deve estar tendo problemas para atender todos os pedidos. Lizete também estava com o merlot e dois brancos, Ribolla Gialla e S.Blanc, mas foi o Sangiovese que emocionou.

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Era dos Ventos já é velho conhecido, porém, seu lançamento desbancou o carro-chefe Peverella. Um Trebbiano fermentado em cubas de basalto, por isso batizado de Trebbiano on the Rocks. Orange com eletricidade nervosa! Obra da alma do mago Alvaro Escher.

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O Marco Danielle levou dois vinhos do seu portfolio. O Barbera 2012 (zero So2 adicionado) e o Pinot Noir Piratini 2013 (fermentação semi-carbônica). O primeiro tinha aquela acidez gastronômica característica da casta enquanto o segundo estava menos nervoso, talvez pela diferença da qualidade das safras. Dos quatro pinots lançados por ele na última leva esse é o que considero o mais simples, porém, o mais fácil de agradar. Seus vinhos foram bastante elogiados, tanto é que esgotaram e tiveram que pegar o Tormentas Serena da cave do Aprazível para socorrê-lo na feira. Lamentavelmente esse não provei.

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A Marina Santos tem muito cuidado e capricho com a apresentação de seus vinhos. Os rótulos são artísticos, as cápsulas de tecido estampado e os nomes interessantes. Já conhecia os vinhos e me encanto com o Cab.Franc (As Baccantes) e o corte Barbera d´Alba/Cab.Franc. Os lançamentos achei que não estavam prontos para serem mostrados. Foi uma pena ela não ter conseguido trazer ao menos uma garrafa do seu esgotado Hidromel. Iria dar um nó na cabeça dos participantes, principalmente na dos gringos.

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Mauricio Ribeiro (Vinhedo Serena). Vinho oriundo de seu vinhedo biodinâmico em Nova Pádua, dedicado exclusivamente à pinot noir. O vinhedo tem 15 anos de implantação e há 10 ele vinifica, contudo, há apenas 06 meses colocou seus primeiros vinhos no mercado, das safras 2011 e 2012. Os vinhos têm uma tipicidade muito borgonhesa, podendo ser facilmente confundido com exemplares franceses tamanha elegância e semelhança.

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Carlos Abarzua veio representando a Cave Geisse no Rio. Trouxeram apenas um espumante, ainda sem rótulo. Leveduras selecionadas, vinho trivial. Talvez o expositor que menos tinha relação com o tema do encontro (vinhos naturais). Participação prescindível. Não participou da feira em São Paulo.

Todas as impressões são oriundas da percepção do autor e de maneira alguma têm a pretensão de ser um arbítrio definitivo. Vinhos provados em feira normalmente não têm a mesma oportunidade de mostrar todos seus atributos que quando provados em ocasiões mais longas e calmas.

Em breve a segunda parte com os produtores franceses.