
Les Salices P.Noir 2007

O famoso vinho norte-americano Opus One é um vinho bastante conhecido, já postado aqui. O que nunca soube é que a vinícola faz outro vinho, que alguns chamam de segundo do Opus, e outros apenas de Overture, que é o seu nome. Esse vinho, segundo o contra rótulo, só é vendido na própria vinícola (mas é claro que pode ser encontrado em algumas lojas dos EUA). Feito de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot e Malbec, segue nos moldes da marca principal da vinícola. Ele envelhece 18 meses em carvalho americano e passa mais 18 meses em garrafa, antes de ser liberado para venda.
Tive sorte e prazer de conhecer esse vinho. Ele foi ofertado pelo amigo Edgard Calfat que é um grande amante e conhecedor de vinhos. Participou ainda dessa descoberta o André Deco (Enodeco). O vinho foi colocado em decanter enquanto tomávamos um pinot do Domaine Aubert de Villaine (Côte de Chalonnaise La Fortune). Quando chegou a hora de ser provado, estava muito equilibrado, com aromas de passas, ameixa e couro. Na boca era um vinho de bastante extração e bem mais corpo que o primeiro, no estilo Bordeaux. A safra do vinho é uma incógnita, ele é classificado como NV (No Vintage-sem safra), pois é uma mistura de safras. No contra rótulo diz: “Overture é produzido em pequenas quantidades e é tradicionalmente vendido apenas em Opus One”, mas como já disse, pode ser encontrado em lojas especializadas.
Vinhos ícones portugueses, um do Douro e outro do Alentejo foram degustados juntos. O primeiro vinho foi o Herdade do Mouchão Tonel n. 3-4 safra 2005. Feito pelo enólogo Paulo Laureano, utiliza as castas Alicante Bouschet e Trincadeira. As uvas são vinificadas em lagares com pisa a pé e controle de temperatura. Todos os anos Laureano coloca os melhores lotes de vinhos nos tonéis de números 3 e 4, se evoluírem bem, é engarrafado como tonel 3-4, caso contrário, os vinhos desses tonéis são misturados com os dos outros e é engarrafado como Mouchão normal. O vinho passa 24 meses em carvalho, esse 2005 foi servido um pouco gelado, fazendo com que demorasse a se mostrar aromaticamente. Atingindo a temperatura ideal, mostrou ameixa e baunilha com bela acidez e um equilíbrio incrível, aonde os 15% de álcool não puderam ser notados. Um belo vinho que ainda está na infância.
O vinho seguinte foi o Barca Velha 2000 (Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinto Cão), essa é a safra mais recente desse vinho, que teve sua primeira safra em 1952, e de lá para cá, houve apenas 16. Só isso já mostra a seriedade do produtor. O produtor aconselha que se deixe esse vinho na posição vertical, 24 horas antes de abri-lo. Além disso, aconselha que o abra de 2 a 3 horas antes de degustá-lo. Como quem detinha a garrafa era o colega Petrus (O REI DO ATRASO), a garrafa só chegou à mesa quando todos já o esperavam. A mesma veio chacoalhando no carro e logicamente não foi aberta com a antecedência recomendada. Mesmo com tudo isso o vinho estava ótimo, apenas a cor estava turva, devido a não ter ficado em pé e ter vindo balançando, levando as borras a se misturarem ao líquido. Aromas de couro, cedro e chocolate, com acidez, elegância e final prolongado. Um dos melhores vinhos portugueses que já tomei. Fiquei imaginando como estaria esse vinho se as recomendações do produtor tivessem sido seguidas.
Vinho branco da Toscana, feito com Trebbiano e Chardonnay. Sofre maceração por 24 horas e tem teor alcoolico de 13,5%. Cor tendendo ao mel e aroma de limão, com ótima acidez. Um vinho bastante refrescante e com preço acessível. R$ 40,00 na Santa Ceia Vinhos (19- 3836 2202)
O primeiro Icewine brasileiro teve, sem sombra de dúvidas, a mais arrojada campanha de marketing de lançamento de um vinho no Brasil. Muito se falou, divulgou, esperou e enfim o vinho foi lançado. A grande maioria dos blogs anunciou esse lançamento. A própria vinícola vinha alardeando nos meios de comunicação desde abril. Não vou ficar repetindo aquilo que o produtor já cansou de propagar: Uvas colhidas a 1.300 metros, a -7,5 graus… Vamos ao que interessa. Afinal o vinho é bom ou não?
Tive a oportunidade de tomar o vinho e, em MINHA opinião, não agradou. O vinho é feito de cabernet sauvignon e tem aromas até interessantes de goiaba e xarope de farmácia. Porém na boca ele se mostra com uma doçura enjoativa, faltando acidez para contrabalancear, e fazer com que você fique com vontade de tomar o próximo gole. Ele também termina com um amargor exagerado.
Sou fã de carteirinha da Pericó, devido a seu espumante brut rosé e o Taipá, porém seu icewine não me encantou. Até achei que fosse adorar esse vinho, visto que tenho tomado alguns icewines canadenses e me surpreendido. A vinícola fez tudo certo, criou expectativa na demanda, lançou o produto em um kit maravilhoso, dentro de uma belíssima caixa, garrafa importada da Itália… Mas o conteúdo não me agradou. Nem coloco em discussão o preço, a raridade, o pioneirismo, a dúvida se haverá outra safra, o ineditismo. Sou fã de vários vinhos brasileiros (inclusive os citados da Pericó), mas o patriotismo vinícola não me encanta. Acho que o experimento foi válido e que, talvez havendo outras safras ele possa melhorar.
Boony Doon é a vinícola californiana de Randall Graham (veja a entrevista dele aqui, parte 1 e parte 2) que produz vinhos biodinâmicos em Santa Cruz. Fugindo dos padrões californianos, que produzem principalmente cabernet sauvignon e pinot noir, Graham faz alguns vinhos ao estilo Rhone. Sempre com o bom humor incorporado ao marketing, seus dois principais vinhos se chamam: Le Cigarre Blanc e Le Cigarre Volant. Esses nomes fazem referência a discos voadores como explica o contra-rótulo: Em 1954 no auge do assunto OVNIs, os viticultores de Chateauneuf du Pape aprovaram um decreto municipal que proibia discos voadores (Cigares Volants) pousarem em seus vinhedos.
Randall Graham diz não ler a crítica de vinhos por achar que as degustações são feitas de maneira muito imprecisa. “Não é possível entender um vinho degustando-o por apenas um segundo. Isso é apenas um retrato do momento”. Tomei seus dois principais vinhos e minhas impressões foram as seguintes:
Le Cigare Blanc 2004 – Roussane 73% e Grenache Blanc 23%. É um vinho denso, encorpado e cor bem amarelada, mostrando certa evolução. Bastante mineral e com boa acidez, me lembrou muito o chateuaneuf branco La Bernardini do M.Chapoutier, com muitas frutas tropicais no nariz. Excelente para quem gosta de brancos encorpados como eu.
Le Cigare Volant 2002 – Syrah (34%), Mouvédere (36%), Grenache (22%), Cinsault (7%) e Counoise (1%). Esse é um exemplar já com bastante evolução. Sua cor já mostra uma borda alaranjada e seus taninos bem resolvidos. No nariz muita especiaria, pimenta e ameixa. Para quem gosta de vinho evoluído é um prato cheio. Tanto esse vinho como o anterior, usam vedantes de rosca, o que demonstra a qualidade desse tipo de vedação. Na Vinci Vinhos, que é representada em Brasília pela Bordeaux Casa e Vinho (3248 7311)
* Schietto Syrah Spadafora 2003 – Vinhaço! Um “syrah” com alma italiana feito por um dos maiores vinhateiros da Itália. A safra ainda pedia anos para abertura mas já está boa agora, depois de 1,5 horas de decantação. Taninos sobressaem-se mas não totalmente adstringente na boca. Aromas de couro, estábulo, frutas pretas. Na boca vivacidade plena, em corpo médio e excepcional acidez. Um fenomenal sucesso de equilíbrio e harmonia di Spadafora. Vinho de sabor, de pensamento, de total prazer! Nota: 93 pts.
Estes dois vinhos da Fontanafredda são importados pela Bruck, do sul do País. PARABÉNS ao Mário e sua família pela recepção e pelo delicioso jantar, e pela surpreendente alcachofra servida de entrada.
Um dos melhores momentos desse ano, foi sem dúvida, o Decanter Wine Show organizado pela importadora Decanter. O evento teve lotação máxima nas quatro capitais por onde passou, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. Em todos os lugares houve lista de espera. Em São Paulo foram dois dias seguidos e não deu para quem quis. Abaixo divulgo a foto que me foi enviada pelo carioca Roberto Cheferrino, em que aparecem, da esquerda para direita: Guilherme Correa (Sommelier da Decanter), Renato Machado, Ed Motta, Adolar Hermann (Proprietário da Decanter, mais ao fundo) e eu. Todos no estande do vinho italiano Pieropan (Veneto).
Aproveito para deixar um testemunho que não é só meu. Como diz meu amigo Pedro Mascarenhas, apesar da culinária de Piri estar crescendo a olhos vistos, não se justifica os altos preços praticados desde o último ano. Fica aqui um alerta aos administradores do turismo daquela cidade. Vamos “pegar leve, galera”.